Pular para o conteúdo principal

Max Scheler: o homem é mais do que um animal racional

 A Visão do Homem em Max Scheler


Max Scheler (1874-1928) foi um filósofo alemão ligado à fenomenologia e à antropologia filosófica. Ele desenvolveu uma visão do homem como um ser espiritual e emocional, superando tanto a visão racionalista cartesiana quanto a visão biologicista darwinista.

📌 Ideia central: O homem não pode ser reduzido a um simples animal racional ou a um ser puramente biológico – ele é um ser espiritual que transcende a natureza, mas ainda faz parte dela.


1. O Homem Como Ser Espiritual e Pessoal

✔️ O homem não é apenas um ser racional (como em Descartes) ou um ser biológico evoluído (como em Darwin), mas um ser espiritual.

✔️ Ele possui uma dimensão emocional e afetiva fundamental, que é até mais importante do que a razão.

✔️ O homem é um ser de valores, capaz de perceber e hierarquizar valores que não são meras projeções subjetivas.

💡 Conclusão: O que define o homem não é apenas a razão, mas sua capacidade de captar valores e se orientar por eles.


2. Diferença Entre o Homem e os Animais

📌 Scheler propõe uma distinção entre homem e animal baseada na relação com o mundo:

🔹 Os animais são regidos pelo impulso vital (Drang) → agem por instinto e têm uma relação limitada com o mundo.

🔹 O homem, por outro lado, possui espírito (Geist) → ele se distancia da natureza, reflete e dá sentido à existência.

✔️ O espírito rompe a adaptação imediata ao mundo, permitindo ao homem criar cultura, religião, arte e ciência.

✔️ O homem não está “preso” ao mundo natural como os animais – ele pode questioná-lo, transformá-lo e transcender suas condições naturais.

📌 Conclusão: O homem é um ser aberto ao mundo (Weltoffenheit), enquanto os animais estão limitados ao seu ambiente imediato.


3. A Hierarquia dos Valores e a Estrutura do Homem

Scheler propõe uma hierarquia dos valores, que define a forma como o homem se relaciona com a realidade:

1️⃣ Valores Sensíveis → Prazer e dor (exemplo: conforto físico).

2️⃣ Valores Vitais → Saúde, força, instinto de sobrevivência.

3️⃣ Valores Espirituais → Beleza, justiça, verdade, conhecimento.

4️⃣ Valores Religiosos → O sagrado, a relação com Deus.

✔️ Os animais vivem nos dois primeiros níveis (sensível e vital).

✔️ O homem transcende esses níveis e pode atingir os valores espirituais e religiosos.

✔️ A verdadeira dignidade humana está na abertura para os valores mais elevados.

📌 Conclusão: O homem não é apenas um ser biológico – ele é um ser de valores, capaz de intuição moral e espiritual.


4. O Homem Como Ser Que Ama

Scheler dá grande importância ao amor como força fundamental do ser humano:

✔️ O amor não é apenas um sentimento subjetivo, mas uma força que nos faz perceber e elevar valores.

✔️ Ele é o que permite ao homem transcender a si mesmo e se abrir para o outro e para o divino.

✔️ O amor não cria valores, mas nos faz reconhecê-los e nos impulsiona a vivê-los.

📌 Conclusão: O ser humano não é apenas um ser racional, mas um ser que ama – e é no amor que ele encontra sua plenitude.


5. Conclusão: O Homem Como Ser Espiritual, Aberto ao Mundo e aos Valores

🎯 Para Max Scheler, o homem não pode ser reduzido nem ao racionalismo nem ao biologicismo. Ele é um ser espiritual, aberto ao mundo, que vive segundo valores e se realiza pelo amor.

✔️ O que diferencia o homem dos animais não é apenas a razão, mas sua capacidade de captar e viver valores.

✔️ O espírito humano permite transcender o instinto e criar cultura, arte, ciência e religião.

✔️ O amor é a essência mais profunda do ser humano, pois nos liga aos valores mais elevados e à transcendência.

💡 Assim, a antropologia filosófica de Scheler propõe um novo conceito de homem – não como um “animal racional”, mas como um ser que, através do espírito e do amor, se abre para o infinito.

Comentários

  1. Rico o conteúdo com inspirações.

    ResponderExcluir
  2. https://youtu.be/kMhaOI1ytx8?si=IZlvncHbaFYd9PZR através dessa live fiz a minha busca sobre Scheller.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

O Ocidente e o divino

O Ocidente racionalista, empirista e cientificista tem enormes dificuldades, às vezes intransponíveis, de acreditar que Jesus de Nazaré possa ser Deus. Mas esse Ocidente é só uma perspectiva.   Se olhamos para o hinduísmo da Escola Advaita-Vedanta , por exemplo, não há a mínima dificuldade de reconhecer que Jesus possa ser Deus. Muito ao contrário, haveria dificuldades sérias se Jesus não pudesse ser Deus. É que para esse hinduísmo, a substância de todas as coisas é Deus. Rigorosamente falando, só Deus existe, e o mundo fenomênico não passa de uma superposição de Deus. Deus é o Ser que subjaz informe sob o véu das diversas formas finitas — passageiras e ilusórias — dos entes mundanos. É o Um permanente que está sob a multiplicidade fenomênica e fugaz dos muitos . Pelo atman (alma, centelha divina), emerge no homem a consciência de ser Deus ( Brahman ), de tal modo que a afirmação do Jesus joanino valeria para todo homem iluminado: “Eu e o Pai somos um”. Nesse sentido, Jesus seria...

O homem, o pecado e a redenção

  1. O homem: criado à imagem de Deus 1.1. A Dignidade da Pessoa Humana O ser humano ocupa um lugar absolutamente singular na criação. Ele foi criado “à imagem de Deus” (Gn 1,27), o que indica não apenas uma semelhança exterior, mas uma profundidade de ser: o homem é capaz de conhecer e amar livremente. Nenhuma outra criatura visível possui essa dignidade. Ele é dotado de razão e liberdade, sendo chamado a participar da vida de Deus. Esse chamado constitui a raiz de sua dignidade inalienável. “Foi por amor que a criastes, foi por amor que lhe destes um ser capaz de apreciar o vosso bem eterno” (Catecismo da Igreja Católica 356) [1] . Contudo, com o desenvolvimento das ciências da natureza (a partir do século XVII) e das ciências do homem (a partir do século XVIII), muitos estudiosos passaram a considerar impossível a formulação de uma ideia unitária do homem. O saber fragmentou-se em disciplinas como a biologia, a sociologia, a antropologia cultural, a psicologia etc., tornando dif...

Física e metafísica. Päs e Tomás de Aquino

Heinrich Päs, físico teórico alemão, propõe uma reinterpretação radical da realidade à luz da física quântica contemporânea. Seu ponto de partida é a constatação de que, quando a mecânica quântica é aplicada não apenas a sistemas particulares, mas ao universo como um todo, ela conduz a uma concepção de realidade que coincide com uma das ideias filosóficas mais antigas da humanidade: tudo é um. Essa tese, tradicionalmente chamada de monismo, é retomada por Päs não como um misticismo ou uma crença espiritual, mas como uma hipótese cientificamente sustentada pela física de ponta, sobretudo pela cosmologia quântica e pela teoria do entrelaçamento. A realidade, segundo essa concepção, não é composta por partes isoladas que interagem entre si, mas por uma totalidade indivisa. A multiplicidade que percebemos no mundo – os objetos, os corpos, os eventos, o tempo e o espaço – é uma aparência derivada. O fundamento último de tudo o que existe não está nos átomos, nas partículas ou nas forças que...