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Mostrando postagens de dezembro, 2019

O Paraíso

O Paraíso é representado como um belo lugar que acolhe o homem O paraíso descrito de forma imagética no livro do Gênesis é considerado por muitos bons teólogos atuais como uma realidade em potência, isto é, uma realidade que nunca existiu de fato, mas que deveria se instaurar segundo o plano de Deus. Entretanto, o pecado insinuou-se e o paraíso ficou comprometido. O paraíso é feito de paz, harmonia, sabedoria e imortalidade. Se o homem não tivesse pecado — mas ele pecou desde sempre —, ele não teria experimentado a culpa no jardim de sua consciência, não teria perdido a paz, não se teria tornado insensato nem teria sentido a morte como um evento dramático. A morte não seria morte, mas uma travessia tranquila. São João da Cruz diz que a alma, quando ama, não teme a morte. Isso porque a alma enamorada de Deus vê a morte como uma passagem para os braços do Amado. O amor do Bem é a essência da sabedoria. O homem distanciou-se da sabedoria por causa do pecado, que é o desprezo do Bem.

A filosofia anticristã (e antiplatônica) de Nietzsche

Toda a filosofia de Nietzsche parte de uma intuição que lhe era cara — a finitude e a tragicidade da existência — e de seus desdobramentos, que levam em conta a capacidade do homem de autoafirmar-se. Trata-se de uma filosofia que, por assumir a originalidade do caos e da irracionalidade, está nas antípodas do cristianismo, que afirma a prioridade do Lógos ou da Razão. Vejamos alguns pontos caros a Nietzsche: a) O mundo humano é finito e trágico: a tragicidade não seria algo sobrevindo a um mundo originariamente perfeito, como na doutrina cristã do pecado original, mas pertenceria à própria constituição do mundo; isso Nietzsche aprendeu com Schopenhauer, que via na vontade universal, cega e irracional, a essência do mundo . b) Não há salvação que possa vir de fora ; nem de uma razão que agiria sobre os instintos e as regiões obscuras do homem, como quer a modernidade iluminista; nem de um salvador extramundano que nos concederia a sua graça, como quer o cristianismo. Tudo o que e

Ateísmo moderno

ATEÍSMO MODERNO  É comum, na historiografia em geral, apontar o ateísmo moderno como o êxito natural do desenvolvimento da humanidade ou como o fruto desejável da passagem da infância à maturidade do homem. Hans Blumenberg viu na reivindicação de autonomia e na afirmação de si por parte do homem o grande distintivo da modernidade, o que teria levado naturalmente à marginalização de Deus e da religião.  No entanto, o ateísmo moderno, a meu ver, é coisa mais complexa. Ele não é somente uma afirmação, mas também uma reação. Ele é, em grande parte, fruto das guerras de religião que encheram de sangue a Europa na segunda metade do século XVI (com prolongamentos no século XVII). O próprio cogito  cartesiano é, em boa medida, uma reação ao libertinos do século XVII, que, por sua vez, eram também uma reação cética aos conflitos religiosos da Europa.  A fé tinha sido elemento de unidade no Império cristão. Entretanto, a partir da Reforma protestante, a Europa se dividiu do ponto

O domínio da técnica e o anseio de transcendência

Heidegger vê o domínio da técnica em nosso tempo como fruto maduro de algo que já estava presente na filosofia grega a partir de Platão. A partir de Descartes, segundo Heidegger, houve uma intensificação do que já existia, isto é, a pretensão de dominar as coisas pela sua representação na mente. Para o pensador da Floresta Negra, o aparato técnico só se impôs porque o homem esqueceu-se do Ser. O Ser não é o ente que cai na representação, mas lhe é anterior e lhe dá a condição de possibilidade de ser o que é. A representação do ente e o conceito de verdade como correção ou adequação  teriam afastado para longe o Ser e, em consequência, aberto o caminho da dominação técnica ou da manipulação extrema dos entes.  O humanismo da metafísica ocidental estaria baseado nessa capacidade de o homem representar o ente. Nesse sentido, na medida em que o homem superar o humanismo é que ele poderá ser o pastor do Ser . O humanismo, para Heidegger, coloca o homem no centro, o homem com a representaç