A crítica de Gustavo Bontadini a Gianni Vattimo está inserida no contexto do debate sobre a "deselenização" do cristianismo, que é o tema central do livro Metafisica e deellenizzazione (Vita e Pensiero, 1996), um dos mais importantes publicados por Bontadini.
Vattimo, representante de um pós-modernismo "fraco" e herdeiro da hermenêutica de Heidegger, defende uma deselenização radical. Ele vê a história do cristianismo como um processo de "esvaziamento" (kenosis) da metafísica forte, culminando em uma fé secularizada, caritativa e desprovida de afirmações metafísicas absolutas.
Bontadini ataca esta posição com os seguintes argumentos:
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A Crítica de Bontadini a Gianni Vattimo
1. Rejeição do abandono da Metafísica Forte:
Para Vattimo, a pós-modernidade significa o fim das "grandes narrativas" e das verdades absolutas. A fé cristã, nesse contexto, deve abandonar qualquer pretensão de verdade metafísica objetiva e reduzir-se a uma "ética da caridade" e uma mensagem de libertação.
Bontadini contrapõe que isso equivale a uma capitulação da razão e uma rendição ao irracionalismo. Abandonar a estrutura metafísica (o "involucro" grego) significa, na prática, abandonar a própria possibilidade de uma fundamentação racional para a fé. A fé se torna um sentimento subjetivo e historicamente condicionado, privado de sua pretensão de verdade universal.
2. O equívoco sobre a relação entre Ser e História:
Vattimo, seguindo Heidegger, entende o Ser não como uma substância eterna e imutável (como em Parmênides ou na metafísica clássica), mas como um evento histórico que se desvela no tempo. A "fraqueza" do pensamento é, portanto, a atitude mais adequada para acolher esse Ser.
Bontadini vê aqui o núcleo do erro. Para ele, a metafísica clássica, com seu princípio de não-contradição e a afirmação de um Ser imutável (Deus), é a única garantia de racionalidade. Negar isso é cair no relativismo e no não-fundamento absoluto. A concepção vattimiana do Ser como evento histórico dissolve a própria noção de verdade, tornando-a uma mera "interpretação" entre outras.
3. A leitura "deselenizante" do Cristianismo:
Vattimo celebra o que chama de "secularização positiva", vendo-a como a realização autêntica da mensagem cristã, que teria como núcleo a caridade e não a verdade metafísica.
Para Bontadini, esta é uma deselenização equivocada e perigosa. Ele argumenta que o cristianismo não "helenizou-se" de forma acrítica, mas "cristianizou o helenismo". Ou seja, assumiu o núcleo racional da filosofia grega (o princípio parmenídico do Ser imutável) e o elevou à luz da revelação, através do teorema da criação. Rejeitar todo o legado grego é, portanto, rejeitar o instrumento racional que permite à fé dialogar com a razão e afirmar sua validade universal.
4. Consequência: a “fideização” da fé:
O resultado da proposta de Vattimo, segundo Bontadini, é a redução da fé a um fideísmo. Se a fé não pode mais se apoiar em uma estrutura metafísica que a razão pode, em certa medida, alcançar, ela se torna um salto cego no escuro, uma mera opção existencial ou estética.
Isso vai contra toda a tradição da filosofia cristã, que sempre buscou harmonizar fé e razão (os praeambula fidei). Bontadini vê nisso uma traição ao projeto intelectual do cristianismo e uma adaptação excessiva ao Zeitgeist irracionalista.
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Em Resumo:
Para Bontadini, Vattimo é um representante emblemático do erro da deselenização radical. Sua filosofia:
· Desarma a fé: Ao tirar sua armadura metafísica, deixa-a indefesa contra a crítica racionalista e a reduz a um sentimento.
· Corrói a razão: Ao abandonar o princípio de não-contradição e a noção de um Ser necessário, abre as portas para o relativismo.
· Interpreta mal a história: Vê a secularização como um cumprimento do cristianismo, enquanto para Bontadini é um desvio de seu núcleo verdadeiro, que é ao mesmo tempo racional (metafísico) e histórico (criacionista).
Em última análise, a crítica de Bontadini a Vattimo é a defesa intransigente da metafísica clássica como condição de possibilidade para uma fé cristã racionalmente fundamentada. Fora disso, Bontadini vê uma rendição ao espírito antimetafísico e irracionalista do tempo.
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