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Mostrando postagens de novembro, 2021

Apocalipse e linguagem apocalíptica

A linguagem apocalíptica está na Bíblia, mas não só. Fora da Bíblia, há escritos judaicos tardios (intertestamentários) que a utilizam (como o “Segundo Livro de Enoque) e também textos cristãos apócrifos (como o “Apocalipse de Pedro”). Na Bíblia, temos a linguagem apocalíptica em trechos veterotestamentários do livro Daniel (que confirma uma tendência de substituição do profetismo pelo apocaliptismo já presente em Ezequiel e no 2º e 3º Isaías), em trechos evangélicos (principalmente Mt 24) e no livro do Apocalipse. Essa linguagem surgiu no povo judeu nos últimos tempos anteriores a Cristo. Na época de Jesus havia movimentos apocalípticos e Jesus mesmo terá tido uma veia apocalíptica, embora certos estudiosos digam que não fosse um apocalíptico exaltado.   O característico do gênero apocalíptico é a revelação (a palavra “apocalipse” quer dizer revelação) do segredo divino sobre a história, a conflagração deste mundo e o advento de um novo mundo de justiça instaurado por Deus. As imagens

Ser e ente - uma nota sobre o pensamento de Heidegger

Ser e ente. Heidegger acusa a tradição filosófica ocidental de ter-se esquecido do ser para falar somente do ente. O ente é o que é, o que está aí. Uma pedra, uma árvore, um martelo… Tudo o que pertence ao mundo, tudo o que podemos usar, tudo o que podemos conhecer, tudo o que podemos fabricar… é ente. O ente tem um sentido delineado pela nossa visão, que pode ser utilitária ou teórica. No dia a dia estabelecemos uma relação utilitária com vários entes, como a escova, a porta, a lâmpada… As diversas ciências tratam teoricamente das diversas regiões de ente: a física trata do ente sensível móvel; a química trata do ente sensível cuja composição pode ser analisada e alterada; a matemática trata do ente quantitativo… A técnica manipula os entes, sempre buscando o maior resultado com o menor emprego de meios. A técnica serve aos interesses humanos, mas de tão importante que se tornou, passou a dominar o próprio homem. Vivemos hoje numa civilização que está submetida à técnica.   E a filoso

O Tudo e o nada. A mensagem mística de São João da Cruz

Quando diz que quem quiser possuir Tudo não deve querer possuir nada, o místico São João da Cruz não ensina a anulação do ego, como se isso fosse possível. Antes, ensina que a alma pode superar o ego, vivendo em outro nível de existência — a existência unida ao absoluto de Deus.   O ego não é eliminado, mas a pessoa deixa de identificar-se com o seu reduzido horizonte. Tudo o que o ego pensa, projeta, sente ou deseja no seu horizonte próprio, que é o horizonte espácio-temporal, é finito e caduco. O espaço não pode apresentar-nos um bem infinito nem o tempo um bem eterno. Finitude e caducidade são próprias do horizonte espácio-temporal. Quando o ego se move nesse horizonte sente-se à vontade, mas, ao fim e ao cabo, fica sempre desiludido e cheio de apreensões e tristezas. Ele não pode ter firme em suas mãos os bens que procura, porque são bens fugazes que o tempo destrói, nem encontra bem algum que o satisfaça, porque são bens finitos delimitados pelo espaço.   O ego deve deixar-se supe