Fé e crença em milagres são duas coisas diversas, ainda que
possam ter pontos de ligação entre si. A fé é o ato voluntário pelo qual em me
entrego a Deus, aceitando-o em minha vida. A fé comporta um compromisso com
Deus e com os irmãos, uma renovada visão de mundo e uma vida pautada pelos
ideias de justiça, amor e misericórdia. A crença em milagres é outra coisa. Em
si mesma, diz respeito a admitir como possível uma intervenção extraordinária
da divindade no nosso mundo, em geral para livrar alguém de uma aflição ou de
um problema.
A fé pode comportar a crença em milagres? Sim, pode, mas o
que caracteriza a fé é a aceitação existencial de Deus na vida, que a muda e
transforma, como foi dito. O diapasão de quem tem fé é o compromisso com um
novo estilo de vida, com o ser sal da terra e luz do mundo, como dizia Jesus.
Aqui o milagre pode acontecer e pode até reforçar a fé, mas não é o
principalmente procurado. A fé, com efeito, induz a procurar o Reino de Deus e
a sua justiça em primeiro lugar.
Para quem não tem fé ou a tem somente em forma ainda
imatura, a crença em milagres pode assumir a dianteira. Aqui Deus é visto como
aquele que me tira de uma complicação, mas não como quem muda e transforma a
minha vida em todas as suas circunstâncias. O procurado é o milagre de Deus,
não Deus em si mesmo. A crença em milagres sem a fé devida pode se manifestar
como o perfeito reverso da religião. Isso mesmo! Se religião é a submissão à
vontade de Deus, a crença em milagres sem a devida fé constitui a artimanha que
tenta submeter Deus à vontade do homem.
Em tempos em que milagres são oferecidos nos cultos, nas
missas e nas grandes manifestações de “fé”, fica bem refletir sobre o tema com
atenção. Como saber se tenho fé ou somente crença em milagres? A primeira coisa
a observar é esta: onde está meu principal intento? Quero apenas um milagre
para transformar uma situação isolada da vida ou quero conversão para transformar a
vida em qualquer situação em que ela se encontre?
Comentários
Postar um comentário