Um dos grandes aportes do Vaticano II foi referente à liturgia. Seguindo as indicações já feitas por Pio XII, na encíclica Mediator Dei, o concílio se distancia de uma visão prevalentemente jurídica ou estética da liturgia e apresenta-a sob um olhar decididamente teológico. A liturgia é obra do Cristo total, cabeça e membros. Cristo sacerdote associa a Igreja ao seu culto perfeito prestado ao Pai, e a Igreja atualiza no tempo e no espaço o sacerdócio de Cristo, que se transmite aos batizados. O sacerdócio de Cristo presente nos batizados se exerce no tempo e no espaço da vida quotidiana, com suas luzes e sombras, lutas e desafios, conquistas e alegrias, mas de modo particular se exerce na liturgia. O Vaticano II chega a dizer que a liturgia, sem esgotar o ser e o agir da Igreja, representa aquilo que nela há de melhor. É o cume para onde tende toda a sua ação e, ao mesmo tempo, a fonte de sua vitalidade.
Eu diria que a liturgia é um espaço, preparado por Deus mesmo, para que possamos olhar o seu Rosto, aquele manifestado em Cristo, o exegeta do Pai. O nosso agir ético cristão está em íntima relação com a liturgia. O ser humano, para vencer as distorções dos falsos pontos de vista e do egoísmo, deve mirar sempre o Bem absoluto, cujo brilho alarga a visão e aquece o coração. E esse Bem apareceu-nos no tempo, na vida de um homem: Jesus. Quem olha para o Senhor, purifica-se e robustece-se para fazer aquilo que ele fez: doar a vida! Mas só pode doar total e livremente a vida quem já a experimenta como ganhada para sempre. Deus nos doa a vida, e a ganhamos particularmente olhando para o seu Rosto na liturgia, com Cristo, por Cristo e em Cristo.
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