(Tradução: Pe. Elílio Júnior)
Bento XVI é apaixonado pela liturgia e a compreende como aquela dimensão em que o
nosso ser é assimilado ao Mistério divino da salvação; ele patrocinou tal visão
durante o seu pontificado com escritos, com a pregação e com o seu magistério. A sua
espiritualidade parece não só ter uma marca agostiniana, mas mostra também uma
influência do originário movimento litúrgico alemão, favorecido em grande parte
pelos beneditinos, em relação aos quais ele sempre teve uma especial veneração.
Neste artigo, examinaremos o seu desenvolvimento litúrgico desde a sua juventude
na Alemanha até o que ele realizou na cátedra de Pedro, pelo que somos todos
agradecidos.
A juventude
O pensamento litúrgico de Bento XVI pode ser encontrado em
grande parte na sua autobiografia «La mia vita», que lhe descreve a vida até a
sua chegada em Roma. Ratzinger foi ainda mais introduzido aos santos mistérios
quando os seus pais lhe deram de presente um missal para crianças, parecido com
o missal de bolso deles.
Quando entrou para o seminário, descobriu o novo
personalismo de Martin Buber juntamente com o ensino de Santo Tomás, cuja «lógica
cristalina» era «fechada por demais em si mesma, pelo menos na rígida neoescolástica»
pela qual era apresentada. Na universidade, foi influenciado por Michael Schmaus,
que tinha abandonado a neoescolástica para abraçar o novo movimento litúrgico,
que apresentava a fé como um retorno às Sacras Escrituras e aos Padres da
Igreja. Apraz-me inserir aqui uma nota pessoal: sinto-me em plena sintonia com
ele, uma vez que também eu deixei uma formação tomista extremamente rígida para
estudar a liturgia, e mais tarde redescobri a grande sabedoria do nosso irmão
mais velho, Santo Tomás. Raatzinger estava, a este ponto, sob o clima da «nova teologia».
Um dos seus professores era influenciado pela «teologia do mistério» de Odo Casel,
OSB, enquanto outro via na Missa o momento central de cada dia, e o estudo da
Sagrada Escritura era considerado a alma da teóloga... todos esses, temas que
seriam tratados pelo Vaticano II.
Todavia, o jovem Ratzinger tinha reservas: um certo «racionalismo
e historicismo unilaterais» do movimento litúrgico, porque alguns viam como «válida
somente uma forma de liturgia», a saber, aquela da Igreja primitiva. Não era
assim, entretanto, para De Lubac, cujo ensinamento sobre a unidade da Igreja
sustentada pela Eucaristia influenciou profundamente o seu pensamento.
O Vaticano II
O relato de Ratzinger sobre o tratamento da liturgia no
Vaticano II – do qual participou como «peritus» - é interessante. Ele afirma
que o esquema litúrgico não suscitou controvérsias no Concílio porque ninguém
esperava grandes mudanças na área. Mas aconteceu que da França e da Alemanha
houve pressão para reformar a Missa segundo a forma mais pura do Rito Romano, em
conformidade com as reformas de Pio XI e Pio XII. Uma Missa segundo tais linhas
foi rejeitada por um sínodo de Padres conciliares em 1967; não obstante, essa
ideia se tornou o modelo operativo para a Nova Missa. A Sacrosanctum Concilium
decretou a permanência do latim e auspicou que os fiéis pudessem cantar o
Ordinário da Missa em latim, e que os clérigos pudessem rezar o Ofício da mesma
maneira. Bem cedo, essa se tornou uma questão controvertida (Vittorio Messori,
«Rapporto sulla fede”, entrevista com o Cardeal Ratzinger).
Comentários
Postar um comentário