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Maria: tipo da Igreja, modelo na ordem da fé e da caridade e nossa mãe

Resumo do texto “Maria, tipo da Igreja, modelo na ordem da fé e da caridade e nossa mãe” – Pe. Elílio de Faria Matos Júnior ⸻ 1. Introdução O artigo propõe refletir sobre o mistério de Maria à luz do capítulo VIII da Lumen Gentium , mostrando-a como tipo (figura, exemplar) da Igreja, fundamentada em sua fé e caridade como resposta à graça divina. Nessa condição, Maria é colaboradora singular da salvação e mãe dos discípulos de Cristo e da humanidade. ⸻ 2. Maria, figura da Igreja No Concílio Vaticano II, havia duas tendências:  • Cristotípica: via Maria como figura de Cristo, acima da Igreja.  • Eclesiotípica: via Maria como figura da própria Igreja. Por pequena maioria, o Concílio optou por tratar Maria dentro da constituição sobre a Igreja, mostrando que ela deve ser compreendida a partir da comunidade dos redimidos. Assim, Maria pertence à Igreja como seu membro mais eminente, e não se coloca fora ou acima dela. Antes do Concílio, a mariologia frequentemente fazia paralelos ...

Ainda o título “Corredentora”

Os tradicionalistas, fazendo alarde, têm invocado a presença do título “Corredentora” em alguns papas para dizer que é um objeto constante do magistério ordinário universal. Mas eles se equivocam redondamente sobre o conceito mesmo de magistério ordinário universal.  Considere-se que:  1) O título aparece em documentos de somenos importância ou em documentos que tem por objeto principal outros temas. O título em si está longe de ser objeto de interesse principal destes documentos.  2) No passado, o então Santo Ofício ou a Congregação dos Ritos usaram o título algumas vezes para responder a perguntas sobre outros pontos em questão, usando o título em virtude de ele estar presente na própria pergunta.  3) Os papas que o usaram (poucos e mais recentes: Pio X, Bento XV, Pio XI e João Paulo II) nunca quiseram propô-lo como pertencente ao depósito de fé católica nem tiveram a intenção de rejeitar peremptoriamente a posição contrária ao título. Simplesmente usaram o título ...

O título de Corredentora. Por que evitá-lo?

Dizer que o título de Corredentora aplicado a Maria não é tradicional, é ambíguo e deve ser evitado não significa diminuir nem obscurecer o singular papel da Mãe de Deus na história da salvação.  Maria foi ativa na obra da salvação, e o foi de maneira única e no tempo único da encarnação do Verbo, de sua paixão, morte e ressurreição. No entanto, a sua atividade é sempre uma resposta — uma resposta ativa — à graça e à absoluta iniciativa de Deus. O único autor da salvação é Deus mesmo. É o Pai, que envia o Filho e o Espírito. É o Filho, que, enviado do Pai, encarna-se por obra do Espírito e se doa até a morte de cruz, ressuscitando em seguida. É o Espírito do Pai e do Filho, que, enviado por ambos, age na Igreja e em cada coração aberto, humilde e sincero. Isso sempre foi claro para todo católico bem formado.  A disputa sobre a conveniência ou não do título Corredentora gira mais em torno de questões semânticas ou linguísticas do que sobre a importância e o lugar inquestionável...

Combater o crime organizado

O combate ao crime organizado no Brasil é, ao mesmo tempo, complexo e simples. Complexo porque envolve múltiplas dimensões — políticas, econômicas, sociais, culturais — e simples porque exige o óbvio: inteligência, coordenação e vontade real de agir. Não há saída fácil, mas há caminhos claros. Um passo irrenunciável é o combate imediato, direto, às ações criminosas. É dever do Estado executar mandados de prisão, desmontar quadrilhas, apreender armas e drogas, e garantir que a lei se cumpra com firmeza e eficiência. Dentro da mesma linha de ação, criar leis mais rigorosas e eficazes, aumentar os presídios, fortalecer a polícia e punir os policiais que se deixam corromper. Mas isso, por si só, não basta. O crime organizado é um sistema, e todo sistema se sustenta por uma estrutura financeira. Desmontar o crime é também seguir o dinheiro: rastrear transações, investigar laranjas, identificar quem lucra com o crime. Certamente, há empresários e políticos que se beneficiam desse esquema, e ...

Sexualidade e personalismo

  O tema “sexualidade e personalismo” se situa no cruzamento entre a ética e a antropologia filosófica, especialmente a partir da filosofia personalista de autores como Karol Wojtyła (São João Paulo II), Emmanuel Mounier e Gabriel Marcel. Eis uma síntese estruturada: ⸻ 1. Fundamentos antropológicos O personalismo entende o ser humano não como um indivíduo isolado, mas como uma pessoa, ou seja, um ser de natureza espiritual e relacional, dotado de interioridade, liberdade e capacidade de doação. A sexualidade, nesse contexto, não é apenas um dado biológico, mas uma dimensão constitutiva da pessoa, que expressa a abertura ao outro e a vocação ao amor e à comunhão. “O corpo, de fato, e só ele, é capaz de tornar visível o que é invisível: o espiritual e o divino.” — Karol Wojtyła, Teologia do Corpo ⸻ 2. O sentido da sexualidade A sexualidade, segundo o personalismo, tem duplo significado: • Unitivo: expressa o amor de comunhão e doação entre as pessoas; • Procriativo: está orde...

Para esclarecer o conceito de “Padre da Igreja”

  Quem é Padre da Igreja?  Ratzinger procura responder através de uma reflexão interessante, que procuro expor abaixo:  A condição “paterna” e a audição da Palavra Para Joseph Ratzinger, seguindo a linha de Jean Daniélou e Michel Benoît, a figura do Padre da Igreja não se define por critérios externos ou sociológicos, mas por uma realidade teológica: o ser “pai” na fé da Igreja. Isso implica ser parte constitutiva do momento em que a Palavra revelada foi ouvida, discernida e configurada na vida da Igreja. A revelação cristã, diz Ratzinger, é uma palavra, mas a palavra só é verdadeiramente palavra quando é ouvida — quando encontra um sujeito que a acolhe, interpreta e a faz viver. Assim, não basta que Deus fale; é necessário que o povo de Deus escute. O tempo dos Padres é o tempo dessa escuta inaugural e configuradora. Essa audição não é apenas uma recepção passiva, mas um evento teológico: a Palavra se manifesta na medida em que é acolhida. Por isso, a Igreja primitiva nã...

Bontadini contra Vattimo

A crítica de Gustavo Bontadini a Gianni Vattimo está inserida no contexto do debate sobre a "deselenização" do cristianismo, que é o tema central do livro Metafisica e deellenizzazione (Vita e Pensiero, 1996), um dos mais importantes publicados por Bontadini.  Vattimo, representante de um pós-modernismo "fraco" e herdeiro da hermenêutica de Heidegger, defende uma deselenização radical. Ele vê a história do cristianismo como um processo de "esvaziamento" ( kenosis ) da metafísica forte, culminando em uma fé secularizada, caritativa e desprovida de afirmações metafísicas absolutas. Bontadini ataca esta posição com os seguintes argumentos: --- A Crítica de Bontadini a Gianni Vattimo 1. Rejeição do abandono da Metafísica Forte: Para Vattimo, a pós-modernidade significa o fim das "grandes narrativas" e das verdades absolutas. A fé cristã, nesse contexto, deve abandonar qualquer pretensão de verdade metafísica objetiva e reduzir-se a uma "ética d...