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Mostrando postagens de maio, 2010

Criação na Sagrada Escritura e no Magistério

. Padre Elílio de Faria Matos Júnior O Antigo Testamento         O que afirmamos sobre o conhecimento que Israel alcançou a respeito de Deus deve ser afirmado também no que se refere ao conceito de criação. Israel não atingiu a noção de criação, que, como se disse, revolucionou a filosofia, através de uma reflexão filosófica. Israel chegou à fé explícita na criação a partir da experiência da atuação de Iahweh na história. Nesse sentido, "o primado teológico não diz respeito à criação, mas à aliança" [1] .        A pedagogia mesma da Revelação divina ensina-nos, assim, que a noção de criação não deve ser entendida à parte da noção de salvação. Israel só chegou a perceber a criação porque antes experimentou a ação salvífica do Criador.  A criação, portanto, não se reduz ao átrio dos gentios , mas faz parte do plano geral da salvação como seu primeiro ato. O Deus Triúno, na verdade, cria para salvar. Os dois relatos bíblicos clássicos sobre as origens pertencem, não ao i

Presença do Ser ao homem e do homem ao Ser

Padre Elílio de Faria Matos Júnior O estudo sobre o homem, segundo Padre Vaz, mostra que no seio do espírito humano há a presença do Ser, que é também Bem, capaz de fazer com que o homem, que é sujeito que procura expressar-se a si mesmo, no movimento de sua autoposição como sujeito, extrapole todos os limites eidéticos de sua condição finita e seja lançado na ilimitação ou infinitude do Ser. Nem a natureza ou o mundo nem a sociedade ou a história podem exaurir o dinamismo do espírito humano, que é impulsionado pelo “excesso ontológico” [1] , presente no seu íntimo, a ultrapassar todas as configurações finitas da realidade. O horizonte finito da natureza ou do mundo, da sociedade ou da história, não pode realizar o homem. [2] Enganam-se, pois, os pensadores que pretendem reter o dinamismo do espírito humano numa ou noutra dessas realidades. O homem mostra-se, na verdade, como ser para a transcendência. Aliás, é o “excesso ontológico” que, sendo a causa do dinamismo do espírito h

Que é o homem?

Padre Elílio de Faria Matos Júnior Com o desenvolvimento das ciências da natureza a partir do séc. XVII e das ciências do homem a partir do séc. XVIII, a muitos estudiosos parece não ser mais possível alcançar uma ideia unitária do homem. O saber tornou-se fragmentado. Considera-se o homem do ponto de vista da biologia, da teoria da evolução, da sociologia, da antropologia cultural, da psicologia etc, mas não se consegue encontrar aquele plano de compreensão capaz de unificar crítica e coerentemente o saber do homem sobre si mesmo. Por vezes uma determinada ciência pretende arvorar-se em única intérprete autorizada da compreensão do homem. Assim, define-se o homem sob o ponto de vista exclusivo da biologia ou da sociologia ou da antropologia cultural, o que a meu ver representa o maior perigo acadêmico. Ora, é inegável que o homem é constituído por uma dimensão biológica, psicológica, sociológica, cultural... Mas o que constitui o homem como homem é inegavelmente a sua dimensão esp

Padre Vaz e a Antropologia - parte I

. Padre Elílio de Faria Matos Júnior A grande marca da antropologia elaborada por Padre Vaz é o seu caráter decididamente ontológico. Padre Vaz, na verdade, não se contenta em fazer uma antropologia regional do homem, isto é, uma antropologia que se submetesse à dimensão corporal ou psíquica ou ainda à dimensão mundana ou societária do homem sem jamais atingir a consideração do ser do homem enquanto tal , que, na, visão de Padre Vaz, inclui a dimensão espiritual, pela qual o homem, constitutivamente, está aberto ao absoluto formal da Verdade e do Bem e ao Absoluto existencial , ou seja, Deus. E é exatamente em virtude de seu caráter ontológico, que a antropologia vaziana irá cruzar-se com a metafísica, de modo que, pela via do discurso antropológico, poderemos explicitar as condições de possibilidade da metafísica. Mostraremos que, para Padre Vaz, sem metafísica, não é possível a antropologia ou um discurso “completo” sobre o homem. Foi a partir do fins da Idade Média que passou