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Mostrando postagens de outubro, 2020

O ofício do sábio segundo S. Tomás de Aquino

Trecho da minha monografia de graduação em filosofia. Escrevi-a aos 21 anos de idade, mas a monografia hoje está perdida. Eu tinha uma cópia, emprestei-a e não me devolveram. ——— Ser sábio é dito daqueles que, considerando o fim, tudo ordenam em conformidade com ele: "pertence ao sábio ordenar". As artes arquitetônicas ou principais dirigem as inferiores, assim como a arte médica ordena a arte farmacêutica, uma vez que o fim da farmácia é a medicina. Desse modo, são chamados sábios os artífices das artes arquitetônicas, pois que lhes compete ordenar para o devido fim as artes inferiores. Todavia, o sábio por excelência, o único propriamente digno desse nome, é o que considera o fim último de todas as coisas e, por isso, está em condições de tudo ordenar em conformidade com ele: "O nome sábio, porém, é simplesmente reservado só para quem se dedica à consideração do fim do universo, que é também o princípio". O propósito fundamental de Santo Tomás é realizar o ofício

Qual o maior mandamento?

Ao responder ao fariseu sobre qual era o maior mandamento da Lei (cf. Mt 22, 34-40), Jesus uniu duas passagens da Escritura, de dois livros distintos: Dt 6,6 e Lv 19,18. A primeira fala do amor a Deus com todas as forças e o entendimento; a segunda, do amor ao próximo como cada um ama a si mesmo.  Era comum entre os mestres de Israel procurar a chave de interpretação de toda a Lei. Nesse sentido, o Rabi Akiva, pouco depois de Jesus, dirá que o princípio da Torah é o amor ao próximo. Advertia-se a urgência de encontrar essa chave que, ao mesmo tempo, pudesse ser a própria Lei em compêndio.  Afinal, em torno da Lei se tinha criado uma “cerca” de inúmeros preceitos com o intuito de a proteger e não permitir jamais a sua violação. No entanto, a multiplicação de preceitos acabou por empalidecer a própria Lei em seu frescor. No seu sentido originário, mais do que norma a Lei ( Torah ) é a “instrução” para que o povo de Deus percorra o justo caminho. É via de vida e felicidade.  Quem foi env

Estamos no horizonte da Verdade

Retenho que o primeiro ponto do início crítico da filosofia seja a consciência de que estamos no horizonte da verdade . Não é preciso — nem mesmo é possível — determinar criticamente, de início, um conteúdo específico da verdade. Com efeito, só poderemos determinar, filosoficamente falando, conteúdos específicos mínimos de verdade, e isso depois de muito trabalho. A filosofia é a epistème  das poucas e grandes verdades, ao contrário das ciências particulares, que são detalhistas, discorrem sobre muitas coisas, mas nunca pretendem alcançar grandes verdades nem mesmo demonstrar seus pressupostos. A filosofia é o único saber que não pode dar-se o luxo de assumir pressupostos de forma dogmática.  No entanto, seria vão filosofar (e também fazer qualquer outra ciência) sem a intenção voltada para a verdade . Sem a intencionalidade da verdade, nada poderia ser tido como verdadeiro nem falso, e não haveria sentido algum em argumentar sobre o que quer que seja. Podemos estabelecer que estamos n

Lima Vaz e o tomismo transcendental

O tomismo transcendental de Lima Vaz, na linha de seu correligionário Joseph Maréchal, leva em consideração Kant e procura ultrapassá-lo. Leva em consideração Kant porque atribui valor especulativo à forma do conhecimento que está no sujeito ou no espírito cognoscente. Tal forma é o ser formal . O espírito só conhece assumindo todo e qualquer conteúdo na forma do ser . Tomás dizia que o que primeiramente cai sob a consideração do intelecto é o “ens”, sem o qual o intelecto não pode apreender nada.  Lima Vaz ressalta que o espírito finito do homem assume o conteúdo do conhecimento sob a forma do ser, de modo especial no juízo, quando declara ita est . O est do juízo assume aqui um papel decisivo, pois que ele revela que o espírito confere ao conteúdo do conhecimento uma forma necessária e absoluta - absolutamente necessária e necessariamente absoluta .  De onde vem ao espírito a capacidade de instituir o absoluto da forma senão do Absoluto real? Quando o espírito humano finito institui