Pular para o conteúdo principal

Argumento do Padre Elílio para a existência de Deus

O ponto central da argumentação do Padre Elílio Júnior é que o ente móvel, temporal e limitado possui uma proximidade metafísica com o nada. Mas o nada absoluto é impossível. Isso nos leva a uma conclusão inevitável: o ente móvel, temporal e limitado não pode ser o todo do ser. Vamos analisar isso em detalhes.

1. O Ente Móvel, Temporal e Limitado Confina com o Nada

Dizer que o ente móvel, temporal e limitado confina com o nada significa que ele tem traços de imperfeição que o colocam na “fronteira metafísica” entre o ser e o não-ser:

Móvel: O que se move ou muda não tem o ser plenamente realizado; está em potência para algo. O que está em potência não é um ser pleno, mas algo em via de ser.

Temporal: O que existe no tempo tem um “antes” e um “depois”, ou seja, sua existência não é necessária; ele poderia não existir.

Limitado: O que é limitado tem deficiências de ser; sua limitação mostra que ele não é pleno.

Se o ente móvel, temporal e limitado fosse o todo do ser, então o ser estaria inerentemente sujeito ao nada, pois tudo o que existe estaria submetido à mudança, à passagem do tempo e às limitações. Isso significaria que o ser é instável e pode “tender ao nada” – o que é metafisicamente impossível.

2. Se o Ente Móvel, Temporal e Limitado Fosse o Todo do Ser, o Nada Seria Possível

Agora, suponhamos, por hipótese, que não exista nada além dos entes móveis, temporais e limitados. Isso levaria a contradições lógicas:

Se tudo é temporal, então tudo pode deixar de existir. Isso tornaria real a possibilidade do nada absoluto, o que é impossível.

Se tudo muda, então nada é plenamente atual. Isso significaria que o ser nunca é pleno, mas sempre em transição, o que implicaria que o ser, por si só, não tem estabilidade e poderia deixar de ser.

Se tudo é limitado, então o ser é finito em si mesmo. Mas se o ser for finito em sentido absoluto, ele teria um limite para o nada – mas o nada absoluto não pode existir.

Portanto, se tudo o que existe fosse apenas móvel, temporal e limitado, o nada seria uma possibilidade real. Mas isso não pode ser, pois algo existe agora. Logo, deve haver algo que não confina com o nada, mas que seja plenamente ser.

3. Deve Haver um Ser Pleno, que Expulsa o Nada

Dessa reflexão, segue-se que deve existir um Ser que não é móvel, temporal e limitado, pois, do contrário, a realidade estaria exposta à possibilidade do nada. Esse Ser deve ser:

Eterno (não temporal, pois o tempo implica limitação e mudança);

Imutável (não móvel, pois a mudança implica potência e limitação);

Ilimitado (plenamente atual, sem deficiências no ser).

Esse Ser não confina com o nada, mas é pleno e absoluto, sustentando toda a realidade contingente e impedindo a possibilidade do nada. Esse Ser é Deus.

Conclusão: O Ser Necessário como Fundamento Absoluto

Portanto:

1. O ente móvel, temporal e limitado não pode ser o todo do ser, pois, se fosse, o nada seria uma possibilidade real.

2. Como o nada absoluto é impossível, deve haver um Ser que não confina com o nada, mas que seja plenitude do ser.

3. Esse Ser deve ser eterno, imutável e ilimitado, ou seja, Deus.

Esse argumento mostra que a simples existência de entes móveis, temporais e limitados já implica a necessidade de um Ser Necessário, pois, do contrário, toda a realidade estaria em risco de ser absorvida pelo nada – o que é impossível.


“Confinar com o nada” é uma metáfora para falar de uma verdade metafísica? 


IA: Sim, a expressão “confinar com o nada” é uma metáfora filosófica para descrever uma verdade metafísica profunda: os entes móveis, temporais e limitados possuem um modo de ser que os aproxima, por assim dizer, do nada, sem que isso signifique que o nada realmente exista.


O que significa “confinar com o nada”?


Na metafísica, o nada absoluto não pode existir, porque, se existisse, nada existiria agora. No entanto, os entes do mundo possuem certas características que indicam uma relação de dependência com algo além deles mesmos, e é nesse sentido que se diz que eles “confinam com o nada”:

1. Ser Temporal → Tende ao Nada

O que é temporal tem um antes e um depois. Isso significa que sua existência não é necessária: ele poderia não existir.

Se algo pode não existir, então ele não tem em si mesmo a razão suficiente do seu ser. Isso o torna metafisicamente próximo do nada.

2. Ser Móvel → Está Entre o Ser e o Nada

O que muda não é plenamente atual, pois está sempre em potência para algo novo.

A mudança significa que há um grau de imperfeição no ser, pois aquilo que muda ainda não atingiu a plenitude.

Isso sugere que ele não é absoluto e, portanto, não pode ser o fundamento último do ser.

3. Ser Limitado → Falta de Plenitude do Ser

O que tem limites tem falta de ser, pois um limite implica que há algo que ele não é.

Essa limitação aponta para a insuficiência desse ente, mostrando que ele não é a totalidade do ser.


Portanto, os entes móveis, temporais e limitados não têm um ser absoluto, mas sim um ser que pode desaparecer, que está sempre em transição, que é incompleto. Essa proximidade do não-ser é o que significa metafisicamente “confinar com o nada”.


A Verdade Metafísica por Trás da Metáfora


A expressão é uma metáfora para uma verdade metafísica rigorosa: o ente contingente não se explica por si mesmo e, se fosse o todo do ser, o nada seria uma possibilidade real. Como isso não pode ser, deve haver algo que não confina com o nada – um Ser Pleno e Necessário.


Se o ente móvel, temporal e limitado fosse o único tipo de ser que existe, então toda a realidade estaria em risco de desaparecer, pois tudo estaria sujeito à mudança, ao tempo e à limitação. Mas, como a realidade existe de maneira contínua e estruturada, isso significa que deve haver um fundamento absoluto que não seja móvel, temporal ou limitado.


Esse fundamento é Deus, o Ser Pleno e Absoluto, cuja essência é existir e que expulsa o nada. Ele é necessário para que qualquer coisa exista, pois, do contrário, o próprio ser estaria submetido à ameaça do nada – o que é metafisicamente impossível.


Conclusão


A metáfora “confinar com o nada” expressa a ideia de que os entes do mundo, sendo móveis, temporais e limitados, não possuem em si mesmos a plenitude do ser. Eles precisam de um fundamento absoluto que garanta a existência e expulse o nada, pois o nada absoluto não pode ser uma realidade.


Essa é uma formulação original dentro da metafísica cristã, pois enfatiza que a existência do mundo já prova que há um Ser Pleno, pois, do contrário, o nada seria uma possibilidade real.





Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Metafísica essencial

Cornelio Fabro foi quem realçou a centralidade do ser como ato intensivo na metafísica de S. Tomás  Metafísica essencial:  1. Ipsum Esse É a perfeição máxima formal e real. Ato puro. Intensidade máxima. É participável pelas criaturas através de essências limitadas e da doação de ser como ato a tais essências.  • O ipsum Esse subsistens é a plenitude formal e atual do ser. Não é apenas a perfeição máxima “formal” no sentido lógico, mas o ato mesmo da atualidade infinita.  • Fabro enfatiza que o Esse divino é incomunicável em si mesmo (ninguém nem nada pode possuir ou receber a infinitude divina), mas é participável secundum quid , na medida em que Deus doa o ser finito às essências criadas.  • Aqui está a raiz da analogia entis : há continuidade (participação) e descontinuidade (infinitude divina versus finitude criada). ⸻ 2. Essência ( esse ut participabile ) É o ser enquanto participável, receptivo, em potência. Em si não é atual, mas uma capacidade de atuali...

Metafísica hoje? Saturnino Muratore SJ

  Saturnino Muratore SJ Resumo  — “Senso e limiti di un pensare metafisico nell’attuale contesto culturale. In dialogo con Saturnino Muratore S.J.” (Entrevista de Antonio Trupiano). Publicado em: TURPIANO, Antonio (ed.). Metafisica come orizzonte : In dialogo con Saturnino Muratore SJ . Trapani: Pozzo di Giacobbe, 2014.  Formato e objetivo. A entrevista foi organizada em dez questões estratégicas para apresentar o percurso intelectual de Saturnino Muratore (SJ) e, ao mesmo tempo, discutir o papel formativo da metafísica — sobretudo no contexto das faculdades eclesiásticas.   O que é “metafísica” para Muratore. Em vez de uma doutrina estática do “fundamento”, Muratore define metafísica como a capacidade do filósofo de “dizer o todo” — um discurso de totalidade que mantém uma instância crítica constante. Falar do todo implica dialogar com as especializações (que tratam fragmentos) e preservar a crítica para não absolutizar partes.   Relações com Jaspers e Nietzsc...

Se Deus existe, por que o mal?

O artigo ( leia-o aqui ) Si Dieu existe, pourquoi le mal ?,  de Ghislain-Marie Grange, analisa o problema do mal a partir da teologia cristã, com ênfase na abordagem de santo Tomás de Aquino. O autor explora as diversas tentativas de responder à questão do mal, contrastando as explicações filosóficas e teológicas ao longo da história e destacando a visão tomista, que considera o mal uma privação de bem, permitido por Deus dentro da ordem da criação. ⸻ 1. A questão do mal na tradição cristã A presença do mal no mundo é frequentemente usada como argumento contra a existência de um Deus onipotente e benevolente. A tradição cristã tem abordado essa questão de diferentes formas, tentando reconciliar a realidade do mal com a bondade e a onipotência divinas. 1.1. A tentativa de justificar Deus Desde a Escritura, a teologia cristã busca explicar que Deus não é o autor do mal, mas que ele é uma consequência da liberdade das criaturas. No relato da queda do homem (Gn 3), o pecado de Adão e E...