É comum, sobretudo em círculos modernos, a acusação de que o “Deus da filosofia” seria uma entidade impessoal, abstrata, distante das realidades humanas e incapaz de responder à sede de comunhão presente no coração religioso. Essa crítica, no entanto, não resiste a um exame sério, desde que se compreenda o que se entende por “filosofia” e, mais profundamente, por “verdade”.
Filosofia, enquanto autêntica philosophia, não é mero exercício conceitual ou construção cultural, mas busca do real enquanto tal — amor à sabedoria, que é, em última instância, amor à verdade do ser. E a verdade não é plural ou relativa em sua raiz: ou se atinge o real, ou se permanece na aparência. Nesse sentido, somente a filosofia que alcança a verdade é, propriamente, filosofia em sentido pleno. E se é verdade que Deus é o fundamento do ser, então o Deus da filosofia verdadeira é o próprio Deus verdadeiro.
Ora, este Deus, conforme a inteligência humana pode atingi-Lo por suas vias mais elevadas, não é uma abstração fria ou uma força neutra. Ao contrário, é Actus Purus, Ato Puro de Ser, sem mistura de potência ou limitação. Em sua absoluta simplicidade, Ele é mais do que pessoal: é superpessoal. A pessoalidade finita, tal como a experimentamos, é apenas uma imagem pálida da plenitude espiritual que constitui o ser divino. Deus é Espírito puríssimo, total presença de si a si mesmo, sem sombra de ignorância ou dispersão. Em Deus não há fragmentação, não há tempo que separe passado, presente e futuro: tudo Nele é eterno presente, plena autoconsciência.
Dizer que Deus é “concreto” não significa, nesse contexto, que seja um ente entre outros, um indivíduo empírico entre indivíduos. Significa que Ele é ipsa concretissima realitas, a realidade mais concreta e fundamentadora de todas as demais. A verdadeira concretude não se mede pela sensibilidade, mas pela plenitude ontológica. E Deus é a plenitude do ser, o Esse Subsistens, o ser em sua inteireza e perfeição subsistente, do qual todas as criaturas participam por analogia e por dom.
Assim, o Deus da filosofia, quando esta é autêntica e verdadeira, não é outro senão o Deus vivo, o Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó — mas compreendido sob a luz natural da razão elevada à sua mais alta potência. Ele é o Outro e, ao mesmo tempo, o mais íntimo de nós, mais interior a nós do que nós mesmos, como já intuíra Santo Agostinho. Recusar esse Deus sob a alegação de impessoalidade é, na verdade, recusar a profundidade do próprio conceito de pessoa, que em Deus atinge sua expressão máxima como pura relação subsistente, pura inteligência e puro amor.
Não se trata, portanto, de opor o Deus da fé ao Deus da filosofia, como se fossem realidades divergentes. A oposição verdadeira se dá entre a falsa filosofia, que projeta um deus morto, e a filosofia verdadeira, que se abre à realidade viva e absoluta do Ser que é em si mesmo luz, verdade e vida.
O texto filosófico "O Deus da Filosofia" aqui apresentado é agradável de ler pela objetividade e até simplicidade. Embora seja complexo o tema, parece-me que a Filosofia simplifica ou o Padre Elílio procura simplificar.
ResponderExcluir