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Níveis ontológicos

Podemos considerar vários níveis ontológicos. A realidade é multifacetada e rica de níveis distintos de profundidade. Eis três níveis fundamentais para a inteligibilidade da estrutura do ente: 

a) a simples matéria, que é o de quê as coisas sensíveis são feitas. A matéria é moldável por si mesma. É o que permanece sob as diversas formas no processo das mudanças das coisas sensíveis.

b) a forma, que é o contorno inteligível das coisas. É a forma que dá o ser determinado das coisas. Sem a forma, nada teria inteligibilidade; nenhum ente seria possível, pois todo ente é um ente determinado, e a determinação (inteligibilidade) vem da forma. Pode-se aqui perguntar pelo fundamento da forma. Platão disse que tal fundamento radica-se num mundo superior, puramente inteligível. Agostinho sustentou que a mente de Deus é o fundamento de toda inteligibilidade. 

c) o ato de ser, que é aquilo pelo qual tudo o que existe, existe. Sem o ato de ser, nada seria efetivo. Este é o fundamento mais radical de todas as coisas. Está acima da forma, pois sem o ato de ser nenhuma forma seria efetiva. Aliás, sendo o ato de ser a perfeição das perfeições e o ato de todos os atos, lá onde ele é puro (em Deus), é perfeição infinita ou ilimitada, não determinada, mas superdeterminada. Nos entes, o ato de ser se dá de acordo com a determinação (limitação) da forma finita (essência). 

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