Pontos histórico-teológicos importantes
- No uso pagão, mystérion é usado para referir-se a ensinamentos filosóficos que elevam o iniciado à suprema realidade ou a práticas cultuais ou representações sagradas que colocam o iniciado no âmbito da divindade (por exemplo, no culto de Ísis, Mitra ou Osiris). A raíz grega do vocábulo mysterion é myein, que significa fechar a boca, calar-se.
--Veja-se que em Elêusis, cidade da Grécia antiga, celebrava-se o culto de Deméter. Coré (grão de trigo), raptada por Plutão, desce ao mundo inferior (semeadura), e sua mãe Deméter, desesperada, corre à procura da filha destruindo tudo por onde passa (inverno). O deus Hélio (sol) sai ao encontro de Deméter para ajudá-la (primavera) e Coré volta a viver neste mundo (vegetação que floresce e frutifica no verão), até o momento em que será de novo raptada por Plutão. Os gregos notavam que os homens também estão sujeitos à definhar, embora desejem a imortalidade (athanasía). Por isso, criam que o iniciado que representava ritualmente a estória do herói mitológico (no caso, Coré) adquiria a mesma sorte dele: a vida para além da morte.
- No âmbito judaico, mais precisamente no âmbito do pensamento apocalíptico, mystérion diz respeito à implantação final da soberania de Deus, algo que está inicialmente oculto nos desígnios divinos, mas que se revela na história no momento determinado por Deus. Veja-se o livro de Daniel e a literatura apocalíptica judaica nascente, como o livro etíope de Enoque e os escritos de Qumram (séc. III – I a.C.).
- No Novo Testamento o termo ocorre várias vezes. Nos evangelhos sinóticos, aparece em relação ao Reino de Deus (cf. Mc 4,11; Mt 13,11; Lc 8,10). Nas cartas paulinas ou deuteropaulinas, designa a vontade salvadora de Deus, oculta desde a eternidade, mas tornada manifesta agora, não só a um grupo de iniciados, mas com um alcance cósmico (cf. 1Cor 2,7ss.; Ef 1,9; 3,5.10). A realização concreta do mystérion acontece em Jesus. Ele é o mystérion personalizado (cf. Ef 3,4; Cl 2,2). Entretanto, porque Jesus exige participação no seu mystérion, a Igreja com o ministério da pregação lhe é associada (cf. Ef 3,3-11.).
-- “Uma vez que com mystérion não se designa apenas o plano de salvação de Deus, mas também a maneira pela qual as pessoas são introduzidas graciosamente na concretização da salvação em Cristo, a saber, no sentido de um processo ainda em andamento, é plausível utilizá-lo para todas as ações em que esta inclusão acontece de forma histórica e concreta. Assim como a proclamação faz parte do mystérion como acontecimento que leva o mystérion Cristo à sua plenitude, assim também os atos cultuais mais tarde chamados ‘sacramentos’ servem a essa concretização e podem, por isso, com razão ser igualmente chamados mysteria”.
- No Ocidente, os mystéria foram traduzidos por sacramenta. Sacramentum tem a raiz sacer, que significa relação com o divino. O verbo sacrare significa devotar à divindade. O sufixo mentum significa o meio ou instrumento pelo qual se faz algo. Donde se vê que sacramentum é aquilo mediante o que algo se torna sagrado. Na antiga Roma sacramentum era o dinheiro que os homens em litígio judicial consagravam à divindade antes de iniciar o processo civil. No plano militar, era o juramento, assinalado por uma tatuagem, prestado pelos recrutas perante os deuses quando eram incorporados à milícia.
- No ambiente cristão, sacramentum assumia um novo sentido, o de mystérion (traduções dos LXX e do Novo Testamento). Tertuliano o emprega para designar o juramento do neófito e o rito do batismo: “Vocati sumus ad militiam Dei vivi iam tunc cum in sacramenti verba respondemus" (Ad martyres, 3).
- Santo Agostinho elabora o conceito de sacramento como sinal sagrado e visibile verbum. Visto que os sinais podem ser polivalentes, é preciso que a palavra o acompanhe: “Detrahe verbum, et quid est aqua nisi aqua? Accedit verbum ad elementum, et fit Sacramentum, etiam ipsum tamquam visibile verbum” (In Iohanem, 80,3).
- Agostinho distingue também entre o sinal visível (sacramentum) e a realidade que ele comunica (res sacramenti), o sinal e seu significado.
- Em Agostinho, contudo, sacramento permanece um termo amplo. Contam-se 304 sacramentos ou sinais do Invisível em suas obras: objetos, feitos, palavras... Mas entre estes Agostinho distingue um trio especial, que são os sacramentos da iniciação cristã: “Procedemos com toda parcimônia quando se trata de celebrar os sacramentos da liberdade cristã. Então bastam água, trigo, vinho, óleo (De doctrina chistiana, 3,10).
- Por causa da heresia donatista, Agostinho aprofunda suas reflexões sobre os sacramentos. Desenvolve o conceito de caráter (charactér, marca, selo) e também evidencia que a eficácia dos sacramentos não depende da santidade do ministro, mas da ação de Deus.
Mystérion, mystéria, sacramentum, sacramenta
- O termo sacramento vem do latim sacramentum, que, por sua vez, é a tradução do grego mystérion. Mystéria é o plural de mystérion, assim como sacramenta é o plural de sacramentum.
- No uso pagão, mystérion é usado para referir-se a ensinamentos filosóficos que elevam o iniciado à suprema realidade ou a práticas cultuais ou representações sagradas que colocam o iniciado no âmbito da divindade (por exemplo, no culto de Ísis, Mitra ou Osiris). A raíz grega do vocábulo mysterion é myein, que significa fechar a boca, calar-se.
--Veja-se que em Elêusis, cidade da Grécia antiga, celebrava-se o culto de Deméter. Coré (grão de trigo), raptada por Plutão, desce ao mundo inferior (semeadura), e sua mãe Deméter, desesperada, corre à procura da filha destruindo tudo por onde passa (inverno). O deus Hélio (sol) sai ao encontro de Deméter para ajudá-la (primavera) e Coré volta a viver neste mundo (vegetação que floresce e frutifica no verão), até o momento em que será de novo raptada por Plutão. Os gregos notavam que os homens também estão sujeitos à definhar, embora desejem a imortalidade (athanasía). Por isso, criam que o iniciado que representava ritualmente a estória do herói mitológico (no caso, Coré) adquiria a mesma sorte dele: a vida para além da morte.
- No âmbito judaico, mais precisamente no âmbito do pensamento apocalíptico, mystérion diz respeito à implantação final da soberania de Deus, algo que está inicialmente oculto nos desígnios divinos, mas que se revela na história no momento determinado por Deus. Veja-se o livro de Daniel e a literatura apocalíptica judaica nascente, como o livro etíope de Enoque e os escritos de Qumram (séc. III – I a.C.).
- No Novo Testamento o termo ocorre várias vezes. Nos evangelhos sinóticos, aparece em relação ao Reino de Deus (cf. Mc 4,11; Mt 13,11; Lc 8,10). Nas cartas paulinas ou deuteropaulinas, designa a vontade salvadora de Deus, oculta desde a eternidade, mas tornada manifesta agora, não só a um grupo de iniciados, mas com um alcance cósmico (cf. 1Cor 2,7ss.; Ef 1,9; 3,5.10). A realização concreta do mystérion acontece em Jesus. Ele é o mystérion personalizado (cf. Ef 3,4; Cl 2,2). Entretanto, porque Jesus exige participação no seu mystérion, a Igreja com o ministério da pregação lhe é associada (cf. Ef 3,3-11.).
-- “Uma vez que com mystérion não se designa apenas o plano de salvação de Deus, mas também a maneira pela qual as pessoas são introduzidas graciosamente na concretização da salvação em Cristo, a saber, no sentido de um processo ainda em andamento, é plausível utilizá-lo para todas as ações em que esta inclusão acontece de forma histórica e concreta. Assim como a proclamação faz parte do mystérion como acontecimento que leva o mystérion Cristo à sua plenitude, assim também os atos cultuais mais tarde chamados ‘sacramentos’ servem a essa concretização e podem, por isso, com razão ser igualmente chamados mysteria”.
- No Ocidente, os mystéria foram traduzidos por sacramenta. Sacramentum tem a raiz sacer, que significa relação com o divino. O verbo sacrare significa devotar à divindade. O sufixo mentum significa o meio ou instrumento pelo qual se faz algo. Donde se vê que sacramentum é aquilo mediante o que algo se torna sagrado. Na antiga Roma sacramentum era o dinheiro que os homens em litígio judicial consagravam à divindade antes de iniciar o processo civil. No plano militar, era o juramento, assinalado por uma tatuagem, prestado pelos recrutas perante os deuses quando eram incorporados à milícia.
- No ambiente cristão, sacramentum assumia um novo sentido, o de mystérion (traduções dos LXX e do Novo Testamento). Tertuliano o emprega para designar o juramento do neófito e o rito do batismo: “Vocati sumus ad militiam Dei vivi iam tunc cum in sacramenti verba respondemus" (Ad martyres, 3).
- Santo Agostinho elabora o conceito de sacramento como sinal sagrado e visibile verbum. Visto que os sinais podem ser polivalentes, é preciso que a palavra o acompanhe: “Detrahe verbum, et quid est aqua nisi aqua? Accedit verbum ad elementum, et fit Sacramentum, etiam ipsum tamquam visibile verbum” (In Iohanem, 80,3).
- Agostinho distingue também entre o sinal visível (sacramentum) e a realidade que ele comunica (res sacramenti), o sinal e seu significado.
- Em Agostinho, contudo, sacramento permanece um termo amplo. Contam-se 304 sacramentos ou sinais do Invisível em suas obras: objetos, feitos, palavras... Mas entre estes Agostinho distingue um trio especial, que são os sacramentos da iniciação cristã: “Procedemos com toda parcimônia quando se trata de celebrar os sacramentos da liberdade cristã. Então bastam água, trigo, vinho, óleo (De doctrina chistiana, 3,10).
- Por causa da heresia donatista, Agostinho aprofunda suas reflexões sobre os sacramentos. Desenvolve o conceito de caráter (charactér, marca, selo) e também evidencia que a eficácia dos sacramentos não depende da santidade do ministro, mas da ação de Deus.
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