Pular para o conteúdo principal

Pingos de filosofia - Big bang e humildade humana

O universo, tal qual nós o conhecemos, surgiu há 13,7 bilhões de anos. Dado que hoje sabemos que o universo se expande, podemos retroceder no tempo e alcançar o seu nascimento no longínquo passado. Big bang é o nome que se reservou para a explosão inicial que colocou em marcha a expansão atual. A explosão surgiu a partir de uma realidade em que as leis atuais da física não existam. Aliás, o espaço e o tempo só começaram a existir com a explosão; antes não existiam. A essa realidade – inconcebível para os parâmetros atuais da física – os físicos dão o nome de singularidade inicial. Era, com efeito, uma singularidade, porque não possuía nem espaço nem tempo, mas se tratava de um pequeno ponto em que toda a energia e matéria do universo atual estavam concentrados.

Algumas questões se colocam se aceitamos essa teoria, que ficou conhecida como Teoria do Big Bang. O que havia antes do big bang? O que deu origem ao big bang? Pode-se dizer que foi Deus quem criou a singularidade inicial?

Sabemos que antes da grande explosão – big bang – existia a singularidade, mas a singularidade como tal não podemos aferrá-la com o aparato atual da física. Desse modo, do ponto de vista da física, não podemos dizer o que colocou em ação o processo do big bang. Só sabemos que a explosão aconteceu, mas não podemos descrever o tipo de realidade que existia antes e nos primeiríssimos instantes da explosão. Já se disse que se tratava de uma singularidade.

Para quem professa a existência de Deus, Ele é o criador de todo o universo e de todos os mundos que porventura existam. Como quer que seja, não sabemos se o universo teve a sua origem absoluta com a singularidade e com o big bang. Pode-se dar que este seja somente o universo que conhecemos, o nosso universo, antes do qual tenha havido outros, dos quais este nosso seria uma espécie de continuação. Antes do nosso universo pode ter havido inúmeros universos com suas inúmeras singularidades iniciais e seus inúmeros big bangs. Paralelamente a ele, ainda, pode haver outros mais. Quem sabe o nosso universo, depois de se expandir ao máximo de suas forças centrífugas, não passe a ser caracterizado por uma força de contração, centrípeta, até que tudo volte a cair e se condense sobre um pequeníssimo ponto? Seria o big crush, ao qual poderia suceder um novo big bang.

A dança cósmica pode parecer abissal, e causará, sem dúvidas, vertigens a quem a considera atentamente. Nós seres humanos somos minúsculas criaturas que vivem num planeta minúsculo em uma minúscula fração de tempo. A Terra é por demais pequena quando comparada aos outros corpos da nossa galáxia; e o que dizer em relação aos bilhões de galáxias que existem e se foram formando neste universo que deu os seus primeiros gritos de bebê há 13,7 bilhões de anos? Se os números e as dimensões nos assustam, deveria fazer-nos crescer em humildade a nossa pequenez diante de tamanho espetáculo cósmico. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Metafísica essencial

Cornelio Fabro foi quem realçou a centralidade do ser como ato intensivo na metafísica de S. Tomás  Metafísica essencial:  1. Ipsum Esse É a perfeição máxima formal e real. Ato puro. Intensidade máxima. É participável pelas criaturas através de essências limitadas e da doação de ser como ato a tais essências.  • O ipsum Esse subsistens é a plenitude formal e atual do ser. Não é apenas a perfeição máxima “formal” no sentido lógico, mas o ato mesmo da atualidade infinita.  • Fabro enfatiza que o Esse divino é incomunicável em si mesmo (ninguém nem nada pode possuir ou receber a infinitude divina), mas é participável secundum quid , na medida em que Deus doa o ser finito às essências criadas.  • Aqui está a raiz da analogia entis : há continuidade (participação) e descontinuidade (infinitude divina versus finitude criada). ⸻ 2. Essência ( esse ut participabile ) É o ser enquanto participável, receptivo, em potência. Em si não é atual, mas uma capacidade de atuali...

Metafísica hoje? Saturnino Muratore SJ

  Saturnino Muratore SJ Resumo  — “Senso e limiti di un pensare metafisico nell’attuale contesto culturale. In dialogo con Saturnino Muratore S.J.” (Entrevista de Antonio Trupiano). Publicado em: TURPIANO, Antonio (ed.). Metafisica come orizzonte : In dialogo con Saturnino Muratore SJ . Trapani: Pozzo di Giacobbe, 2014.  Formato e objetivo. A entrevista foi organizada em dez questões estratégicas para apresentar o percurso intelectual de Saturnino Muratore (SJ) e, ao mesmo tempo, discutir o papel formativo da metafísica — sobretudo no contexto das faculdades eclesiásticas.   O que é “metafísica” para Muratore. Em vez de uma doutrina estática do “fundamento”, Muratore define metafísica como a capacidade do filósofo de “dizer o todo” — um discurso de totalidade que mantém uma instância crítica constante. Falar do todo implica dialogar com as especializações (que tratam fragmentos) e preservar a crítica para não absolutizar partes.   Relações com Jaspers e Nietzsc...

Se Deus existe, por que o mal?

O artigo ( leia-o aqui ) Si Dieu existe, pourquoi le mal ?,  de Ghislain-Marie Grange, analisa o problema do mal a partir da teologia cristã, com ênfase na abordagem de santo Tomás de Aquino. O autor explora as diversas tentativas de responder à questão do mal, contrastando as explicações filosóficas e teológicas ao longo da história e destacando a visão tomista, que considera o mal uma privação de bem, permitido por Deus dentro da ordem da criação. ⸻ 1. A questão do mal na tradição cristã A presença do mal no mundo é frequentemente usada como argumento contra a existência de um Deus onipotente e benevolente. A tradição cristã tem abordado essa questão de diferentes formas, tentando reconciliar a realidade do mal com a bondade e a onipotência divinas. 1.1. A tentativa de justificar Deus Desde a Escritura, a teologia cristã busca explicar que Deus não é o autor do mal, mas que ele é uma consequência da liberdade das criaturas. No relato da queda do homem (Gn 3), o pecado de Adão e E...