O mundo é um fluxo contínuo. As galáxias se expandem, as estrelas giram em torno do centro de suas galáxias e os planetas, em torno do centro das estrelas, que, antes de apagarem-se, nascem e irradiam luz. A vegetação, como os animais aquáticos, voláteis e terrestres, têm o ciclo de sua vida, e as gerações sucedem-se segundo os seus ritmos em tempos indefinidos. O homem traz o clarão da consciência para o centro do universo, procura lançar o olhar sobre a parte e o todo e é capaz de maravilhar-se na presença do que existe. Por detrás de tudo o que é e se move em seu incessante dinamismo, está a Vida, a Causa transcendente e imanente da vida do inteiro mundo. A Vida é invisível aos olhos sensíveis, mas é a Realidade mais real, que dá origem e sustenta o espetáculo do universo com tudo o que ele encerra. A Vida é reconhecível pelo espírito, abertura infinita ao Infinito. A Vida mostra-se, de alguma maneira, em tudo aquilo que aparece, mas ela, em si mesma, é Vida escondida (Deus absconditus), pertencente a uma ordem diversa de ser — a ordem do Ser que doa o ser que os entes têm.
No silêncio do coração, tendo-se recolhido e com a atenção voltada para a Origem, o homem pode “ver” e “experienciar” algo da pujança desta Fonte inesgotável, que só sabe doar, já que, sendo a própria Plenitude imperecível, não poderia nunca agir com a mesquinharia de quem teme deixar algum dia de possuir o que tem. A Vida é abundância que não pode ser descrita, já que toda descrição é uma restrição de sua riqueza inexaurível. Diante da Vida, o homem sempre recebe. Afastando-se da Vida, empalidece sua vida. A Vida, que também chamamos de Fonte e Origem, é o Deus sem nascimento e sem morte. A morte, aliás, tem como contrário o nascimento. Como a Vida nunca nasceu, porque é desde sempre, ela não tem na morte o seu contrário. A Vida não pode conhecer a morte, pois a Vida nunca nasceu. Ela é desde sempre e para sempre.
Em virtude da abertura do seu espírito para esta Fonte de tão indescritível e transcendente riqueza, o homem, que dela recebe tudo o que tem, também sente o apelo de doar-se e estabelecer sua morada ali, onde se contempla a “planície” da Verdade, do Bem e da Beleza, a “região” da Paz e da Caridade originária. Ajudado pela razão e pela fé, o homem cria as asas que o levam a uma certa altura — àquela altura que o predispõe a ser tomado pela própria Vida. A altura mesma da Vida é alcançável só pela própria Vida. Só a Vida está no nível da Vida. O homem chega à Vida abandonando-se à ação imanente e transcendente da Vida.
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