Pular para o conteúdo principal

Somos uma restrição do ser de Deus

Nossa essência é somente “parte” metafísica da essência de Deus. Se nossa essência fosse a dele, seríamos o Ipsum Esse subsistens. A mesma coisa: nosso ser é somente “parte” metafísica do ser de Deus: se nosso ato de ser fosse o dele, seríamos o Ipsum Esse Subsistens

Por isso, fora de Deus, todo ente é composto de inteligibilidade (essência) e ato de ser (ato da essência ou efetividade). Uma inteligibilidade limitada não pode existir por si e em virtude de si. Só a inteligibilidade absoluta existe por si e em virtude de si. Um ato de ser limitado não pode existir por si e em virtude de si. Só o ato de ser puro existe por si e em virtude de si. 

Assim, nós criaturas precisamos, para ser, derivar nossa inteligibilidade parcial da inteligibilidade absoluta de Deus, e precisamos ainda de que essa inteligibilidade parcial, que de per si não pode existir, receba a efetividade ou o ato de ser, que a faz ser inteligível em ato e existir.

Somos uma restrição de Deus. 

O que nele é uma coisa só (essência e ato de ser), em nós deve se tornar dois princípios distintos, pois não pode haver limitação do ser sem haver um limitador do ser, que é a essência (delimitada). Se a essência (coprincípio do ser criado) delimita o ser (coprincípio do ser criado), quem delimita a essência? Deus mesmo, ao pensar (como criáveis e participáveis de seu ser/essência) determinados contornos inteligíveis (essências).

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Lima Vaz lê Teilhard de Chardin

 O artigo “Teilhard de Chardin e a Questão de Deus”, de Henrique Cláudio de Lima Vaz, publicado na Revista Portuguesa de Filosofia, é uma profunda análise filosófico-teológica da obra de Pierre Teilhard de Chardin. A seguir, um resumo detalhado: ⸻ 1. Objetivo do artigo Lima Vaz pretende demonstrar a atualidade e o valor permanente do pensamento de Teilhard de Chardin. A chave de leitura é a centralidade da questão de Deus, que constitui o eixo estruturador de toda a sua obra. Para Teilhard, trata-se de responder à pergunta fundamental: é possível crer e agir à luz de Deus num mundo pós-teísta? ⸻ 2. Contexto histórico Teilhard, jesuíta, paleontólogo e filósofo, viveu as tensões entre fé e ciência no século XX. Apesar de suas intuições filosófico-teológicas audaciosas, foi marginalizado institucionalmente: não pôde publicar suas principais obras (O Fenômeno Humano, O Meio Divino) em vida. Seu pensamento ganhou grande repercussão no pós-guerra, tornando-se fenômeno editorial mundial. ...

Existir é ter recebido. Ulrich relê Tomás em chave personalista

 Seguindo pela linha de Tomás de Aquino, Ferdinand Ulrich se coloca dentro da tradição metafísica tomista, mas com uma sensibilidade profundamente renovada pela filosofia do século XX — especialmente pela fenomenologia e pelo personalismo. Vamos explorar como Ulrich lê e reinterpreta Tomás de Aquino em relação à questão do ser: ⸻ 1. O ser como actus essendi (ato de ser) Para Tomás de Aquino, a realidade mais profunda de um ente não é sua essência, mas seu esse — o ato de ser. Ulrich retoma esse princípio com força, insistindo que:  • O ser ( esse ) é mais fundamental que qualquer determinação formal ( essentia ).  • Todo ente é composto de essência e ato de ser, mas esse ato de ser não é algo que ele possua por si: é recebido.  • Daí, a criatura é “ser por participação”, em contraste com Deus, que é “ser por essência” — o ipsum esse subsistens . Para Ulrich, essa estrutura é a chave da relação: o homem, enquanto ente criado, está ontologicamente voltado para além de...

A Igreja é abrigo para os seguidores de Cristo

  O abrigo contra os extremismos? A Igreja, que sabe que a virtude é uma mediania entre extremos viciosos. O abrigo contra o relativismo? A Igreja, que ensina que há um Lógos  eterno do qual o lógos humano participa e no qual encontra fundamento. O abrigo contra o absolutismo? A Igreja, que ensina que só Deus é o Absoluto , e toda palavra nossa não tem fim em si mesma nem faz o Absoluto presente como tal, mas aponta para Ele, a única e inesgotável Verdade.  O abrigo contra o fundamentalismo? A Igreja, que ensina que a Bíblia é Palavra de Deus na palavra humana , e, como tal, sujeita a limitações históricas.  O abrigo contra a tristeza? A Igreja, que anuncia a grande alegria do Evangelho, do perdão, da reconciliação e da vida sem fim.   O abrigo contra a falta de motivação e o desespero? A Igreja, que anuncia a esperança que não decepciona.  O abrigo contra a confusão de doutrinas? A Igreja, que interpreta autenticamente a Palavra de Deus.  O abrigo con...