Pular para o conteúdo principal

Porque filosofar é fundamental...

O que dizer da filosofia na hora atual da história da humanidade? Para muitos, ela já não tem nenhuma razão de ser, uma vez que as ciências particulares haveriam tomado o seu lugar. Para outros, ela não oferece nenhuma resposta às questões fundamentais da vida humana, mas está sempre às voltas com os problemas que rechearam a sua longa trajetória e que ela, a filosofia, nunca pôde resolver de maneira definitiva.

Como quer que seja, para mim não se pode fugir da filosofia, ainda que se a considere um saber reformável e sem muitas respostas definitivas para as grandes questões humanas. A filosofia ocupa um lugar teórico que jamais pode ser ocupado pelas ciências particulares e que encontra seu fundamento na constituição do espírito humano, que tende a ir às últimas consequências do pensamento enquanto tal. Na verdade, a filosofia é aquela instância do saber crítico e reflexivo que mantém o olhar dirigido para o todo, sem os limites que o estatuto de cada ciência particular impõe. Só a filosofia pode encarar o ser como tal e no seu todo, ainda que não possa desvendar-lhe o mistério último. Sem a filosofia, o pensar humano se reduz a uma pobre coisa, sem a perspectiva de liberdade infinita que só o olhar filosófico pode trazer.

Alguém talvez dirá que não é preciso nem é possível filosofar, aduzindo uma série de argumentos para justificar a sua posição. Mas, como já reconhecia Aristóteles, até mesmo para dizer que não se deve filosofar, deve-se filosofar, isto é, devem-se colocar questões que assumem o caráter da radicalidade que ultrapassa o âmbito metodológico das ciências. A filosofia não pode ser negada sem que se filosofe. Até para concluir que certas perguntas permanecem sem resposta definitiva, deve-se refletir em nível filosófico. Se não queremos plainar sorrateiramente apenas buscando teorias que expliquem o comportamento dos entes do mundo, devemos abraçar a reflexão que oferece as asas da crítica radical, do pensamento abissal e das perguntas mais derradeiras e que faz o homem voar segundo as suas genuínas possibilidades; tal reflexão se chama filosofia.

Comentários

  1. Ao meu ver, a tal morte da filosofia em nossa civilização é uma farsa. O que acontece é que os relativistas/progressistas tentam monopolizar o discurso filosófico e menosprezar a verdadeira filosofia, que é a busca da Verdade, para poderem seguir com suas agendas. Precisamos urgentemente de novos, verdadeiros e corajosos filósofos.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Criação "ex nihilo"

Padre Elílio de Faria Matos Júnior Em Deus, e somente em Deus, essência e existência identificam-se. Deus é o puro ato de existir ( Ipsum Esse ), sem sombra alguma de potencialidade. Ele é a plenitude do ser. Nele, todas as perfeições que convém ao ser, como a unidade, a verdade, a bondade, a beleza, a inteligência, a vontade, identificam-se com sua essência, de tal modo que podemos dizer: Deus é a Unidade mesma, a Verdade mesma, a Bondade mesma, a Beleza mesma... Tudo isso leva-nos a dizer que, fora de Deus, não há existência necessária. Não podemos dizer que fora de Deus exista um ser tal que sua essência coincida com sua existência, pois, assim, estaríamos afirmando um outro absoluto, o que é logicamente impossível. Pela reflexão, pois, podemos afirmar que em tudo que não é Deus há composição real de essência (o que alguma coisa é) e existência (aquilo pelo qual alguma coisa é). A essência do universo criado não implica sua existência, já que, se assim fosse, o universo, contingen...

A totalidade do Ser e o acesso filosófico a Deus em Lorenz B. Puntel

1. Introdução: a retomada da metafísica Lorenz B. Puntel insere-se no esforço contemporâneo de reabilitar a metafísica, mas de forma criativa, com um projeto que ele denomina de “nova metafísica”. Em vez de simplesmente repetir modelos do passado ou rejeitar a metafísica sob influência kantiana, positivista ou heideggeriana, Puntel busca um ponto de partida radical: a capacidade estrutural da mente de apreender a totalidade do ser. Esse deslocamento inicial é decisivo. A filosofia moderna muitas vezes concentrou-se na relação sujeito/objeto, nas condições da experiência ou nas linguagens que estruturam o pensamento. Puntel recorda que tudo isso já pressupõe algo mais originário: que sempre nos movemos no horizonte do ser como um todo. É essa totalidade que se torna o objeto próprio da nova metafísica. ⸻ 2. A dimensão epistemológica: o dado originário da razão A primeira tese é epistemológica: a apreensão da totalidade do ser é um fato originário da razão. Quando pensamos, não pensamos ...

A Nota Mater Populi Fidelis: equilíbrio doutrinal e abertura teológica

A recente Nota doutrinal Mater Populi Fidelis , publicada pelo Dicastério para a Doutrina da Fé, representa um exemplo luminoso do equilíbrio eclesial característico do magistério autêntico. Ela não é nem maximalista nem minimalista: não pretende exaltar Maria acima do que a Revelação permite, nem reduzir sua missão à de uma simples discípula entre os fiéis. O documento reafirma com clareza a doutrina tradicional da Igreja: Maria cooperou de modo singular e insubstituível (por conveniência da graça) na obra da redenção realizada por Cristo. 1. A reafirmação da doutrina tradicional O texto recorda que a Virgem Santíssima participou de maneira única no mistério redentor — não como causa autônoma, mas como colaboradora totalmente dependente da graça. Sua participação é real e ativa, ainda que subordinada à mediação única de Cristo. Assim, a doutrina da cooperação singular de Maria na redenção e a doutrina da sua intercessão na comunhão dos santos permanecem plenamente válidas e reconhecid...