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A Divina Misericórdia

Estamos no tempo pascal. É, sem dúvida, um tempo de muitas graças e bênçãos. Cristo ressuscitou! O Senhor Deus tirou dos males da humanidade o grande bem da salvação. Do pecado tirou a graça; das trevas, a luz; da morte do inocente, a vida para os pecadores que dele se aproximam. Com efeito, Deus sabe realizar maravilhas. O salmo 118 ajuda-nos a celebrar a grandeza e a bondade de Deus neste tempo pascal: A mão direita do Senhor fez maravilhas, a mão direita do Senhor me levantou. Não morrerei, mas ao contrário, viverei para contar as grandes obras do Senhor!” Tirar dos males o bem é próprio de Deus. Do enorme pecado – a morte de Jesus Cristo na cruz –, o Deus de misericórdia tirou a salvação para toda a humanidade.

Sim; só poderemos entender esse modo de Deus agir se reconhecermos que ele é o Deus de misericórdia. Ele tem o coração (cor) voltado para os miseráveis (miseri). Os miseráveis somos todos nós, que caminhamos sob o peso dos nossos pecados. Somos miseráveis porque não nos abrimos totalmente ao amor. Mas, como Deus não se deixa vencer em generosidade, sempre está a nossa procura, para nos salvar e conduzir à felicidade completa. O mistério da encarnação, da paixão, da morte e da ressurreição de Jesus é a grande aproximação de Deus em direção à humanidade miserável. Em Jesus, a aproximação de Deus em direção ao homem não poderia ser mais eloqüente! Jesus, embora não tivesse pecado, desceu ao nosso encontro assumindo as conseqüências de nossas culpas e atingindo, assim, as trevas de nossa existência. Mas o importante é que, com sua luz divina, iluminou nossas trevas. Venceu, definitivamente, o pecado e a morte.

No 2º Domingo da Páscoa, a Igreja celebra a Festa da Divina Misericórdia. Instituída pelo Papa João Paulo II, esta festa revela o sentido profundo do mistério pascal que ora celebramos. Páscoa é misericórdia. É a Divina Misericórdia que faz acontecer a Páscoa. A palavra “Páscoa” quer dizer “passagem”. Jesus, por amor aos homens, passou da morte para a vida. Pela graça de Deus, que nos é dispensada em Jesus, podemos também passar das trevas dos vícios para a luz das virtudes; do egoísmo para a generosidade; da maledicência para o bem-querer; das paixões desregradas para a temperança e a castidade; da indiferença para a luta em prol do Reino de Deus; enfim, da morte para a vida eterna.

O grande segredo para o êxito de nossa vida cristã está na nossa capacidade de acolher a Divina Misericórdia. O Cristianismo foi fundado pela misericórdia de Deus. Se experimentarmos a misericórdia divina, tudo mudará em nossa vida! Assim, renovaremos a nossa vida e nos transformaremos, na verdade, em canais do amor de Deus manifestado em Cristo. Segundo a grande apóstola da Divina Misericórdia, a Irmã Faustina, cada um de nós torna-se instrumento da misericórdia na medida em que entrega a sua vida, sem reservas, à Divina Misericórdia, que é o próprio Jesus, morto e ressuscitado para a nossa salvação. A íntima união com Jesus, que perdoa, cura e salva, faz toda a diferença! Unidos a ele, seremos capazes de cumprir o mandamento bíblico: “Sede misericordiosos como também vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36). A vida de Jesus é a vida do Pai. Quem se une a Jesus recebe, por força do Espírito, a vida divina. Não sejamos indiferentes ao amor de Deus!

Que neste Domingo da Divina Misericórdia, o 2º do tempo pascal, as comportas do céu se abram e derrame-se sobre a Igreja e sobre todo o mundo a abundância da misericórdia de Deus manifestada em Cristo Jesus, conforme as palavras do próprio Jesus à Irmã Faustina: "Neste dia, estão abertas as entranhas da minha Misericórdia. Derramo todo um mar de graças sobre as almas que se aproximam da fonte da Minha Misericórdia. A alma que se confessar e comungar alcançará o perdão das penas e culpas. Neste dia, estão abertas todas as comportas divinas pelas quais fluem as graças. Que nenhuma alma tenha medo de se aproximar de mim".

Comentários

  1. Felizes somos nós por cremos que tudo vem da infinita misericórdia do Senhor, e nada é mérito nosso. Misericórdia que se renova a cada missa celebrada. Peçamos ao Senhor que nos dê o dom da humildade, pois só os humildes são capazes de reconhecer a manifestação do amor de DEUS, e reproduzí-lo ainda que de forma infinitamente menor através da caridade para com os irmãos. Os humildes são fiéis e obedientes a Santa Igreja de Cristo, a barca de Pedro, coluna e sustentáculo da verdade, como nos ensina São Paulo. Parabéns Padre por sua espiritualidade. Sua benção. Welerson.

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