Toda a filosofia de Nietzsche parte de uma intuição que lhe era cara — a finitude e a tragicidade da existência — e de seus desdobramentos, que levam em conta a capacidade do homem de autoafirmar-se. Trata-se de uma filosofia que, por assumir a originalidade do caos e da irracionalidade, está nas antípodas do cristianismo, que afirma a prioridade do Lógos ou da Razão. Vejamos alguns pontos caros a Nietzsche:
a) O mundo humano é finito e trágico: a tragicidade não seria algo sobrevindo a um mundo originariamente perfeito, como na doutrina cristã do pecado original, mas pertenceria à própria constituição do mundo; isso Nietzsche aprendeu com Schopenhauer, que via na vontade universal, cega e irracional, a essência do mundo.
b) Não há salvação que possa vir de fora; nem de uma razão que agiria sobre os instintos e as regiões obscuras do homem, como quer a modernidade iluminista; nem de um salvador extramundano que nos concederia a sua graça, como quer o cristianismo. Tudo o que existe é o que está aí: a matéria, as paixões, os instintos... Se existe uma razão, ela não é jamais pura. Se existe salvação, ela não vem de um mundo extraterreno.
c) O que está por detrás do caráter trágico da existência é o turbilhão de forças caóticas que constituem o mundo. O mundo não foi feito para o homem e lhe é inteiramente indiferente. Giacomo Leopardi, cujo pensamento está próximo do de Nietzsche, dizia que natureza é madrasta, não mãe, e que não sabe cumprir as promessas que faz: ela suscita em nós desejos que nunca serão satisfeitos a contento.
d) A salvação para o homem estaria em dizer “sim” à existência tal como ela é, sem idealismos ou platonismos. Amor fati — amor ao que é, ao destino. A salvação do homem estaria em assumir as forças vitais sem ressentimentos e sem esperanças vãs. O homem será seu próprio criador se ele se tornar capaz de dizer “sim” ao hoje de sua vida, afirmando-se como singular em meio ao turbilhão de forças que é o mundo. Se ele se afirma hoje, afirmar-se-á eternamente, pois que as mesmas coisas retornam sempre (eterno retorno). Mas só os fortes podem realizar a tarefa de ser o criador de si. Os fracos escondem-se no niilismo de um mundo supraempírico, isto é, num mundo fictício.
e) A verdade não está no mundo da transparência pura a ser descoberto (que não existe), mas é criada e recriada pelo homem, que é o intérprete dos fatos ou o doador de sentido ao que está aí. Não existem meros fatos nem meras interpretações, mas fatos interpretados e interpretações sobre fatos. O homem lança sempre um olhar interessado - nunca neutro - sobre os fatos.
f) O homem, movido pelo instinto de autoafirmação ou pela vontade de potência, é um equilibrista: a partir de forças caóticas e trágicas, ele procura afirmar-se e dar um sentido à própria vida, como um artista que dá alguma forma ao que é desprovido forma. O erro de Sócrates e de todo o pensamento do Ocidente teria sido o de querer viver só a partir das formas puras e para as formas puras, o bem puro, a transparência pura, esquecendo-se de que as formas são um equilíbrio nunca totalmente estável de forças primitivas e irracionais.
a) O mundo humano é finito e trágico: a tragicidade não seria algo sobrevindo a um mundo originariamente perfeito, como na doutrina cristã do pecado original, mas pertenceria à própria constituição do mundo; isso Nietzsche aprendeu com Schopenhauer, que via na vontade universal, cega e irracional, a essência do mundo.
b) Não há salvação que possa vir de fora; nem de uma razão que agiria sobre os instintos e as regiões obscuras do homem, como quer a modernidade iluminista; nem de um salvador extramundano que nos concederia a sua graça, como quer o cristianismo. Tudo o que existe é o que está aí: a matéria, as paixões, os instintos... Se existe uma razão, ela não é jamais pura. Se existe salvação, ela não vem de um mundo extraterreno.
c) O que está por detrás do caráter trágico da existência é o turbilhão de forças caóticas que constituem o mundo. O mundo não foi feito para o homem e lhe é inteiramente indiferente. Giacomo Leopardi, cujo pensamento está próximo do de Nietzsche, dizia que natureza é madrasta, não mãe, e que não sabe cumprir as promessas que faz: ela suscita em nós desejos que nunca serão satisfeitos a contento.
d) A salvação para o homem estaria em dizer “sim” à existência tal como ela é, sem idealismos ou platonismos. Amor fati — amor ao que é, ao destino. A salvação do homem estaria em assumir as forças vitais sem ressentimentos e sem esperanças vãs. O homem será seu próprio criador se ele se tornar capaz de dizer “sim” ao hoje de sua vida, afirmando-se como singular em meio ao turbilhão de forças que é o mundo. Se ele se afirma hoje, afirmar-se-á eternamente, pois que as mesmas coisas retornam sempre (eterno retorno). Mas só os fortes podem realizar a tarefa de ser o criador de si. Os fracos escondem-se no niilismo de um mundo supraempírico, isto é, num mundo fictício.
e) A verdade não está no mundo da transparência pura a ser descoberto (que não existe), mas é criada e recriada pelo homem, que é o intérprete dos fatos ou o doador de sentido ao que está aí. Não existem meros fatos nem meras interpretações, mas fatos interpretados e interpretações sobre fatos. O homem lança sempre um olhar interessado - nunca neutro - sobre os fatos.
f) O homem, movido pelo instinto de autoafirmação ou pela vontade de potência, é um equilibrista: a partir de forças caóticas e trágicas, ele procura afirmar-se e dar um sentido à própria vida, como um artista que dá alguma forma ao que é desprovido forma. O erro de Sócrates e de todo o pensamento do Ocidente teria sido o de querer viver só a partir das formas puras e para as formas puras, o bem puro, a transparência pura, esquecendo-se de que as formas são um equilíbrio nunca totalmente estável de forças primitivas e irracionais.
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