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Bento XVI: quatro anos de pontificado

Padre Elílio de Faria Matos Júnior

Há exatos quatro anos subia ao sólio pontifício Joseph Ratzinger com o nome de Bento XVI, depois de uma das eleições mais rápidas da história dos conclaves. Bento XVI tem feito do anúncio da primazia de Deus o eixo de seu pontificado. Não de um deus qualquer, mas do verdadeiro Deus, Aquele se mostrou a nós com um rosto humano em Jesus de Nazaré. Um mote que figura na Regra de São Bento de Núrsia, a quem muito o Papa Bento XVI admira, a ponto de trazer o seu nome – Benedictus - , diz:  Nihil Christo anteponere – Nada antepor a Cristo. A grande mensagem de Bento XVI não tem sido outra. Pois o Papa sabe que longe de Cristo o homem se desorienta e se perde. Nesse sentido, disse em recente carta aos bispos do mundo inteiro: “Conduzir os homens a Deus, ao Deus que fala na Bíblia: essa é a prioridade suprema da Igreja e do Sucessor de Pedro neste tempo”.

Os últimos meses têm sido os mais difíceis para o atual pontificado. As palavras e atitudes do Papa são grandemente instrumentalizadas. Dentro e fora da Igreja, fazem com que os pronunciamentos e decisões de Bento XVI, retirados de seu contexto e complexidade, se voltem contra ele. E isso de forma impiedosa e sem nenhum respeito pela figura do Sucessor de Pedro. Há muito tempo não se via tantas vociferações contra um Pontífice.

As instrumentalizações das palavras papais, em grande parte, se devem a um clima cultural que já não é capaz de compreender as exigências da fé católica. Mesmo dentro da Igreja esse clima ganhou terreno, pois que se instalou uma grande crise de fé a partir da consolidação, em muitos segmentos eclesiais, de uma interpretação do Concílio Vaticano II que o vê como um evento de ruptura na história da Igreja. Para muitos, ele teria provocado uma “revolução copernicana” na Igreja. Tal interpretação, Bento XVI a chamou de “hermenêutica da ruptura”, e todos seus esforços têm consistido em contrapor-se a essa tendência e, para o bem da fé, da Tradição, da Igreja e do homem de nosso tempo, dar ao Vaticano II seu legítimo lugar através de uma “hermenêutica da renovação na continuidade”. Sim, o legítimo Vaticano II não pôde ter constituído uma nova igreja, já que concílio algum tem a autoridade para fundar uma nova religião.

Bento XVI sabe, com certeza, que grande parte da oposição que vem sofrendo deve-se ao fato de que seu magistério, de um modo direto e claro, coloca em questão a “hermenêutica da ruptura”, que, hegemônica durante 40 anos, começa agora a sofrer grandes abalos.

Rezemos pelo Papa Bento XVI, em consonância com o que ele mesmo, como que prevendo os dias atuais, pediu na homilia da Santa Missa de início de seu pontificado: "Rezai por mim, para que eu não fuja, por medo, dos lobos".

Comentários

  1. Meu querido Pe Elílio:
    E como é difícil combater os lobos, principalmente os internos...esses são os mais penosos e perigosos.Mas confiemos nas promessas de Jesus: estarei com vcs até o fim dos séculos.
    Abraço

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  2. Hoje perdeu-se o sentido do sagrado nas igrejas, padres adeptos da Teologia da Libertação, são buchas de canhão para o comunismo.

    Uma praga que veio da Russia, e Nossa Senhora de Fátima bem que alertou, mas quem se importa?

    Bofes e Betos aos montes fazendo do ser humano um tubo disgestivo apenas.
    Como pode um sacerdote não ver que por traz dessa teologia aparentemente simpática todo o cristianismo como doutrina sai de órbita.
    Missas afro com pipoca, missa do boiadeiro, missa do sei lá o que.

    É essa a fumaça de satanás que entrou na igreja.

    Que o papa sopre pra bem longe esta nuvem negra, e a luz da tradição volte a iluminar com força todas as paróquias.

    Viva o papa!

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  3. Certamente que temos todos que rezar pelo nosso Sumo Pontífice que conduz de forma magnífica a nossa Igreja. Se, depois de Deus, ele não puder contar com o nosso apoio, com quem contará para lutar contra os "lobos". São muitos e estão por toda a parte. Às vezes o que mais assusta é que os encontramos dentro da própria Igreja.
    Papa Bento XVI, continue com sua firmeza e dedicação à Santa Igreja, nós rezamos por vós!

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  4. Não seria o caso de se convocar um concílio dogmático para tentar acabar de vez com essa confusão?

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