O texto Per una teoria del fondamento elabora uma investigação sobre o conceito de fundamento dentro de uma estrutura metafísica e lógica, centrando-se no princípio de não-contradição (p.d.n.c.) e na experiência do devir. A abordagem do autor segue um percurso dialético e visa conciliar a necessidade lógica de um ser imóvel e necessário com a realidade da mudança e da contingência.
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1. O Fundamento e a Remoção da Contradição
O autor inicia a discussão destacando que o fundamento é exigido pela própria necessidade de evitar contradições. Isso significa que o princípio de não-contradição não é apenas um princípio lógico, mas também um fundamento ontológico: o real deve ser incontraditório. No entanto, a experiência parece apresentar um problema: o devir—a mudança, o fluxo da realidade—parece manifestar a presença do negativo, ou seja, do não-ser.
Aqui, surge a questão fundamental: se o real deve ser incontraditório, como é possível a experiência do devir, que parece trazer consigo a negação e a contradição? Esse é o problema central do texto.
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2. A Contradição do Devir
A contradição do devir pode ser formulada da seguinte forma: algo que era deixa de ser, e algo que não era passa a ser. Se aceitarmos isso de modo absoluto, teríamos que dizer que o ser e o não-ser se identificam em algum nível, o que violaria o princípio de não-contradição. No entanto, o devir é inegável, pois a experiência o atesta constantemente.
A solução proposta pelo autor não é negar a experiência do devir, mas reinterpretá-la de modo a preservá-la sem comprometer a racionalidade do ser. Para isso, é necessário um fundamento que explique a mudança sem torná-la contraditória. Esse fundamento é o princípio da criação.
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3. A Criação como Fundamento
O princípio da criação aparece como a chave para resolver a tensão entre o ser e o devir. A ideia fundamental é que o devir não pode ser originário, ou seja, ele não pode existir por si mesmo, pois isso o tornaria absoluto e, consequentemente, contraditório. Se o devir fosse autônomo, significaria que o ser pode emergir do nada e retornar ao nada por si mesmo, o que seria um absurdo lógico.
A solução, então, é afirmar que o devir não é originário, mas derivado. Ele existe porque é causado por um ser necessário, imutável e absoluto, que é Deus. O devir, assim, não é uma violação do princípio de não-contradição, mas um efeito da ação criadora de um ser que está além da mudança.
Isso significa que o devir participa do ser absoluto, mas sem ser idêntico a ele. O mundo sensível, que parece estar em fluxo constante, não é irracional, porque sua existência depende do Ser necessário. Dessa forma, a criação garante a inteligibilidade do real.
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4. O Fundamento na Tradição Filosófica
O autor faz um percurso histórico para mostrar que essa solução foi intuída por diferentes correntes da filosofia, mas plenamente desenvolvida apenas na tradição metafísica cristã. Ele menciona dois momentos cruciais:
1. O pensamento grego, especialmente Platão e Aristóteles, que reconheceram que o ser verdadeiro deve ser imutável, mas não conseguiram integrar plenamente a realidade do mundo sensível nessa estrutura racional.
2. A filosofia cristã, que introduz a doutrina da criação, permitindo que o mundo sensível não seja rejeitado como ilusão (como em Platão) nem separado do ser verdadeiro, mas integrado a ele por meio da sua origem no Criador.
A criação, assim, não apenas salva o mundo sensível da irracionalidade, mas também responde à exigência da razão de um ser imutável e necessário.
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5. A Estrutura Dialética da Solução
O argumento do autor segue uma estrutura dialética, que pode ser resumida assim:
1. Tese: O princípio de não-contradição exige que o ser seja encontraditório.
2. Antítese: A experiência do devir parece apresentar o ser como contraditório.
3. Síntese: O devir não é absoluto, mas criado; sua realidade é garantida pelo ser absoluto.
Dessa forma, a criação reconcilia a lógica e a experiência, garantindo que o mundo sensível possa ser racional sem ser absoluto.
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6. Implicações da Teoria do Fundamento
A teoria apresentada tem várias consequências filosóficas importantes:
• A experiência é legítima, mas deve ser compreendida dentro de uma estrutura que garanta sua racionalidade.
• O ser absoluto não é apenas lógico, mas também causa do real.
• O devir não é um problema para a racionalidade, desde que seja entendido como dependente do ser necessário.
• A metafísica não pode ser reduzida à lógica formal, pois ela precisa integrar a experiência e dar conta do fundamento do real.
O texto, portanto, propõe uma metafísica do fundamento que unifica razão e experiência, garantindo a inteligibilidade do mundo sem cair nem no racionalismo abstrato, nem no empirismo reducionista.
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Conclusão
A “teoria do fundamento” proposta no texto visa superar a aparente contradição do devir sem sacrificar nem a exigência lógica do ser, nem a legitimidade da experiência. Isso é feito através do princípio da criação, que permite conceber o mundo sensível como real, mas não autossuficiente, garantindo sua racionalidade sem torná-lo absoluto.
Essa solução, segundo o autor, é essencial para uma compreensão coerente do real e se apresenta como um resultado definitivo da metafísica clássica, integrando a tradição aristotélica com a teologia cristã.
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