É possível duvidar de tudo? Um desafio de 800 Anos que ainda assombra a filosofia
Você já parou para pensar se é possível duvidar de absolutamente tudo? Será que podemos colocar em questão a própria existência da verdade?
No século XVII, o famoso filósofo René Descartes tentou fazer exatamente isso. Ele mergulhou numa dúvida radical, questionando até mesmo os sentidos e a matemática, para encontrar uma única certeza inabalável: o famoso “Penso, logo existo”. A partir desse ponto fixo, ele buscou reconstruir todo o conhecimento.
Mas o que poucos sabem é que, cerca de 400 anos antes de Descartes, outro gigante do pensamento já havia proposto uma dúvida ainda mais profunda e radical: Santo Tomás de Aquino.
E a conclusão dele foi exatamente o oposto da de Descartes. Enquanto o francês encontrou abrigo no Eu que pensa, o frade italiano demonstrou que é impossível fugir do Ser.
O argumento é um dos mais poderosos e elegantes de toda a história da filosofia. E é devastadoramente simples.
Santo Tomás parte de uma pergunta crítica: “A verdade existe?”. A resposta parece óbvia, mas ele a trata com rigor lógico. Ele afirma que a proposição “a verdade existe” é evidente por si mesma. E prova isso mostrando que qualquer tentativa de negá-la acaba por confirmá-la.
Pense bem: se alguém disser “a verdade não existe”, está, no mesmo ato, afirmando que é verdade que a verdade não existe. A pessoa recorre a um critério de verdade para negar a verdade, caindo numa contradição instantânea. É como dizer, com toda a seriedade: “Eu não estou falando”.
O pensador jesuíta Joseph Maréchal, no século XX, resgatou essa joia esquecida. Ele mostrou que esse não é um mero jogo de palavras, mas a constatação de uma necessidade lógica inescapável. Toda vez que pensamos, duvidamos ou negamos, estamos implicitamente nos curvando a uma norma absoluta, a um padrão de verdade que está além do nosso pensamento momentâneo e subjetivo.
Ou seja: não podemos escapar da verdade. Ela é a condição de possibilidade para que qualquer pensamento – mesmo o mais cético – faça sentido. Negar a verdade é como tentando apagar a luz com um lanterna: você precisa da luz para realizar o ato que pretende extinguí-la.
O que isso significa para nós hoje?
Num mundo de relativismos extremos, onde muitas vezes se ouve que “tudo é uma questão de opinião” e que “não existe verdade absoluta”, o argumento de Santo Tomás soa como um alerta. Ele nos lembra que a busca pela verdade não é uma opção, mas uma condição da nossa própria racionalidade. A verdade pode ser difícil de alcançar, mas não podemos viver logicamente sem admitir que ela existe como um farol a nos orientar.
Portanto, da próxima vez que alguém disser, com ar de profunda sabedoria, que “a verdade não existe”, você já sabe: essa afirmação, no fundo, é a prova cabal de que ela existe.
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