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O amor é que constrói a Igreja, não outra coisa

Padre Elílio de Faria Matos Júnior

O Natal do Senhor aproxima-se. Confesso que a alegria dos tempos natalinos, que sempre invadia a minh’alma, está ausente. Tenho enfrentado muitas dificuldades, de tal modo que às vezes sinto a vontade de desanimar. As coisas não tem sido tão fáceis para mim. Os sonhos parecem dissipar-se como nuvens num dia ensolarado e ventoso... Os ideais parecem afastar-se na medida em que tento deles me aproximar... O sentido das coisas parece estar escondido e difícil de ser visto...

Entretanto, contemplando a manjedoura e o Menino, uma consolação veio pairar sobre meu espírito. Quem é este Menino? O que foi dele? Qual a sua sorte?

Humanamente falando, a trajetória do Menino foi a de um fracassado. E em todos os sentidos. Nasceu pobre e marginalizado... Morreu como nasceu, desprezado e quase só. É que a silhuetas da cruz já se mostravam na manjedoura. A sua vida não foi fácil. Incompreensões, maledicências, insucessos, perseguições e fadigas não faltaram.

Ele é o Pobre de Nazaré, como diria o Frei Larrañaga. Na verdade, ele é o Rico que se fez Pobre. E na extrema pobreza manifestou a forma mais rica de amar. Em belas palavras, o Papa Bento XVI expressou-o muito bem: “Cristo ocupou o último lugar no mundo – a cruz – e, precisamente com essa humildade radical, redimiu-nos e ajuda-nos sem cessar” (Encíclica Deus caritas est, n. 35).

Tenho compreendido cada vez mais que é o amor que faz a Igreja. Não as honrarias, não os cargos, não as grandes realizações, não a carreira eclesiástica. É o amor. O amor que se faz pobre e é capaz de suportar o peso desta vida com confiança e renúncia. O amor que enfrenta derrotas sem perder a força de continuar a caminhada, mesmo que às cegas. O amor que, através de pequenos gestos, difunde o acolhimento, intui a necessidade alheia e se faz próximo.

O amor, tenho aprendido, não é determinado pelo contentamento humano nem pela complacência nas realizações humanas, por mais nobres que sejam. Pode-se amar – e talvez só assim o amor aconteça perfeitamente – na extrema penúria, no sentimento de fracasso e na ânsia da solidão. Isso porque o amor é algo de outra ordem. Ordem que supera o entendimento das coisas sublunares.

Ama-se doando. E não se pode amar verdadeiramente sem se doar. E doar é doído. Desse modo, compreendi que não é preciso estar “feliz” ou contente com as próprias realizações para amar. Muito ao contrário. A doação acontece no sofrimento, e sobretudo no sofrimento. Na fadiga, na doença, no desprezo, na exclusão, na provação... É sobretudo aí que o amor aparece. Ele não combina muito bem com o sentimento de altivez, de brio próprio e de complacência consigo mesmo.

O amor, de fato, é de outra ordem. São Paulo parece ter tentado expressá-lo, mas apenas elencou as suas manifestações, garantindo, contudo, que o amor é maior (cf. ICor 13, 1-13). É o amor que se manifestou corporalmente na manjedoura e que se doou até a morte de cruz que constrói a Igreja, não outra coisa.

Feliz Natal a todos!

Comentários

  1. Fazia tempo que não lia nada do senhor, mas que bom ter visto justamente esse texto hoje. Paradoxalmente alegrante!
    Feliz Natal Padre Elílio!

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  2. Prezado Augusto,
    Obrigado pelas palavras de amizade!
    Feliz Natal!

    ResponderExcluir
  3. A vida é feita de bons e maus momentos. Somos
    colocados à prova a todo instante.Como repetia padre Léo: Olhai para as coisas do alto... e nesse sentido, a missão de tentar melhorar o
    mundo tem que continuar.
    Saiba padre, que existe uma grande luz na sua pessoa. Seja aqui ou acolá ela sempre vai
    irradiar. Estamos melhores com sua presença na
    paróquia.Obrigado pelo ano de 2010!
    Feliz ANO NOVO!
    De Sélio Augusto e Família (Pastoral Familiar)

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  4. Caro Sélio,

    Que bom receber a sua visita em meu blog. Deus o abençoe sempre!

    Para você e toda a família, uma grande bênção!

    Obrigado pelas palavras de amizade. Feliz 2011!

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  5. Espero que o Senhor esteja mais alegre. Espero que os desafios que lhes são impostos por sua missão terrena não lhe subtraiam a alegria que a experiência da vida sempre traz.

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  6. parabens nada neste mundo supera o amor e sim o amor tudo suporta tudo pode tudo sirealiza

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