Ai de mim se não propagar o tomismo — dizia Maritain. E eu o digo com ele.
O tomismo é a filosofia da verdade. Ele parte da constatação, por reflexão, de que a inteligência está estruturalmente voltada para a afirmação da verdade, que é a condição transcendental da vida do espírito. Quem afirma que a verdade não existe, afirma ser verdade que a verdade não existe, caindo, assim, em contradição. Essa contradição mostra que a afirmação da verdade é inalienável. O espírito sempre tende à verdade na afirmação do juízo; inclusive nos atos preparatórios da afirmação, como os atos de simples apreensão, esta já a preparação da afirmação da verdade. Sendo filosofia da verdade, o tomismo é também a filosofia da vida da inteligência, já que a inteligência vive da verdade.
O tomismo é a filosofia do ato de ser. Todos os entes existem na medida em que têm o ato de ser. O ato de ser é mais do que a simples essência; é o ato da essência. Lá onde o ato de ser é puro (no Motor imóvel, na Causa incausada, no Ser necessário, no Ser perfeitíssimo, na Inteligência universal), não há limitação alguma de atualidade ou de ser. De si, o ato de ser é ilimitado. Ele só se limita nos entes em virtude da limitação da essência de cada ente. Em Deus, em que não há nenhuma essência limitada, o ato de ser é pleno e sem restrição alguma.
O tomismo é a filosofia da participação. Participação implica participado e participante. O tomismo reconhece o “lugar” ontológico de cada realidade, sem confusão, mas também sem desligamento. O todo da realidade é uma unidade na diferença, uma unidade abarcada pelo Ser, que doa ser aos entes. A Realidade realíssima — a única de existe por direito — é o Ser subsistente, que chamamos de Deus. Ser puro, é puro ato. Dele participam, por via de criação, os entes, constituídos de uma porção do ato de ser delimitada por uma potência receptiva (a essência). Os entes criados não existem de direito, mas de fato, como participantes (como aqueles que têm algo do ser) fundados no Participado (Aquele que é o Ser).
Deixo aqui a palavra de S. Paulo VI, na sua Carta Apostólica Lumen Ecclesiæ (1974), sobre S. Tomás e o tomismo:
“Foi possível, portanto, definir o pensamento de Santo Tomás como filosofia do ser, considerado, naturalmente, tanto em seu valor universal quanto em suas condições existenciais; e é igualmente sabido que desta filosofia ele ascende à teologia do Ser divino, tal como subsiste em si mesmo e tal como se revela tanto na sua Palavra como nos acontecimentos da economia da salvação e especialmente no mistério da Encarnação. .
Em louvor deste realismo do ser e do pensamento, o Nosso Predecessor Pio XI, num discurso aos universitários, pôde pronunciar estas significativas palavras: ‘No tomismo, por assim dizer, há um certo Evangelho natural, um fundamento incomparavelmente sólido para toda a construções científicas, porque a característica do tomismo é ser antes de tudo objetivo: suas construções ou elevações do espírito não são simplesmente abstratas, mas são construções do espírito que seguem o convite real das coisas (...). O valor da doutrina tomista nunca será perdido, porque o valor das coisas teria que ser perdido.’
O que torna possível esta filosofia e teologia é, sem dúvida, o reconhecimento da capacidade cognitiva do intelecto humano fundamentalmente saudável, dotado de um certo gosto pelo ser, com o qual tende a entrar em contacto em cada grande ou pequena descoberta da realidade essencial, por exemplo. assimilar todo o seu conteúdo e ascender à consideração das razões e causas supremas, que dão a explicação definitiva.
Santo Tomás, de fato, como filósofo e teólogo cristão, descobre em cada ente a participação do Ser absoluto que cria, sustenta e energiza ex alto toda a realidade criada, toda a vida, todo pensamento, todo ato de fé.”
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