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A Missa é o maior poema

Celebrando a Missa, ocorreram-me alguns pensamentos. Vi e senti que a essência da Missa não está, de maneira alguma, na utilidade que ela possa ter. 

A Missa pode ensinar, mas ela não existe primeiramente para ensinar. Se quiséssemos ensinar, poderíamos marcar uma reunião ou promover um curso. Seria mais eficaz.

A Missa também não existe, em primeiro lugar, para promover a comunidade. Ela pode e deve fazê-lo, mas isso não é ainda a essência mesma da Missa. Se quiséssemos simplesmente promover a comunidade, poderíamos nos valer de outros expedientes. 

Poderíamos multiplicar as razões de caráter utilitário que pensamos atribuir à Missa. Missa “para” isto ou aquilo. Mas, assim fazendo, não encontraríamos a Missa. A sua essência está em algo grande, que não pode ser simplesmente útil, simplesmente “para”. 

A Missa é fim em si mesma. Nela contemplamos o mistério da autoentrega de Jesus. Ali vemos a caridade perfeita. Somos arrebatados pela presença mesma do “Amor que move o Sol e as outras estrelas” (Dante). 

Na Missa, faz-se presente o mistério que funda o mundo, o mistério da vida mesma de Deus. O mistério da Cruz, presente na Missa, mostra a caridade do Pai, que se entrega na autoentrega do Filho humanado. Mostra a caridade do Filho humanado, que se abandona ao Pai. Mostra, enfim, o Espírito do Pai e do Filho, que é a puríssima caridade da única vontade divina. 

Com razão, o Concílio Vaticano II diz que a Missa é o cume e a fonte de toda a vida da Igreja. A Missa é o ponto mais alto da vida da Igreja; a Igreja não pode fazer nada de mais sublime. A Missa é também o Sol que ilumina, aquece e dá vida a tudo o que a Igreja faz. 

Na Missa, entramos no mais profundo mistério de Deus. Desse modo, a Missa não vale “para”, mas vale em si mesma. Vale para contemplar. Vale tanto quanto vale a caridade divina. Vale para repousar. A nós cabe aproximar-nos desse mistério com temor e tremor, com total respeito, conscientes de que ele é digno de toda nossa admiração, ele que é capaz de arrebatar-nos a alma. 

Adélia Prado disse que a Missa é uma espécie de poema, que não admite enfeites. Eu acrescentaria que a Missa é o mais estupendo poema que me é dado admirar!

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