Gadamer foi discípulo de Heidegger. Do mestre aprendeu que a posição do homem no mundo é uma posição hermenêutica, isto é, interpretativa. Na sua principal obra - Verdade e médoto -, Gadamer sustenta que a ciência moderna, herdeira do modo grego raciocinar, não é a única a ter acesso à verdade. Aliás, a verdade acontece sobretudo fora dos âmbitos por demais restritos do método científico, que há a irrealizável pretensão de agarrar de uma vez por todas o objeto de conhecimento. A pretensão de uma objetivação completa é impossível. Seria o domínio total do sujeito finito, situado e histórico sobre a verdade. A verdade, segundo Gadamer, não é aferrada pelo sujeito, mas acontece ao sujeito, à semelhança do que se dá na arte. Quando me ponho diante de uma obra de arte, não sou eu que a aferro com um método qualquer, mas é a obra que me fala e abre para mim um horizonte novo. A obra de arte acontece para quem a contempla, de maneira que se patenteia que ela é portadora de uma verdade maior do que o contemplador e que o envolve, transformando o seu olhar pela abertura de novos mundos. A obra fala. Não fala, porém, no vazio. O contemplador já traz consigo um mundo de representações e pré-juízos. É a partir dessa pré-compreensão do sujeito que a obra fala. A pré-compreensão não é obstáculo à compreensão da obra, mas sua condição de possibilidade. A partir da "fala" da obra, o sujeito experimenta a possibilidade de crescer e até de transformar a pré-compreensão que lhe permitira olhar a obra. Assim é a experiência da verdade na nossa vida: a partir de nossa pré-compreensão, olhamos o mundo, os textos da nossa tradição, o outro que nos fala; olhamos e nos envolvemos com os diversos textos do mundo, e tudo isso significa um apelo para nós, que nos convida a crescer rumo à verdade num processo infinito de interpretação. Gadamer não renuncia à verdade, mas sustenta que a verdade total não cabe ao sujeito situado, finito e histórico. O sujeito pode sempre crescer rumo à verdade, deixar-se envolver com ela, sem jamais aferrá-la ou transformá-la num objeto (ob-iectus = o que está simplesmente diante do sujeito). A verdade é sempre maior.
Papa Francisco e o Cardeal Víctor Manuel Fernández, Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé Este texto não visa a entrar em polêmicas, mas é uma reflexão sobre as razões de diferentes perspectivas a respeito da Declaração Fiducia supplicans (FS), do Dicastério para a Doutrina da Fé, que, publicada aos 18 de dezembro de 2023, permite uma benção espontânea a casais em situações irregulares diante do ordenamento doutrinal e canônico da Igreja, inclusive a casais homossexuais. O teor do documento indica uma possibilidade, sem codificar. Trata-se de uma benção espontânea, isto é, sem caráter litúrgico ou ritual oficial, evitando-se qualquer semelhança com uma benção ou celebração de casamento e qualquer perigo de escândalo para os fiéis. Alguns católicos se manifestaram contrários à disposição do documento. A razão principal seria a de que a Igreja não poderia abençoar uniões irregulares, pois estas configuram um pecado objetivo na medida em que contrariam o plano divino para a sex
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