Pular para o conteúdo principal

Origens do carnaval

As origens das festas carnavalescas lançam raízes em tradições pré-cristãs. Nos tempos cristãos, o carnaval acontece nos dias imediatamente anteriores à Quarta-feira de Cinzas, início do tempo penitencial da Quaresma. 

Entre gregos e romanos havia desfiles ou procissões em honra do deus Dionísio ou Baco com fantasias e alegorias. Esta festa em Roma chamava-se Bacanal. Havia ainda entre os romanos diversas festas, em dezembro, janeiro e fevereiro, para celebrar o deus Saturno, o solstício de inverno, o início do ano ou da primavera. Assim, tinha-se a Saturnália, o Dies Natalis Solis Invicti, a Lupercália. Esta última era realizada em fevereiro e era um festival de purificação da cidade de Roma para o início do novo ano, que começava em março. Nela celebrava-se também a fertilidade, que a aproximação da primavera anunciava. As festas em geral davam lugar para as licenciosidades do povo, em que a ordem social como que deixava de existir por alguns dias, a ponto de o Senado romano ter intervido com clamores pela moralidade. 

Com o advento do Cristianismo e a progressiva adesão do Império à fé, a Igreja procurou cristianizar os costumes, aprovando e dando sentido novo ao que era bom (a sadia alegria), mas não pôde impedir todos os excessos que se cometiam nas tradicionais festas. Assim, os desfiles, as fantasias e as inversões da ordem em forma de brincadeira, mas também as licenciosidades e excessos que a Igreja nunca conseguiu frear, transmitiram-se, de algum modo, para a Idade Média e chegaram aos nossos dias. 

Quanto à data do carnaval: com a instituição da Quaresma, período penitencial de 40 dias em preparação para a Páscoa (alusão aos 40 dias de jejum de Jesus no deserto e aos 40 anos de peregrinação desértica do povo hebreu em busca da terra prometida), as mencionadas festas de origem pagã (que a Igreja esforçava-se para cristianizar) concentraram-se no período imediatamente anterior a seu início. O início da Quaresma é sempre determinado pela Páscoa, cujo calendário, regulado pela lua, é móvel. Assim, os dias do carnaval movem-se de acordo com o início da Quaresma, que, por sua vez, tem o seu início determinado pelo dia da Páscoa, que é o primeiro Domingo após a lua cheia que ocorre após o equinócio vernal, e pode cair entre 22 de Março e 25 de Abril. 

Quanto à origem do termo, não se sabe ao certo. Alguns acham que carnaval vem da antiguidade pagã e está relacionado ao costume de desfilar com um carro naval (currus navalis) em honra ao deus Baco. Outros acham que o termo surgiu em tempos cristãos, e faria referimento aos últimos dias antes da suspensão da carne para entrar na Quaresma: carnem levare (tirar a carne); ou o adeus que se dá à carne para começar a penitência quaresmal: caro, carnis (carne) + vale  (adeus).  

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Metafísica essencial

Cornelio Fabro foi quem realçou a centralidade do ser como ato intensivo na metafísica de S. Tomás  Metafísica essencial:  1. Ipsum Esse É a perfeição máxima formal e real. Ato puro. Intensidade máxima. É participável pelas criaturas através de essências limitadas e da doação de ser como ato a tais essências.  • O ipsum Esse subsistens é a plenitude formal e atual do ser. Não é apenas a perfeição máxima “formal” no sentido lógico, mas o ato mesmo da atualidade infinita.  • Fabro enfatiza que o Esse divino é incomunicável em si mesmo (ninguém nem nada pode possuir ou receber a infinitude divina), mas é participável secundum quid , na medida em que Deus doa o ser finito às essências criadas.  • Aqui está a raiz da analogia entis : há continuidade (participação) e descontinuidade (infinitude divina versus finitude criada). ⸻ 2. Essência ( esse ut participabile ) É o ser enquanto participável, receptivo, em potência. Em si não é atual, mas uma capacidade de atuali...

Metafísica hoje? Saturnino Muratore SJ

  Saturnino Muratore SJ Resumo  — “Senso e limiti di un pensare metafisico nell’attuale contesto culturale. In dialogo con Saturnino Muratore S.J.” (Entrevista de Antonio Trupiano). Publicado em: TURPIANO, Antonio (ed.). Metafisica come orizzonte : In dialogo con Saturnino Muratore SJ . Trapani: Pozzo di Giacobbe, 2014.  Formato e objetivo. A entrevista foi organizada em dez questões estratégicas para apresentar o percurso intelectual de Saturnino Muratore (SJ) e, ao mesmo tempo, discutir o papel formativo da metafísica — sobretudo no contexto das faculdades eclesiásticas.   O que é “metafísica” para Muratore. Em vez de uma doutrina estática do “fundamento”, Muratore define metafísica como a capacidade do filósofo de “dizer o todo” — um discurso de totalidade que mantém uma instância crítica constante. Falar do todo implica dialogar com as especializações (que tratam fragmentos) e preservar a crítica para não absolutizar partes.   Relações com Jaspers e Nietzsc...

Se Deus existe, por que o mal?

O artigo ( leia-o aqui ) Si Dieu existe, pourquoi le mal ?,  de Ghislain-Marie Grange, analisa o problema do mal a partir da teologia cristã, com ênfase na abordagem de santo Tomás de Aquino. O autor explora as diversas tentativas de responder à questão do mal, contrastando as explicações filosóficas e teológicas ao longo da história e destacando a visão tomista, que considera o mal uma privação de bem, permitido por Deus dentro da ordem da criação. ⸻ 1. A questão do mal na tradição cristã A presença do mal no mundo é frequentemente usada como argumento contra a existência de um Deus onipotente e benevolente. A tradição cristã tem abordado essa questão de diferentes formas, tentando reconciliar a realidade do mal com a bondade e a onipotência divinas. 1.1. A tentativa de justificar Deus Desde a Escritura, a teologia cristã busca explicar que Deus não é o autor do mal, mas que ele é uma consequência da liberdade das criaturas. No relato da queda do homem (Gn 3), o pecado de Adão e E...