Pular para o conteúdo principal

Somos uma restrição do ser de Deus

Nossa essência é somente “parte” metafísica da essência de Deus. Se nossa essência fosse a dele, seríamos o Ipsum Esse subsistens. A mesma coisa: nosso ser é somente “parte” metafísica do ser de Deus: se nosso ato de ser fosse o dele, seríamos o Ipsum Esse Subsistens

Por isso, fora de Deus, todo ente é composto de inteligibilidade (essência) e ato de ser (ato da essência ou efetividade). Uma inteligibilidade limitada não pode existir por si e em virtude de si. Só a inteligibilidade absoluta existe por si e em virtude de si. Um ato de ser limitado não pode existir por si e em virtude de si. Só o ato de ser puro existe por si e em virtude de si. 

Assim, nós criaturas precisamos, para ser, derivar nossa inteligibilidade parcial da inteligibilidade absoluta de Deus, e precisamos ainda de que essa inteligibilidade parcial, que de per si não pode existir, receba a efetividade ou o ato de ser, que a faz ser inteligível em ato e existir.

Somos uma restrição de Deus. 

O que nele é uma coisa só (essência e ato de ser), em nós deve se tornar dois princípios distintos, pois não pode haver limitação do ser sem haver um limitador do ser, que é a essência (delimitada). Se a essência (coprincípio do ser criado) delimita o ser (coprincípio do ser criado), quem delimita a essência? Deus mesmo, ao pensar (como criáveis e participáveis de seu ser/essência) determinados contornos inteligíveis (essências).

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O título de Corredentora. Por que evitá-lo?

Dizer que o título de Corredentora aplicado a Maria não é tradicional, é ambíguo e deve ser evitado não significa diminuir nem obscurecer o singular papel da Mãe de Deus na história da salvação.  Maria foi ativa na obra da salvação, e o foi de maneira única e no tempo único da encarnação do Verbo, de sua paixão, morte e ressurreição. No entanto, a sua atividade é sempre uma resposta — uma resposta ativa — à graça e à absoluta iniciativa de Deus. O único autor da salvação é Deus mesmo. É o Pai, que envia o Filho e o Espírito. É o Filho, que, enviado do Pai, encarna-se por obra do Espírito e se doa até a morte de cruz, ressuscitando em seguida. É o Espírito do Pai e do Filho, que, enviado por ambos, age na Igreja e em cada coração aberto, humilde e sincero. Isso sempre foi claro para todo católico bem formado.  A disputa sobre a conveniência ou não do título Corredentora gira mais em torno de questões semânticas ou linguísticas do que sobre a importância e o lugar inquestionável...

Combater o crime organizado

O combate ao crime organizado no Brasil é, ao mesmo tempo, complexo e simples. Complexo porque envolve múltiplas dimensões — políticas, econômicas, sociais, culturais — e simples porque exige o óbvio: inteligência, coordenação e vontade real de agir. Não há saída fácil, mas há caminhos claros. Um passo irrenunciável é o combate imediato, direto, às ações criminosas. É dever do Estado executar mandados de prisão, desmontar quadrilhas, apreender armas e drogas, e garantir que a lei se cumpra com firmeza e eficiência. Dentro da mesma linha de ação, criar leis mais rigorosas e eficazes, aumentar os presídios, fortalecer a polícia e punir os policiais que se deixam corromper. Mas isso, por si só, não basta. O crime organizado é um sistema, e todo sistema se sustenta por uma estrutura financeira. Desmontar o crime é também seguir o dinheiro: rastrear transações, investigar laranjas, identificar quem lucra com o crime. Certamente, há empresários e políticos que se beneficiam desse esquema, e ...

Memória de Santo Tomás de Aquino

. Homilia proferida por mim na festa de Santo Tomás de Aquino em Missa celebrada no Instituto Cultural Santo Tomás de Aquino, de Juiz de Fora, MG, do qual sou membro. Pe. Elílio de Faria Matos Júnior Prezados irmãos e irmãs na santa fé católica, Ao celebrarmos a memória de Santo Tomás de Aquino, patrono de nosso instituto, desejo reportar-me às palavras que o santo doutor, tomando-as emprestadas de Santo Hilário, escreveu logo no início de uma de suas mais importantes obras, a Summa contra gentes , e que bem representam a profunda espiritualidade do Aquinate e a vida mística que envolvia sua alma. Sim, Santo Tomás, além de filósofo e teólogo, homem das especulações profundas e áridas, era também um santo e um místico, homem da união com Deus. São estas as palavras: “Ego hoc vel praecipuum vitae meae officium debere me Deo conscius sum, ut eum omnis sermo meus et sensus loquatur” , isto é, “Estou consciente de que o principal ofício de minha vida está relacionado a Deus, a quem me ...