A questão mais candente dos nossos tempos em face da fé cristã não é o “marxismo cultural”, esse espantalho que nem existe como é propalado, nem o campo de atenção mais originário é o político ou social. O grande problema é aquele anunciado por Nietzsche há mais de um século, ele mesmo defensor do niilismo (e, por sinal, profundo anti-socialista e, por, conseguinte, anti-marxista): a mudança radical do espírito e a introdução de uma nova época em que “os valores supremos perdem o valor; falta a finalidade; falta a resposta ao ‘por quê?’”. Essa nova época tem raízes longínquas, mas Nietzsche é quem tem plena consciência de seu desabrochar no ocaso da modernidade.
Depois de Hegel, a filosofia (as suas correntes majoritárias) caiu no domínio irrestrito do devir. O marxismo, como hegelianismo invertido, ainda procura estabelecer como fundamento uma estrutura estável: a lei do desenvolvimento histórico. Mas em geral, depois de Hegel, qualquer estrutura, por mínima que seja, tende a ser desconstruída. O Ser e sua estabilidade são negados.
Pouco adiantará a insistência dos corifeus anti-marxistas e sua a luta contra o tal “marxismo cultural”. O problema é mais profundo e mais corrosivo. É todo o espírito de uma época que está mudando, e Nietzsche no século XIX já farejava o tamanho da mudança que viria. Ele anunciava o hóspede incômodo: o niilismo.
Aos cristãos destes novos tempos caberá conviver com o espírito niilista. Não adiantarão os chiliques nem o apelo a teorias irracionais. Será que os tempos niilistas oferecerão uma nova “chance”, uma nova oportunidade, para testemunharmos a fé no Cristo e a prática do amor? Isso vai depender sobretudo dos cristãos. Discernimento, criatividade, diálogo e retorno ao Ser sem fanatismo e tradicionalismo são palavras importantes.

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