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Mostrando postagens de fevereiro, 2022

Católicos devem deixar-se iluminar pela Doutrina Social da Igreja

A Doutrina Social da Igreja (DSI) oferece princípios para o entendimento , critérios para a formação do juízo e diretrizes para a ação no campo social e político, já que pertence ao humanismo cristão e à própria fé procurar construir um mundo mais respeitoso dos valores da justiça, da liberdade, da participação, do bem comum e da alta dignidade da pessoa.   Como a realidade social é mutável e admite um leque mais ou menos amplo de soluções, o parâmetro da DSI admite aquela flexibilidade que caiba dentro do quadro geral dos seus princípios e grandes critérios. Por isso, um católico pode encontrar solução, dependendo da situação concreta, mais à esquerda ou mais à direita do espectro da realidade político-social em que vive. E nem todos os católicos precisam encontrar a mesma solução concreta, embora devam todos observar os mesmos princípios e levar em conta os critérios gerais e as grandes diretrizes.   A solução concreta das questões sociais depende muito de uma análise feita com a aj

Origens do carnaval

As origens das festas carnavalescas lançam raízes em tradições pré-cristãs. Nos tempos cristãos, o carnaval acontece nos dias imediatamente anteriores à Quarta-feira de Cinzas, início do tempo penitencial da Quaresma.  Entre gregos e romanos havia desfiles ou procissões em honra do deus Dionísio ou Baco com fantasias e alegorias. Esta festa em Roma chamava-se Bacanal.  Havia ainda entre os romanos diversas festas, em dezembro, janeiro e fevereiro, para celebrar o deus Saturno, o solstício de inverno, o início do ano ou da primavera. Assim, tinha-se a Saturnália , o Dies Natalis Solis Invicti , a Lupercália . Esta última era realizada em fevereiro e era um festival de purificação da cidade de Roma para o início do novo ano, que começava em março. Nela celebrava-se também a fertilidade, que a aproximação da primavera anunciava. As festas em geral davam lugar para as licenciosidades do povo, em que a ordem social como que deixava de existir por alguns dias, a ponto de o Senado romano ter

A mística: deixar-se perder na divindade

A mística, que é o fim supremo da vida cristã, não tem nada a ver com aparições, visões, êxtases ou fenômenos extraordinários. Se acontecem essas coisas, trata-se de algo secundário, que não constitui a essência mesma da mística. Esta é um perder-se na divindade, um deixar- se absorver no oceano sem limites do Ser ( pelagus essendi ), que é também Amor ( ignis ardens caritatis ). A mística pode adquirir feições mais intelectuais, mais afetivas ou mais práticas, mas em uma forma ou outra sempre terá a dimensão da visão: é preciso estar consciente da quase fusão com a divindade, vendo com os olhos da alma a sua Beleza; a dimensão do coração: a união com o Absoluto é tão transformante que reordena os afetos da alma, que se concentra tanto na fonte do Amor ( ignis originarius ) que acaba quase não mais sentindo aquela necessidade própria do homem de receber dos outros algum afeto para que possa transmitir afeto; a alma se sente plena e transbordante do afeto divino; e a dimensão do agir: a

O Ocidente e o divino

O Ocidente racionalista, empirista e cientificista tem enormes dificuldades, às vezes intransponíveis, de acreditar que Jesus de Nazaré possa ser Deus. Mas esse Ocidente é só uma perspectiva.   Se olhamos para o hinduísmo em sua escola Advaita-Vedanta, por exemplo, não há a mínima dificuldade de reconhecer que Jesus possa ser Deus. Muito ao contrário, haveria dificuldades sérias se Jesus não pudesse ser Deus. É que para esse hinduísmo, a substância de todas as coisas é Deus. Deus é o ser primordial que subjaz informe sob o véu das diversas formas finitas, passageiras e ilusórias dos entes mundano-humanos. É o Um permanente que está na multiplicidade fenomênica e fugaz dos muitos . Pelo atman (alma, centelha divina), emerge no homem a consciência de ser Deus, Brahman , de tal modo que a afirmação de Jesus valeria para todo homem iluminado: “Eu e o Pai somos um”. Nesse sentido, Jesus seria  modelo do homem que toma consciência de ser uma só coisa com o divino.   Vejam. São duas perspec

A lei moral natural. Entrevista com o filósofo francês Rémi Brague

Se as leis que o homem estabelece não se baseiam no “fulcro” de uma lei universal, ele se expõe a justificar todas as loucuras do homem contra o homem.  Muitas vezes em sua obra, Rémi Brague voltou ao fracasso da modernidade que pretende prescindir de uma referência a "algo além do humano", como a lei divina ou a natureza. Este é particularmente o tema de seu livro Depois do humanismo , onde ele evoca a necessidade de uma imagem do homem que o salve de si mesmo. Recentemente convidado pelo Instituto Tomista de Paris, ele mostrou as ligações entre a lei divina e a lei humana e por que, sem a lei natural, o homem dificilmente pode possuir “direitos”. Fonte:  https://fr.aleteia.org/2022/02/21/la-loi-naturelle-cest-la-loi-de-la-raison/?fbclid=IwAR2uo5VkBJmZE203_dkIyQPinwqZXY0wG6Ty1cS1wXg2QS3UHDPSpzivdmM . Tradução de Elílio Júnior ____ Aleteia : Você publica Après l’humanisme. L’image chrétienne de l’homme  (Salvator). Segundo você, a tentação de definir o homem com base em si me

Vocacionados à União

  «Foi bom para mim ser humilhado, para aprender teus estatutos» (Sl 119,71). Como o homem, nascido nas baixezas da imperfeição e da ignorância, poderá alçar-se às alturas da sabedoria e da beatitude divina? Não são somente as espiritualidades orientais, (como o hinduísmo ou o budismo) que falam da iluminação ou da mudança de consciência que não só nos liberta, mas nos introduz na plenitude divina ou na Vida da nossa vida. Para o cristianismo, a divinização é a grande vocação do homem. Divinizar-se é participar do que Deus é em si mesmo. É como que identificar-se com Deus. São João da Cruz usa expressões muito fortes; fala da transformação da alma em Deus e recorre à metáfora do fogo (Deus) que toca a madeira (homem) até que ela, não sem os ruídos que atestam sua transformação, expele toda a sua humidade e adquire cor enegrecida, para depois tornar-se quente e incandescente como o próprio fogo. A madeira como que se faz uma só coisa com o fogo. Como receber a graça da divinização? Aju