O tema “sexualidade e personalismo” se situa no cruzamento entre a ética e a antropologia filosófica, especialmente a partir da filosofia personalista de autores como Karol Wojtyła (São João Paulo II), Emmanuel Mounier e Gabriel Marcel. Eis uma síntese estruturada:
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1. Fundamentos antropológicos
O personalismo entende o ser humano não como um indivíduo isolado, mas como uma pessoa, ou seja, um ser de natureza espiritual e relacional, dotado de interioridade, liberdade e capacidade de doação.
A sexualidade, nesse contexto, não é apenas um dado biológico, mas uma dimensão constitutiva da pessoa, que expressa a abertura ao outro e a vocação ao amor e à comunhão.
“O corpo, de fato, e só ele, é capaz de tornar visível o que é invisível: o espiritual e o divino.”
— Karol Wojtyła, Teologia do Corpo
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2. O sentido da sexualidade
A sexualidade, segundo o personalismo, tem duplo significado:
• Unitivo: expressa o amor de comunhão e doação entre as pessoas;
• Procriativo: está ordenada à geração de nova vida.
Esses dois significados não podem ser separados sem ferir a integridade da pessoa.
Assim, a sexualidade é entendida como linguagem do amor, um meio de expressão da pessoa total, corpo e alma.
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3. A ética personalista da sexualidade
Em vez de reduzir a sexualidade ao prazer ou à função biológica, o personalismo insiste na dimensão ética do amor:
• o corpo é expressão da pessoa;
• o uso do corpo deve respeitar a dignidade da pessoa e a verdade do amor;
• o outro nunca pode ser reduzido a meio de prazer, mas deve ser reconhecido como fim em si mesmo (influência kantiana reinterpretada por Wojtyła).
“A pessoa é um bem tal que somente o amor pode justificar a entrega de si a outra pessoa.”
— Karol Wojtyła, Amor e Responsabilidade
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4. Crítica ao hedonismo e ao biologismo
O personalismo se opõe tanto:
• ao hedonismo, que absolutiza o prazer e instrumentaliza o outro;
• quanto ao biologismo, que reduz a sexualidade a um mecanismo natural, sem dimensão pessoal.
Em ambos os casos, perde-se o sentido de comunhão e de transcendência da sexualidade humana.
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5. Sexualidade e vocação ao amor
A sexualidade, para o personalismo cristão, se inscreve na vocação fundamental ao amor:
• no matrimônio, como comunhão de doação total e fecunda;
• na castidade consagrada, como entrega total a Deus e ao próximo.
Em ambos os caminhos, a sexualidade é chamada a ser integrada — não reprimida, mas elevada à verdade do amor pessoal.
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