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Mostrando postagens de setembro, 2020

Jesus, os pobres e os pobres pelo espírito

Beati pauperes spiritu, quoniam ipsorum est Regnum coelorum (Mt 5,3). Makárioi hoi ptokói tw pnéumati, hóti autwn estín h basiléia twn ouranwn (Mt 5,3). Bem-aventurados os pobres pelo espírito, porque deles é o Reino dos céus  (Mt 5,3). O Jesus mateano proclama bem-aventurados os pobres pelo espírito ( tw pnéumati ). O Jesus lucano proclama bem-aventurados os pobres sem mais, os lascados, aqueles que o escutavam (cf. Lc 6,20). Qual versão reflete a pregação histórica de Jesus? Os exegetas não têm dúvida de que seja a versão de Lucas. Jesus, que tinha como centro da sua mensagem a vinda do Reino de Deus, lançava uma palavra de esperança para aqueles que não podiam esperar nada do mundo. O Reino haveria de colocar ordem onde o pecado dos homens só causara desordens.  Mas então Mateus espiritualizou a mensagem de Jesus ao acrescentar tw pnéumati ? Ter-se-ia afastado da concretude dos desesperados a quem Jesus se dirigia? Eu diria que não! Mateus, certamente procurou atualizar a mensage

Sobre Nietzsche: há verdade?

A propósito de Nietzsche, uma questão levantada é se ele nega a verdade. Ele estaria representando a segunda posição nesta grande luta: “A verdade existe” X “Não há verdade alguma”?  Se Nietzsche nega a verdade, ele não cairia na contradição de todo negador da verdade? Ele não deveria, para ser consequente, negar a própria negação?  Tudo seria questão de perspectiva? Mas então o próprio perpectivismo não seria meramente uma perspectiva! O ceticismo ou o relativismo puro são insustentáveis. Precisam sempre de apoiar-se em qualquer coisa de sólido.  Há quem defenda, com efeito, que Nietzsche não é um puro negador da verdade ou um puro relativista. O que ele teria negado é a verdade de Platão e do Cristianismo, isto é, a verdade da tradição, que é uma verdade que pretende impor-se ao homem como algo já decidido, a verdade objetiva e imutável. Nietzsche estaria alinhado com o criticismo de Kant, que, com sua “revolução copernicana” na filosofia, estabeleceu que a verdade não existe sem o s