Veja-se o que diz o grande filósofo brasileiro Henrique Cláudio de Lima Vaz: “[...] na experiência do Sentido radical, estamos diante de uma presença analógica (na acepção rigorosamente filosófica do termo) que torna possível o desvelamento de toda a presença particular. Com efeito, nenhuma presença particular pode, por definição, ocupar o campo total do sentido. Por isso mesmo o Sentido radical, como presença onipresente, é rigorosamente transcendente à toda presença particular. E como as presenças particulares não se somam numa totalidade de sentido, o Sentido radical é a um tempo presente e absolutamente transcendente. No entanto ele não é inexprimível ou inefável e eis porque podemos falar de uma experiência de Deus. Em toda a linguagem dotada de sentido em que uma realidade é dita, a presença de Deus é igualmente dita, vem a ser, a experiência de Deus tem lugar na forma especificamente humana do discurso. Se quisermos exprimir a mesma coisa per viam negationis, diremos que a experiência de Deus é experiência da impossibilidade de uma linguagem do absurdo radical do ser. Ela transpassa literalmente (empeiría) a existência inteira do homem na medida em que existir humanamente é existir logicamente: é produção incessante de sentido” (Escritos de filosofia I: Problemas de fronteira. 2.ed., São Paulo, Loyola, 1998, p.252-253).
Quando tomamos consciência de que estamos num horizonte marcado pela presença transcendental e transcendente do Sentido radical, então podemos fazer a experiência reflexa do vínculo incancelável da Palavra eterna com nosso espírito humano.
A presença do Sentido radical é transcendental porque funda no homem o amplo horizonte de sentido ou a condição de possibilidade da afirmação de todo sentido particular, que é também a condição suprema da impossibilidade de um absurdo radical.
É também transcendente porque só a Luz subsistente pode explicar a presença e a radicalidade do horizonte transcendental de sentido em nós e da sua inegabilidade.
Não podemos dizer o absurdo radical porque o sentido é anterior a qualquer pretenso absurdo. Todas as vezes que queremos afirmar a anterioridade do absurdo, somos negados em nossa pretensão. Ninguém pode afirmar o absurdo (negar o sentido) a não ser colocando a afirmação dentro de um quadro mais amplo de sentido, assim como ninguém pode negar a verdade a não ser afirmando que a negação da verdade é verdadeira e, por conseguinte, estabelecendo a prioridade da verdade sobre toda pretensão de negação da verdade. A Luz incriada sempre nos banha com sua claridade e nunca nos deixa cair na escuridão total. A Palavra eterna nos sustenta e não nos permite cair no absurdo radical. Resta voltar-nos cada vez mais conscientemente para essa Fonte inesgotável de luz e experimentar a alegria indizível de pertencer ao Sentido.
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