Quando o então Cardeal Ratzinger teve um colóquio acadêmico com o filósofo J. Habermas em 2004, ele sustentou que o conúbio entre fé e razão é sempre necessário. O Cristianismo se entende como uma religião que fez opção pela razão, e isso desde as suas origens. A razão é importante para impedir que a fé avance pelas vias do fundamentalismo e do exclusivismo, como se não houvesse nada de positivo fora de seu âmbito de irradiação. A fé, por sua vez, é importante para não deixar a razão se instrumentalizar por interesses ideológicos ou pessoais, proporcionando-lhe o direcionamento do olhar para o Bem infinito. Um exemplo de uma razão desviada é aquele vivido no século XX, com as duas Grandes Guerras. É também aquele do "capitalismo selvagem" e dos totalitarismos. Adorno e Horkheimer bem viram que o progresso alcançado pela razão foi também um progresso para o pior, da funda à bomba atômica. Fé e razão, mantendo-se na distinção, devem abrir-se uma à outra para que cada qual seja cada vez mais o que deve ser, sem desvios. Por vezes, ambas precisam de purificação.
O ponto que trago remete a uma via metafísica negativa, onde a crítica da finitude do ente nos conduz, não apenas à constatação de sua limitação, mas à impossibilidade de que o limite tenha a última palavra sobre o ser. O nada não pode ser o “além do limite”, pois o nada não é. Assim, a própria noção de limite exige um ser sem limite – um ser que seja ser puro, que exclua toda não-existência. Vamos então desenvolver o argumento na forma de um discurso ontológico contínuo, com base nessa intuição: ⸻ A finitude como apelo ao ser ilimitado Começamos pela constatação mais imediata: há seres, mas os seres que encontramos são finitos. Eles não são tudo o que poderiam ser. São marcados pela limitação, pela mutabilidade, pela dependência. São entes que possuem o ser, mas não o são em sua plenitude. Essa constatação, longe de ser trivial, contém uma exigência profunda: se tudo o que existe fosse finito, então o ser mesmo estaria limitado. Haveria uma fronteira que o ser não ultrapassa. O ...
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