Pular para o conteúdo principal

Que é a metafísica?

 A metafísica é o suprassumo da filosofia. A filosofia tem diversos ramos, como a filosofia do conhecimento, a filosofia da linguagem, a filosofia da mente, a cosmologia filosófica, a antropologia filosófica, a ética etc. Em todos esses campos, a filosofia procura ir às raízes últimas das questões, já que a atitude filosofia é precisamente a de ir às últimas causas. Deve-se dizer que a metafísica é a filosofia par excellance, pois que procura ir às raízes últimas, não deste ou daquele campo, mas da realidade universal de todos os entes. 

Que é comum a toda a realidade dos entes? É o ato de ser (actus essendi). É por ele que tudo tem tudo o que tem e é tudo o que é. É pelo ato de ser que as coisas existem. Esse ato está presente em toda a realidade dos entes em seu conjunto como o que há de mais profundo nela. Se não fosse o ato de ser não haveria entes existentes e, assim, não haveria nenhuma perfeição efetiva. Nem mesmo os entes de razão teriam lugar, pois que só podem ser pensados por uma inteligência dotada de ato de ser. 

A metafísica procura investigar o ato de ser do conjunto de todos os entes (o esse commune), fazendo ver que ele depende do Ipsum Esse Subsistens — o próprio Ser subsistente. O que há de mais comum e mais profundo nos entes (o ato de ser) depende de uma Unidade absoluta, que é o próprio Ser subsistente, realidade que reúne todas as perfeições puras em grau infinito e em pura simplicidade e efetividade. O Ser explica-se por si mesmo, é sem causa e sem dependência alguma. É o Originário, o Necessário, o Eterno, o Perfeito, o Imóvel. 

Assim, a metafísica investiga o esse commune do conjunto dos entes e chega à causa do esse commune — o próprio Esse subsistens, infinito em perfeição e realidade. 

O nome metafísica pode ser entendido como referência ao nível de consideração desta ciência, pois que ela considera o que de si está além da física. O ato de ser, que é o objeto da metafísica, mesmo podendo realizar-se na matéria ou nos entes físicos, realiza-se também no imaterial ou nos entes não-físicos, de modo que, de si, é algo que requer uma consideração para além da física (meta-física). Ademais, como a metafísica considera a raiz absoluta do ato de ser, ela deságua no próprio Ser subsistente, que está absolutamente além (meta) da física, já que é absolutamente imaterial.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Cinzas: na testa ou na cabeça?

Dom Jerônimo Pereira, osb       Ontem à noite recebi a ligação de um amigo com o qual partilhei que, depois de 18 anos de ordenado presbítero, por causa da minha condição de monge, presidiria o rito das cinzas, nessa quarta-feira, pela segunda vez. Imediatamente ele me lançou a pergunta: “Dom, o sinal das cinzas é colocado na fronte ou na cabeça?” De fato, uma pesquisa rápida no Google, nos mostra ambas as formas. Mas, para se evitar qualquer distorção “ideológica” ou “romântica”, pergunta-se, não ao liturgista, mas ao rito, que tem autoridade máxima em matéria, como ensina a Igreja (cf. SC 48). Um pouco, mas muito pouco, de história      O uso das cinzas para indicar penitência não é puramente cristão. Era muito usado na Antiguidade por pagãos e judeus. Na cultura bíblica ele aparece com uma multiplicidade de significados. As primeiras comunidades cristãs acolheram esse gesto como símbolo da transitoriedade da vida humana e tomaram-no indicador de um ...

“A última palavra”, de Thomas Nagel

Eis aqui um resumo do livro de Thomas Nagel — A última palavra —, publicado no Brasil pela Editora Unesp (São Paulo, 2001).  Nagel defende a objetividade de base da razão e das operações do espírito humano, contestando com bons argumentos toda tendência que queira reduzi-los ao relativismo, ao subjetivismo e ao naturalismo. A razão só pode ser criticada pela própria razão, o que mostra que ela sempre tem a última palavra. Nagel faz ver o que os bons tomistas já sabem há muito: o espírito é constituído por uma relação estrutural com o ser, a verdade e o bem em seu alcance ilimitado, de modo que toda tentativa de negar essa estrutura, pressupõe-na.    1. Introdução  O texto introdutório de A última palavra , de Thomas Nagel, discute a questão da objetividade da razão em oposição ao relativismo e subjetivismo. Nagel argumenta que a razão, se existe, deve ser universal e não depender de perspectivas individuais ou sociais. Ele defende uma posição racionalista contra a...

Inteligência artificial e monopsiquismo

O artigo ( L'Intelligence Artificielle et le monopsychisme : Michel Serres, Averroès et Thomas d'Aquin ) de Fr. David Perrin, O.P. ( leia-o aqui ) examina as semelhanças entre a Inteligência Artificial (IA) e a concepção averroísta de um intelecto único e separado, destacando a questão central: o homem ainda pensa, ou apenas acessa um conhecimento externo, como se conectando a um princípio separado? 1. A metáfora da “cabeça decapitada” e a externalização do pensamento Michel Serres, no ensaio Petite Poucette, sugere que a revolução digital transformou a relação do homem com o saber. Ele compara essa mudança à lenda de São Denis, bispo de Paris, que, após ser decapitado, teria carregado sua própria cabeça. Para Serres, a informatização do conhecimento representa uma decapitação simbólica: o pensamento humano foi deslocado da mente para dispositivos externos (computadores, IA). Esses dispositivos armazenam e processam memória, imaginação e razão de maneira amplificada, criando um...