Pular para o conteúdo principal

Semana de Filosofia

Pe. Elílio de Faria Matos Júnior

De 07 a 11 de novembro p.p., aconteceu a XII Semana de Filosofia do Curso de Filosofia do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (CES/JF) e Instituto Teológico Arquidiocesano Santo Antônio (ITASA) com o tema “Filosofia da Religião: um diálogo entre fé e razão”. O evento foi organizado pelo Departamento Acadêmico (DA) com o apoio da coordenação e dos professores do Curso de Filosofia e contou com várias conferências, minicursos e comunicações. A abertura, ocorrida no Campus Academia, foi abrilhantada pela excelente apresentação do Coral Pró-Música e contou com a presença do Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora, que, na ocasião, reafirmou a importância do diálogo entre fé e razão, objeto de explanação de um dos mais importantes documentos do pontificado do Beato João Paulo II, a Carta Encíclica Fides et Ratio, de setembro de 1998. Após a abertura, o evento passou a realizar-se no Campus Seminário (no prédio do Seminário Arquidiocesano Santo Antônio), de modo que, ao longo da semana, os participantes puderam entrar em contato com muitas formas de pensar e com os desafios que o mundo contemporâneo apresenta ao cristão que procura viver a sua fé sem renunciar às exigências da razão.

Vale lembrar que as relações entre fé e razão pertencem, se assim se pode dizer, ao “DNA” de nossa civilização ocidental, que tem como eixos fundamentais e constitutivos a fé na Palavra de Deus revelada e acolhida na Igreja, de um lado, e o ideal grego da razão, de outro. É verdade que muitos pretendem deixar para trás as raízes do Ocidente e recomeçar a história sem a fé no Cristo e com o uso de uma razão meramente instrumental, fechada ao mistério. A Igreja acredita, porém, que a fé no Lógos divino encarnado conjugada com o sério exercício de uma razão que se abre à transcendência poderá indicar o caminho para um futuro digno do homem, superando, assim, a grande “crise de sentido” por que passa a humanidade no momento atual.

Recordem-se as palavras do Beato João Paulo II: “Esta verdade, que Deus nos revela em Jesus Cristo, não está em contraste com as verdades que se alcançam filosofando. Pelo contrário, as duas ordens de conhecimento conduzem à verdade na sua plenitude. A unidade da verdade já é um postulado fundamental da razão humana, expresso no princípio de não-contradição. A Revelação dá a certeza desta unidade, ao mostrar que Deus criador é também o Deus da história da salvação. Deus que fundamenta e garante o caráter inteligível e racional da ordem natural das coisas, sobre o qual os cientistas se apoiam confiadamente, é o mesmo que Se revela como Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Esta unidade da verdade, natural e revelada, encontra a sua identificação viva e pessoal em Cristo, como recorda o apóstolo Paulo: « A verdade que existe em Jesus » (Ef 4, 21; cf. Col 1, 15-20). Ele é a Palavra eterna, na qual tudo foi criado, e ao mesmo tempo é a Palavra encarnada que, com toda a sua pessoa, revela o Pai (cf. Jo 1, 14.18). Aquilo que a razão humana procura « sem o conhecer » (cf. At 17, 23), só pode ser encontrado por meio de Cristo: de fato, o que n'Ele se revela é a « verdade plena » (cf. Jo 1, 14-16) de todo o ser que, n'Ele e por Ele, foi criado e, por isso mesmo, n'Ele encontra a sua realização (cf. Col 1, 17)” (Carta Encíclica Fides et Ratio, n. 34).

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Adorar a Trindade: contemplação teológica segundo o "Compendium Theologiae" de Santo Tomás de Aquino

“Credo in Deum Patrem omnipotentem… et in Iesum Christum… et in Spiritum Sanctum” ( Symbolum Fidei) ⸻ I. Deus: Mistério abissal de Ser, Luz e Amor Antes de tudo, somos conduzidos ao silêncio adorante diante de Deus, cuja essência é ato puríssimo, sem qualquer mistura de potência ou composição. “Deus est actus purus absque potentialitatis permixtione” ( Compendium theologiae , c. 28). Ele é a fonte e plenitude de todas as perfeições. E a mais alta dessas perfeições, segundo Tomás, é o inteligir: “Intelligere praecellere videtur, cum res intellectuales sint omnibus aliis potiores” (ibid.). Deus é, pois, luz infinita, inteligência plena. Mas este inteligir não é acidental, nem sucessivo, nem discursivo: é eterno, simultâneo, simples e perfeitíssimo. “Intelligentia Dei absque omni successione est” (c. 29), e seu modo de conhecer é por sua própria essência: “Non per aliam speciem, sed per essentiam suam intelligit” (c. 30). Deus é sua inteligência, e seu inteligir é sua própria vida: “Ipse ...

Missas da Novena de Santo Antônio em Ewbank da Câmara

As Missas com a Novena de Santo Antônio de Ewbank da Câmara (MG) começam no dia 4 de junho (sábado), às 19h, na matriz de Santo Antônio. Publicamos, dia por dia, para as equipes de liturgia e o povo em geral, os textos do comentário, as preces e o fato da vida de Santo Antônio com a respectiva oração do dia da novena. MISSA DO 1° DIA DA NOVENA - 4 de junho às 19h COMENTÁRIO INICIAL Com.: Com alegria, acolhemos a todos para esta Santa Missa, na qual celebramos o mistério da Ascensão do Senhor. Ao subir aos céus, Jesus nos mostra que estamos a caminho da casa do Pai. Não temos aqui morada permanente. Mas é certo que devemos viver bem aqui neste mundo, fazendo a vontade de Deus, para passarmos para a Casa do Pai com paz e tranquilidade. Hoje, celebramos também o 1° dia da novena de nosso padroeiro Santo Antônio, cujo tema é a “Vocação de Antônio”. Foi porque ele ouviu a voz de Deus em sua vida que se tornou santo, seguindo os passos de Jesus até o céu. Cantemos para acolher o celeb...

Deus como “Esse Subsistens”: um “conceito saturado” para a razão

Na filosofia de Santo Tomás de Aquino, uma das expressões mais densas e provocadoras do mistério divino é aquela que designa Deus como ipsum esse subsistens — o próprio Ser subsistente . Esta fórmula, que representa o cume do pensamento metafísico, não pretende, contudo, oferecer uma definição de Deus no sentido estrito e exaustivo. Antes, ela marca o limite e a elevação máxima a que a razão pode chegar no exercício de sua abertura ao ser. Com efeito, o ser ( esse ) é aquilo que primeiro se apreende pelo intelecto; é o ato mais íntimo e profundo de tudo o que é. Apreendemos o ser presente nos entes antes de reconhecermos o Ser puro subsistente como seu fundamento absoluto.  Ora, ao afirmar que Deus é o Ser subsistente, Santo Tomás quer dizer que em Deus não há distinção entre essência e ato de ser pleno, entre o que Ele é e a sua existência necessária. Ele é o próprio Ser — não como um ser entre outros, nem como um gênero supremo, mas como o Ato puro de ser, sem nenhuma composição...