Elílio de Faria Matos Júnior
Tomás de Aquino não elaborou uma doutrina sistemática da analogia, embora esta esteja no centro da sua metafísica. Sabe-se que o termo análogo realiza-se em realidades diversas por essência de uma maneira semelhante e dissemelhante ao mesmo tempo, isto é, o terno análogo se predica de realidades essencialmente diferentes, mas que guardam certa semelhança ou afinidade entre si.
Segundo bons tomistas, podemos tirar dos escritos em que o Santo Doutor fala da analogia — e são muitos — a seguinte enumeração dos tipos de analogia (considere-se que a noção mesma de analogia é analógica):
1) Analogia de atribuição, em que há o ‘analogatum princeps’ (o primeiro analogado). A noção análoga em questão realiza-se principal ou perfeitamente só no ‘analogatum princeps’; nas demais essências ou nos demais analogados, a noção se predica imperfeitamente. A analogia de atribuição divide-se em analogia de atribuição intrínseca e analogia de atribuição extrínseca.
a) Analogia de atribuição intrínseca: a noção análoga se realiza perfeitamente só no primeiro analogado; mas se realiza propriamente, ainda que imperfeitamente, nas demais essências. A noção de ‘ser’ pode ser nosso exemplo: Deus é o ser. A noção se realiza perfeitamente só nele. As criaturas podem ser ditas seres (entes), e o são de fato (o ser lhes é intrínseco), na medida em que participam da plenitude do ser que é Deus. Contudo, apesar de terem o ser, as criaturas não são o ser.
b) Analogia de atribuição extrínseca: a noção análoga se realiza propriamente só no primeiro analogado e, portanto, impropriamente nos demais analogados. A relação entre os analogados não nos permite dizer que a noção se realize intrinsecamente nos analogados inferiores. O exemplo característico é o da saúde. ‘Saúde’ seria um termo análogo na medida em que se realiza em Paulo, no remédio e na urina, pois dizemos que Paulo é saudável, o remédio é saudável e a urina é saudável. Em Paulo propriamente ou intrinsecamente; no remédio, como causa da saúde de Paulo, não intrinsecamente; na urina, como sinal da saúde de Paulo, não intrinsecamente.
a) Analogia de proporcionalidade própria: quando o termo é aplicado a duas realidades que guardam cada qual uma relação semelhante e dissemelhante ao mesmo tempo. Verifica-se que há uma proporção entre relações, a relação da realidade A, de um lado, e a da realidade B, de outro. Assim, Deus está para o seu ser de modo semelhante e dissemelhante (não idêntico) ao modo como a criatura está para o seu ser. Ao passo que Deus é o seu ser, a criatura tem o seu ser. A relação “Deus e o seu ser” guarda certa proporção com a relação “A criatura e seu ser”. Assim também, temos a analogia entre duas relações matemáticas: 2x4=8 e 4x8=32. A analogia é própria quando trata de relações que mantêm uma proporção não metafórica entre si.
b) Analogia de proporcionalidade imprópria: aqui o termo é aplicado a várias realidades que guardam uma semelhança (e dissemelhança) de relações, mas de maneira imprópria ou metafórica. Assim, digo que a inteligência é a luz da verdade. Ora, aqui há duas relações semelhantes e dissemelhantes: assim como a luz física está para as coisas sensíveis, o poder da inteligência (que vem chamado metaforicamente “luz”), está para a verdade.
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