Pular para o conteúdo principal

Absoluto e vias



Parece haver três grandes meios para a aproximação do Absoluto ou para deixar que ele emerja em nós como Graça:

a) O caminho do serviço da caridade: pelo amor desinteressado devotado ao outro, especialmente ao necessitado (pobre, doente, prisioneiro…), o Amor se mostra cada vez pujante em nós.

b) O caminho da devoção: a busca afetiva, estética,  pessoal, comunitária, litúrgica… A atenção voltada para o Eterno propicia o seu nascimento em nós.

c) O caminho do discernimento intelectual. É a via preferida por quem tem pendor intelectual. Pela reflexão se alcança a certeza intelectual do Absoluto transcendente. Tal certeza se torna uma luz capaz de iluminar todas as dimensões da personalidade. No cristianismo, um Tomás de Aquino seguiu esta via. No hinduísmo, Shankara a considerava a única via que de fato é capaz de despertar definitivamente an alma, sendo as duas anteriores vias ainda incompletas. Note-se que a via do discernimento intelectual não reduz o Absoluto aos conceitos humanos, mas pelo trabalho da inteligência se chega à certeza da Realidade inefável. Com o intelecto discursivo se vai além do intelecto discursivo. É de se notar que no cristianismo se fala da visão (intelectual) como fundamento definitivo da vida bem-aventurada.

Essas vias não são excludentes, mas complementares. Uma implica em certa medida as demais. A via do discernimento intelectual, por exemplo, feita com a potência integral do nosso ser, ao libertar a alma da dependência existencial do finito, enche-a da Plenitude, da Luz e do Amor, o que a leva ao serviço desinteressado e à devoção. 


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Considerações em torno da Declaração "Fiducia supplicans"

Papa Francisco e o Cardeal Víctor Manuel Fernández, Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé Este texto não visa a entrar em polêmicas, mas é uma reflexão sobre as razões de diferentes perspectivas a respeito da Declaração Fiducia supplicans (FS), do Dicastério para a Doutrina da Fé, que, publicada aos 18 de dezembro de 2023, permite uma benção espontânea a casais em situações irregulares diante do ordenamento doutrinal e canônico da Igreja, inclusive a casais homossexuais. O teor do documento indica uma possibilidade, sem codificar.  Trata-se de uma benção espontânea,  isto é, sem caráter litúrgico ou ritual oficial, evitando-se qualquer semelhança com uma benção ou celebração de casamento e qualquer perigo de escândalo para os fiéis.  Alguns católicos se manifestaram contrários à disposição do documento. A razão principal seria a de que a Igreja não poderia abençoar uniões irregulares, pois estas configuram um pecado objetivo na medida em que contrariam o plano divino para a sex

Ponderações sobre o modo de dar ou receber a sagrada comunhão eucarística

Ao receber na mão o Corpo de Cristo, deve-se estender a palma da mão, e não pegar o sagrado Corpo com a ponta dos dedos.  1) Há quem acuse de arqueologismo litúrgico a atual praxe eclesial de dar ou receber a comunhão eucarística na mão. Ora, deve-se observar o seguinte: cada época tem suas circunstâncias e sensibilidades. Nos primeiros séculos, a praxe geral era distribuir a Eucaristia na mão. Temos testemunhos, nesse sentido, de Tertuliano, do Papa Cornélio, de S. Cipriano, de S. Cirilo de Jerusalém, de Teodoro de Mopsuéstia, de S. Agostinho, de S. Cesário de Arles (este falava de um véu branco que se devia estender sobre a palma da mão para receber o Corpo de Cristo). A praxe de dar a comunhão na boca passou a vigorar bem mais tarde. Do  concílio de Ruão (França, 878), temos a norma: “A nenhum homem leigo e a nenhuma mulher o sacerdote dará a Eucaristia nas mãos; entregá-la-á sempre na boca” ( cân . 2).  Certamente uma tendência de restringir a comunhão na mão começa já em tempos pa

Absoluto real versus pseudo-absolutos

. Padre Elílio de Faria Matos Júnior  "Como pensar o homem pós-metafísico em face da exigência racional do pensamento do Absoluto? A primeira e mais radical resposta a essa questão decisiva, sempre retomada e reinventada nas vicissitudes da modernidade, consiste em considerá-la sem sentido e em exorcisar o espectro do Absoluto de todos os horizontes da cultura. Mas essa solução exige um alto preço filosófico, pois a razão, cuja ordenação constitutiva ao Absoluto se manifesta já na primeira e inevitável afirmação do ser , se não se lança na busca do Absoluto real ou se se vê tolhida no seu exercício metafísico, passa a engendrar necessariamente essa procissão de pseudo-absolutos que povoam o horizonte do homem moderno" (LIMA VAZ, Henrique C. de. Escritos de filosofia III. Filosofia e cultura. São Paulo: Loyola, 1997). Padre Vaz, acertadamente, exprime a insustentabilidade do projeto moderno, na medida em que a modernidade quer livrar-se do Absoluto real, fazendo refluir