Pular para o conteúdo principal

Fonte da felicidade

Padre Elílio de Faria Matos Júnior

Creio que, conforme reconhecia Aristóteles, o grande desejo do homem seja a felicidade. Onde encontrá-la? Essa pergunta foi considerada pelo filósofo, uma vez que muitos em sua época pretendiam achá-la nos prazeres, na riqueza ou na honra. O Estagirita fez ver que a autêntica felicidade não pode depender, em última análise, dessas três coisas, já que, se assim fosse, a realização humana estaria à mercê de algo sobre o que jamais poderíamos ter completo domínio. A honra? Ela depende mais de quem nos honra. A riqueza? De repente, ela pode se dissolver. Os prazeres? Mas eles não representam aquilo que é especificamente humano.

 Aristóteles bem viu que a posse da felicidade, decisiva para a nossa realização, deve depender de algo que não perdemos sem mais. "Ora, sentimos que o bem deva ser algo próprio ao seu possuidor e difícil de ser suprimido". Deve ser algo imune aos azares e acidentes, cuja estabilidade nos traga a alegria do repouso deleitante. É sabido que foi no conhecimento e no amor que o homem pode prestar ao Pensamento subsistente (o Divino) que, fundamentalmente, nosso filósofo identificou a fonte estável da realização humana. O meu amor ao Divino, com efeito, é algo sobre o que eu exerço domínio. Ninguém mo pode roubar. Nenhuma circunstância ou fatalidade mo pode impedir de fazer.

Como todo grego, entretanto, Aristóteles não vislumbrou que pudesse existir uma fonte muito mais segura na qual se funda a felicidade humana. Trata-se, não primeiramente do nosso amor a Deus, mas, antes, do amor de Deus por nós. "Ele nos amou primeiro" (1Jo 4,19). O amor que Deus nos dedica goza de uma estabilidade “absolutamente absoluta”. É amor divino. Deus nos ama sempre, e ele não se desdiz jamais. Apesar de toda a nossa fragilidade e miséria, ele continua a nos amar. É sempre possível voltar para a casa do Pai, pois sempre o encontraremos de braços abertos a nos acolher com ternura. E é como resposta a esse amor eterno que o nosso amor deve surgir, fazendo brotar em nossa alma a fonte inesgotável da felicidade. Para aquele que tem consciência de ser amado por Deus, aconteça o que acontecer, se ele procura a face do Deus cheio de amor, saberá que sua vida está absolutamente segura e será, assim, uma pessoa feliz!

Comentários

  1. Padre Elílio,
    Parabéns pelo seu blog,
    já estou te seguindo e serei um seguidor assíduo de seu blog.
    aproveito e lhe convido para visitar também meu blog:
    andersonribeiro18.blogspot.com
    Sua benção,
    Anderson R.

    ResponderExcluir
  2. Caríssimo Pe. Elílio,

    Com muito prazer e carinho escrevo-lhe esta mensagem; meu nome é Henrique Sebastião, sou um leigo atuante, até onde posso, na Pastoral da Comunicação da Arquidiocese de São Paulo. Sou redator de comunicação, designer, ilustrador e blogueiro católico.

    Conheci vosso blog através do website Deus lo Vult!. Li primeiramente o post intitulado "Escolha sua igreja...": achei-o excelente!

    Durante muito tempo os filhos da Igreja ficaram passivos diante dos ataques destas seitas que invadiram o nosso país. Finalmente estamos começando a reagir, esclarecendo às pessoas, instruindo o povo católico. Infelizmente ainda é uma reação muito tímida, lenta, mas ao menos é um começo. Parabéns pela iniciativa do "Blog do Padre Elílio"!

    E neste momento de necessária união entre os católicos, venho humildemente pedir a inclusão do meu blog em vossa lista de links, caso considere conveniente:

    www.vozdaigreja.blogspot.com


    É a versão digital de uma revista de evangelização católica, um trabalho feito com extremo carinho e fé, em conjunto com o Pe. Marcelo Monge, pároco da São João Batista do Brás e diretor da Cáritas Arquidiocesana de São Paulo. Vosso blog, claro, já está linkado por lá também. A sua benção!

    ResponderExcluir
  3. Prezado Padre Elílio.
    Salve Maria,
    Devemos, o Coral Flammula e eu, assistir sua missa em Juiz de Fora no próximo domingo 28 de agosto. O senhor gostaria de que o Coral cantasse a Missa?
    Peço sua bênção.
    Salve Maria.
    Ivone Fedeli
    ivonefedeli@gmail.com

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Criação "ex nihilo"

Padre Elílio de Faria Matos Júnior Em Deus, e somente em Deus, essência e existência identificam-se. Deus é o puro ato de existir ( Ipsum Esse ), sem sombra alguma de potencialidade. Ele é a plenitude do ser. Nele, todas as perfeições que convém ao ser, como a unidade, a verdade, a bondade, a beleza, a inteligência, a vontade, identificam-se com sua essência, de tal modo que podemos dizer: Deus é a Unidade mesma, a Verdade mesma, a Bondade mesma, a Beleza mesma... Tudo isso leva-nos a dizer que, fora de Deus, não há existência necessária. Não podemos dizer que fora de Deus exista um ser tal que sua essência coincida com sua existência, pois, assim, estaríamos afirmando um outro absoluto, o que é logicamente impossível. Pela reflexão, pois, podemos afirmar que em tudo que não é Deus há composição real de essência (o que alguma coisa é) e existência (aquilo pelo qual alguma coisa é). A essência do universo criado não implica sua existência, já que, se assim fosse, o universo, contingen...

A totalidade do Ser e o acesso filosófico a Deus em Lorenz B. Puntel

1. Introdução: a retomada da metafísica Lorenz B. Puntel insere-se no esforço contemporâneo de reabilitar a metafísica, mas de forma criativa, com um projeto que ele denomina de “nova metafísica”. Em vez de simplesmente repetir modelos do passado ou rejeitar a metafísica sob influência kantiana, positivista ou heideggeriana, Puntel busca um ponto de partida radical: a capacidade estrutural da mente de apreender a totalidade do ser. Esse deslocamento inicial é decisivo. A filosofia moderna muitas vezes concentrou-se na relação sujeito/objeto, nas condições da experiência ou nas linguagens que estruturam o pensamento. Puntel recorda que tudo isso já pressupõe algo mais originário: que sempre nos movemos no horizonte do ser como um todo. É essa totalidade que se torna o objeto próprio da nova metafísica. ⸻ 2. A dimensão epistemológica: o dado originário da razão A primeira tese é epistemológica: a apreensão da totalidade do ser é um fato originário da razão. Quando pensamos, não pensamos ...

A Nota Mater Populi Fidelis: equilíbrio doutrinal e abertura teológica

A recente Nota doutrinal Mater Populi Fidelis , publicada pelo Dicastério para a Doutrina da Fé, representa um exemplo luminoso do equilíbrio eclesial característico do magistério autêntico. Ela não é nem maximalista nem minimalista: não pretende exaltar Maria acima do que a Revelação permite, nem reduzir sua missão à de uma simples discípula entre os fiéis. O documento reafirma com clareza a doutrina tradicional da Igreja: Maria cooperou de modo singular e insubstituível (por conveniência da graça) na obra da redenção realizada por Cristo. 1. A reafirmação da doutrina tradicional O texto recorda que a Virgem Santíssima participou de maneira única no mistério redentor — não como causa autônoma, mas como colaboradora totalmente dependente da graça. Sua participação é real e ativa, ainda que subordinada à mediação única de Cristo. Assim, a doutrina da cooperação singular de Maria na redenção e a doutrina da sua intercessão na comunhão dos santos permanecem plenamente válidas e reconhecid...