Dom Estêvão Bettencourt, OSB
Aliás, 'que é a verdade?', já perguntava Pilatos (Jo 18,38). Existe a verdade? A sociedade contemporânea tende a relativizá-la, principalmente quando se trata de explicar o mistério do homem. As ciências naturais, em seu progresso constante, são cautelosas ao propor suas teses: o que hoje parece ser a verdade em Física, em Astronomia, em Biologia... amanhã poderá ser tido como erro. A Filosofia moderna é crítica e, por vezes, cética no tocante à possibilidade de atingir a verdade. Todavia é precisamente neste mundo que o cristão há de ter a coragem de afirmar que ele conhece a Verdade, não por ser mais inteligente do que os seus semelhantes, mas porque Deus lhe revelou o verdadeiro sentido do homem e da vida.
Que falta então ao mundo de hoje? – Pode-se dizer que lhe falta o testemunho mais lúcido da verdade revelada por Deus e confiada aos discípulos de Cristo. 'Vós sois o sal da terra', diz o Senhor. 'Mas, se o sal perder o seu sabor, com que o salgaremos?' (Mt 5,13). Os tempos confusos, cheios de linhas cruzadas e contradições fantasiosas em que vivemos, parecem estar interpelando o sal da terra e pedindo-lhe que não deixe dissolver-se o seu sabor. É a graça de Deus que salva o mundo... graça desse Deus que quer agir entre os homens mediante os homens numa continuada encarnação. Daí a pergunta: que fazes, cristão, do teu Batismo? Que fazes da tua Eucaristia? Que fazes da Palavra da Verdade que te foi entregue graciosamente para que amasses e irradiasses? Ama a Verdade e realiza o teu martyrion (testemunho) até as últimas consequências, ainda que isto te custe a própria vida. Dar a vida pela verdade é precioso e indispensável serviço aos irmãos, é fonte de profunda alegria.
Texto publicado na Revista Pergunte e Responderemos nº 449, Outubro/1999
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