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Mostrando postagens de 2019

O Paraíso

O Paraíso é representado como um belo lugar que acolhe o homem O paraíso descrito de forma imagética no livro do Gênesis é considerado por muitos bons teólogos atuais como uma realidade em potência, isto é, uma realidade que nunca existiu de fato, mas que deveria se instaurar segundo o plano de Deus. Entretanto, o pecado insinuou-se e o paraíso ficou comprometido. O paraíso é feito de paz, harmonia, sabedoria e imortalidade. Se o homem não tivesse pecado — mas ele pecou desde sempre —, ele não teria experimentado a culpa no jardim de sua consciência, não teria perdido a paz, não se teria tornado insensato nem teria sentido a morte como um evento dramático. A morte não seria morte, mas uma travessia tranquila. São João da Cruz diz que a alma, quando ama, não teme a morte. Isso porque a alma enamorada de Deus vê a morte como uma passagem para os braços do Amado. O amor do Bem é a essência da sabedoria. O homem distanciou-se da sabedoria por causa do pecado, que é o desprezo do Bem.

A filosofia anticristã (e antiplatônica) de Nietzsche

Toda a filosofia de Nietzsche parte de uma intuição que lhe era cara — a finitude e a tragicidade da existência — e de seus desdobramentos, que levam em conta a capacidade do homem de autoafirmar-se. Trata-se de uma filosofia que, por assumir a originalidade do caos e da irracionalidade, está nas antípodas do cristianismo, que afirma a prioridade do Lógos ou da Razão. Vejamos alguns pontos caros a Nietzsche: a) O mundo humano é finito e trágico: a tragicidade não seria algo sobrevindo a um mundo originariamente perfeito, como na doutrina cristã do pecado original, mas pertenceria à própria constituição do mundo; isso Nietzsche aprendeu com Schopenhauer, que via na vontade universal, cega e irracional, a essência do mundo . b) Não há salvação que possa vir de fora ; nem de uma razão que agiria sobre os instintos e as regiões obscuras do homem, como quer a modernidade iluminista; nem de um salvador extramundano que nos concederia a sua graça, como quer o cristianismo. Tudo o que e

Ateísmo moderno

ATEÍSMO MODERNO  É comum, na historiografia em geral, apontar o ateísmo moderno como o êxito natural do desenvolvimento da humanidade ou como o fruto desejável da passagem da infância à maturidade do homem. Hans Blumenberg viu na reivindicação de autonomia e na afirmação de si por parte do homem o grande distintivo da modernidade, o que teria levado naturalmente à marginalização de Deus e da religião.  No entanto, o ateísmo moderno, a meu ver, é coisa mais complexa. Ele não é somente uma afirmação, mas também uma reação. Ele é, em grande parte, fruto das guerras de religião que encheram de sangue a Europa na segunda metade do século XVI (com prolongamentos no século XVII). O próprio cogito  cartesiano é, em boa medida, uma reação aos libertinos do século XVII, que, por sua vez, eram também uma reação cética aos conflitos religiosos da Europa.  A fé tinha sido elemento de unidade no Império cristão. Entretanto, a partir da Reforma protestante, a Europa se dividiu do ponto

O domínio da técnica e o anseio de transcendência

Heidegger vê o domínio da técnica em nosso tempo como fruto maduro de algo que já estava presente na filosofia grega a partir de Platão. A partir de Descartes, segundo Heidegger, houve uma intensificação do que já existia, isto é, a pretensão de dominar as coisas pela sua representação na mente. Para o pensador da Floresta Negra, o aparato técnico só se impôs porque o homem esqueceu-se do Ser. O Ser não é o ente que cai na representação, mas lhe é anterior e lhe dá a condição de possibilidade de ser o que é. A representação do ente e o conceito de verdade como correção ou adequação  teriam afastado para longe o Ser e, em consequência, aberto o caminho da dominação técnica ou da manipulação extrema dos entes.  O humanismo da metafísica ocidental estaria baseado nessa capacidade de o homem representar o ente. Nesse sentido, na medida em que o homem superar o humanismo é que ele poderá ser o pastor do Ser . O humanismo, para Heidegger, coloca o homem no centro, o homem com a representaç

A missa é o maior poema

Celebrando a Missa, ocorreram-me alguns pensamentos. Vi e senti que a essência da Missa não está, de maneira alguma, na utilidade que ela possa ter. A Missa pode ensinar, mas ela não existe primeiramente para ensinar. Se quiséssemos ensinar, poderíamos marcar uma reunião ou promover um curso. Seria mais eficaz. A Missa também não existe, em primeiro lugar, para promover a comunidade. Ela pode e deve fazê-lo, mas isso não é ainda a essência mesma da Missa. Se quiséssemos simplesmente promover a comunidade, poderíamos nos valer de outros expedientes. Poderíamos multiplicar as razões de caráter utilitário e atribuí-los à Missa. Missa “para” isto ou aquilo. Mas, assim fazendo, não encontraríamos a Missa. A sua essência está em algo grande, que não pode ser simplesmente útil ou simplesmente “para”. A Missa é fim em si mesma. Nela contemplamos o mistério da autoentrega de Jesus. Ali vemos a caridade perfeita. Somos arrebatados pela presença mesma do “Amor que move o Sol e as outras

Natal, celebração de um evento

Dezembro, que se aproxima, é o mês do Natal, quando os cristãos celebramos um grande acontecimento: a encarnação do Filho de Deus. A história é feita de processos e de eventos. Os processos são relativamente longos, feitos de continuidade e de gradualidade. Já os eventos são curtos espaços de tempo em que ocorre uma ruptura, e dá-se a irrupção de uma novidade. Tomemos, como analogia, a reprodução humana. A fertilização de um gameta feminino por um gameta masculino é um evento. Algo novo — uma vida nova — inicia-se em um curtíssimo espaço de tempo. Já o desenvolvimento da nova vida surgida pelo evento da fertilização é um processo, pois que se faz em um tempo maior e por mudanças graduais. Na história tivemos vários eventos e processos. É indubitável que o nascimento de Jesus, há mais de dois mil anos, foi um evento. Aos olhos do historiador, em Jesus teve início um novo ciclo cultural, que irrompeu com força pelo movimento suscitato pelo Mestre de Nazaré no solo da religião de Is

Amor de salvação

Sabemos pela fé que somos importantes aos olhos de Deus. A razão, dentro de seus limites, consegue mostrar que somos criados pelo Ser subsistente. No entanto, à primeira vista e em nível meramente fenomenológico, nem sempre conseguimos ver que somos importantes, a não ser para nossos familiares e amigos mais íntimos. Na vida social podemos ser substituídos facilmente por outros. A engrenagem da sociedade e da história continuará a funcionar sem nossa presença. Tudo se passa como se fôssemos totalmente supérfluos e insignificantes. Sem a luz da fé e da razão metafísica, até mesmo a história e o universo inteiro parecem não ter sentido algum. Tudo parece caminhar para o vazio e nele se resolver. Tudo isso impressionou sobremaneira o autor do livro bíblico do Eclesiastes, que clamava: “ Vanitas vanitatum, dixit Ecclesiastes, vanitas vanitatum et omnia vanitas ” - "Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes, vaidade das vaidades, tudo é vaidade!” ( Eclesiastes 1,2). Heidegger, fil

Concílio Vaticano II - Parte I

João XXIII quis um novo concílio  O Concílio Vaticano II representou o maior evento da Igreja católica no século XX e talvez o maior evento desde o Concílio de Trento. O Concílio Vaticano I havia sido interrompido abruptamente pela guerra franco-prussiana em 1870 e não pôde tratar da relação do colégio dos bispos com o Sucessor de Pedro, cuja infalibilidade em matéria de fé e moral (respeitadas certas condições) e jurisdição universal sobre a Igreja acabara de proclamar como verdades reveladas. Por isso, desde então esteve presente a possibilidade de uma sua reconvocação, já que ficara inconcluso e apresentara uma eclesiologia incompleta. Entretanto, João XXIII não quis reconvocar o Concílio Vaticano I, mas convocar um novo Concílio, que desse tonalidade pastoral a seus documentos e abrisse um clima de diálogo com a modernidade. As mudanças culturais tinham sido tantas nos últimos séculos que a Igreja se assustara e como que se trancara numa num palácio fortificado, longe do m

Último lugar

É fácil compreender porque Jesus pediu que se evitasse cobiçar os primeiros lugares e que ninguém os ocupasse sem o convite do dono da festa (cf. Lc 14). A cobiça por cargos no mundo — e até mesmo na Igreja — é a causa principal de desavenças, conluios, puxa-saquismo, fofocas, injustiças e tudo o mais que não presta. A disputa pelos primeiros lugares sempre causa divisão e feridas. Por outro lado, ninguém vai causar nada de mal se buscar o último lugar. O último lugar não é disputado. O discípulo de Jesus o escolherá por amor e por entender que há um modo alternativo de convivência. O cristão é chamado a viver de modo diferente, e, nessa diferença, construir a paz em meio a um mundo que promove a divisão. Só se for chamado por alguém superior ou pelo povo é que o discípulo aceitará um lugar de destaque. Mas tal aceitação se fará por espírito de serviço, não por ambição. Deve-se também parar de elogiar os que ocupam cargos de destaque só porque ocupam esses cargos. Esses elog

Sabedoria e piedade

Enquanto tomo um café, escrevo: Agostinho, logo quando da sua conversão à fé católica em 386 d.C., retira-se com amigos em um sítio de Cassicíaco, que lhe fora cedido pelo amigo Verecúndio, nas proximidades de Milão. Aí escreve diálogos filosóficos. A filosofia, para Agostinho, é instrumento de união com a divindade. A influência do neoplatonismo se faz sentir. A inteligência fulgurante do recém-convertido deseja como nunca a Deus e acredita poder possuí-lo já nesta vida. Procura a Deus na sabedoria ( sapientia ). Mais tarde se dará conta de que a divindade é inapreensível nesta vida e a piedade ( pietas ) é mais profícua do que a sabedoria filosófica para a união com Deus, piedade que se mostra na contemplação do mistério da encarnação e da cruz, “lugares” onde Deus mesmo se humilhou, confundindo a inteligência dos sábios. Com o passar do tempo, o que era próprio do cristianismo se acentua cada vez mais na espiritualidade de Agostinho; na mesma medida, a influência do neoplatonismo

Eucaristia: sacrifício da Igreja?

Elílio de Faria Matos Júnior Como a Eucaristia pode ser entendida como sacrifício da Igreja? Evidentemente, por si só a Igreja não tem nada de valioso a oferecer a Deus. Por si só, pois, a Igreja não pode oferecer a Deus um sacrifício agradável. O sacrifício perfeito, agradável a Deus, que, inclusive, substituiu todos os sacrifícios antigos, levando-os à perfeição, é o sacrifício de Cristo. E o sacrifício de Cristo consistiu na sua autoentrega contínua, que alcançou seu ápice na autoentrega da Cruz. O sacrifício de Cristo foi um sacrifício existencial, de oferecimento da própria vida à vontade do Pai. Jesus, entretanto, deixou um sinal sacramental do seu sacrifício único e perfeito. Na sua última ceia com os discípulos, quando estava para ser entregue, ele tomou o pão e o último cálice e disse que eram o seu corpo doado e o seu sangue derramado. A Igreja guardou no coração os gestos dessa última ceia e entendeu que devia repeti-los para fazer memória ( anamnese ) de Jesu

Sobre os sacramentos - Mystérion, mystéria, sacramentum, sacramenta

Pontos histórico-teológicos importantes  Mystérion, mystéria, sacramentum, sacramenta  - O termo sacramento vem do latim sacramentum , que, por sua vez, é a tradução do grego mystérion . Mystéria é o plural de mystérion , assim como sacramenta é o plural de sacramentum .    - No uso pagão, mystérion é usado para referir-se a ensinamentos filosóficos que elevam o iniciado à suprema realidade ou a práticas cultuais ou representações sagradas que colocam o iniciado no âmbito da divindade (por exemplo, no culto de Ísis, Mitra ou Osiris). A raíz grega do vocábulo mysterion é myein , que significa fechar a boca, calar-se .  --Veja-se que em Elêusis, cidade da Grécia antiga, celebrava-se o culto de Deméter. Coré (grão de trigo), raptada por Plutão, desce ao mundo inferior (semeadura), e sua mãe Deméter, desesperada, corre à procura da filha destruindo tudo por onde passa (inverno). O deus Hélio (sol) sai ao encontro de Deméter para ajudá-la (primavera) e Coré volta

Três papas diversos, uma só fé

Elílio de Faria Matos Júnior Fui criado sob o pontificado de S. João Paulo II. Vejo hoje que fui muito influenciado por ele, conservador “ad intra” e progressista “ad extra”. Sua preocupação maior era salvaguardar a tradição moral - sexual e bioética - da Igreja diante de um mundo que se sentia atraído por novas liberdades. Lutou também contra tendências que considerava destrutivas na Igreja, como uma certa interpretação do Vaticano II e uma certa reinterpretação da fé por novas teologias. Publicou o que se pode chamar de “Magna Charta” sobre o amor que a Igreja nutre pela razão como colaboradora da fé - a encíclica “Fides et Ratio”. A “teologia do corpo” foi cultivada e incentivada por ele. No seu último livro de memórias, ele que vivera o horror do Nazismo e do Comunismo, chamou a atenção para a filosofia de S. Tomás como aquela que nos dá a luz para saber distinguir o bem do mal. No campo social, João Paulo II não deixou de conclamar os governos à justiça, pois a paz depende dela.

Que é analogia?

Elílio de Faria Matos Júnior Tomás de Aquino não elaborou uma doutrina sistemática da analogia, embora esta esteja no centro da sua metafísica. Sabe-se que o termo análogo realiza-se em realidades diversas por essência de uma maneira semelhante e dissemelhante ao mesmo tempo, isto é, o terno análogo se predica de realidades essencialmente diferentes, mas que guardam certa semelhança ou afinidade entre si. Segundo bons tomistas, podemos tirar dos escritos em que o Santo Doutor fala da analogia — e são muitos — a seguinte enumeração dos tipos de analogia (considere-se que a noção mesma de analogia é analógica): 1) Analogia de atribuição , em que há o ‘analogatum princeps’ (o primeiro analogado). A noção análoga em questão realiza-se principal ou perfeitamente só no ‘analogatum princeps’; nas demais essências ou nos demais analogados, a noção se predica imperfeitamente. A analogia de atribuição divide-se em analogia de atribuição intrínseca e analogia de atribuição extrínseca. a)

Arqueologia bíblica

Elílio de Faria Matos Júnior Estudos de arqueologia bíblica mais recentes mostram: - Não terá havido um êxodo do Egito de 600 mil homens hebreus com suas famílias - um total de 2 milhões de pessoas. Um número tão elevado de pessoas não se conteria no deserto do Sinai e sua saída causaria uma verdadeira convulsão social no Egito. Ademais, não consta nenhum registro histórico de uma fuga assim. Ainda: o êxodo, se tivesse acontecido, ter-se-ia dado no século XII/XIII a.C.; mas os relatos só foram colocados por escrito bem mais tarde, no séc. IV/V a.C. Deve-se observar ainda que há várias tradições que se amalgamaram na redação final do texto bíblico: sobre o travessia das águas, por exemplo, há um relato que fala da abertura miraculosa do Mar Vermelho e outra que fala de uma travessia menos portentosa, favorecida pelo vento, no Mar dos Juncos. - A conquista violenta da terra de Canaã com a destruição de cidades seria uma lenda sem fundamento histórico. Por ocasião da presunta chega

De re biblica

Elílio de Faria Matos Júnior Uma das mudanças mais impactantes que o cristianismo católico sofreu no século XX esteve relacionada à aceitação de uma nova maneira de ler e interpretar a Bíblia. Essa mudança do não foi mais evidente porque não chegou ao povo em geral, restringindo-se a especialistas e a quem se tem mostrado mais curioso ou investigativo. O documento que assinala a novidade é a encíclica de Pio XII — Divino Afflante Spiritu , de 1943. Os protestantes liberais, desde o século XVIII, já haviam tomado a Bíblia como um texto antigo aplicando-lhe o instrumental “profano” de análise que era usado para textos antigos similares. Aliás, já Espinosa, no século XVII, voltara sua atenção para o que poderíamos chamar de “aspecto humano” da Bíblia. A Igreja católica, por causa da veneranda doutrina da inspiração e infalibilidade da Bíblia, mostrou-se receosa em relação aos novos modos de abordagem dos textos sagrados. A Bíblia não é Palavra de Deus? Como então aplicar à Palav

Santo Tomás de Aquino, um mestre a quem aprendi a amar

Elílio de Faria Matos Júnior Aprendi a amar Santo Tomás de Aquino, filósofo e teólogo. O que me chama a atenção nele é o seu modo de escrever e transmitir o pensamento. Tomás não tem nada da melosidade de certos pregadores, nem mesmo se vale de frases de impacto psicológico. A melosidade pode falar ao coração, mas não necessariamente à inteligência. As frases de impacto podem suscitar a adesão momentânea, mas nem sempre trazem o selo da verdade. Tomás quer falar sobretudo à inteligência, e também ao coração na medida em que ele se deixa tocar pela verdade. Por isso, o estilo de Tomás é desprovido de qualquer recurso sentimentalista ou retórico. Suas palavras são como pedras duras, sem nenhum enfeite, mas pedras que querem construir uma grande escada rumo ao reino da verdade. Cada palavra, cada frase, cada raciocínio são como meios pelos quais somos transportados à alegria que brota da inteligência. Assim, Tomás deve ser estudado com paciência. Sua palavra não é como um espetáculo p

Metafísica e seu "subjectum"

Elílio de Faria Matos Júnior A metafísica tem como subjectum ou tema de estudo o ser enquanto ser . Mas o que significa a expressão ser enquanto ser? Ser significa aquilo que é. Ser enquanto ser significa exatamente aquilo que é, numa perspectiva de totalidade. Só a metafísica estuda o ser em perspectiva de totalidade, isto é, o ser sem restrição alguma. Senão vejamos: todas as ciências, afora a metafísica, sempre estudam o ser segundo alguma restrição, nunca o ser sem restrição alguma. Um grande exemplo que se pode tomar é a física moderna: ela estuda o ser, mas se restringe ao aspecto móvel, experimentável e mensurável do ser, isto é, o ser natural. E se existir um âmbito do ser que não pertença àquilo que é móvel, experimentável e mensurável? Um âmbito do ser que não entre na categoria de ser natural? A física como tal jamais poderá responder se existe este âmbito de ser ou se tudo o que existe se restringe ao natural, que é móvel, experimentável e mensurável. O principio meto

O homem acompanhado ou o homem só?

Elílio de Faria Matos Júnior Trava-se na atualidade uma grande luta que diz respeito a autocompreensão do homem. Qual o sentido da vida? Quais os valores que se devem abraçar? Pode-se alcançar a verdade? O que posso esperar? A semelhança dessas perguntas com as que Immanuel Kant já colocara no século XVIII não é mera coincidência. Com efeito, estamos diante de questões, por assim dizer, “eternas”. São as grandes questões fundamentais que acompanham o homem, em todo tempo e espaço, desde o despertar de sua consciência. A luta que atualmente se trava em torno dessas questões nos arremete para o plano do real ou da constituição da realidade. O que é verdadeiramente real? Qual a estrutura básica da realidade? Em suma, o que é a realidade? Quer queiramos ou não, é a estrutura da realidade que define, objetiva e fundamentalmente, a verdade sobre nós mesmos. Uma vez que fazemos parte do Ser, o sentido da nossa vida só pode ser revelado a partir do Ser. Já os filósofos gregos se deba

Quem é Deus?

Muitos não acreditam em Deus porque o imaginam como um ente entre os entes do Universo, o ente mais sábio e poderoso. Há até quem o imagine como um ancião barbado. Nem eu acredito num “deus” assim. Deus não é um ente, ainda que o maior de todos. Ele é o Ser, que possibilita a existência de todo ente. Deus não tem uma palavra entre as muitas palavras do Universo. Ele é a Palavra que possibilita a existência e o sentido de toda palavra. Deus está muito mais entre nós do que ao nosso lado, como se fosse um outro só um pouco mais alto do que nós. Embora nos transcenda infinitamente, Ele, na verdade, nos abarca a todos e, em virtude disso, nós mesmos somos (existimos) e nos comunicamos com inteligência. Deus não é o totalmente diverso de nós, ou o “totalmente Outro”, como certa teologia dialética o nomeou. Ele é infinitamente diverso, mas é também o mais próximo, pois que Deus é o Uno que possibilita a existência de nossa multiplicidade, e isso com alguma semelhança de si. Disse S. Paul