Pular para o conteúdo principal

Confiar e trabalhar. Sobre a tragédia no Haiti

.
Padre Elílio de Faria Matos Júnior

Diante do terremoto que sacudiu o Haiti, provocando milhares de mortes e prejuízos incalculáveis, a nossa reação de cristãos deve ser pautada pela solidariedade efetiva para com os sofredores e pela confiança em Deus. "Não é hora para desânimo", disse o Cardeal Arns referindo-se à morte de sua irmã, a benemérita Dra. Zilda Arns, provocada pelo desastre.

O mundo da natureza é regido por leis próprias. Deus, na verdade, deu autonomia à natureza e a seu funcionamento. A causa do terrível terremoto pode, assim, ser explicada pelo recurso às leis naturais. Aliás, por se falar em natureza, é necessário aprender a cuidar melhor do meio ambiente, o nosso lar comum neste mundo. Ainda que, no caso do Haiti, não haja ligação entre a interferência humana no mundo natural e o terremoto, em muitos casos a natureza pode se mostrar "irritada" em virtude abusos do homem.

Entretanto, mesmo gozando da autonomia que lhes é própria, as leis da natureza, bem como nossa história coletiva e particular, estão, em última análise, nas mãos de Deus. E Deus, conforme ensinava sabiamente Santo Agostinho, jamais permitiria o mal se não pudesse dele tirar um bem maior. Confiemos!

Em termos bem concretos, nossa atitude, num momento dramático como este, não deve ser a de querer decifrar os insondáveis desígnios reservados à história, mas, sim, a atitude de ajudar efetivamente os que sofrem, confiando sempre em Deus. Confiar como se tudo dependesse de Deus e trabalhar como se tudo dependesse de nós - eis o grande princípio norteador da vida cristã.

Obs.: Dom Gil, Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora, determinou que seja feita, em todas as paróquias da arquidiocese, nas Missas dos dias 23 e 24 de janeiro, uma coleta especial em favor do povo do Haiti. Colaboremos! Dom Gil celebrou, no dia 14 de janeiro, na Catedral, uma Missa pelas vítimas do terremoto, de modo particular pelo descanso eterno da Dra. Zilda Arns, a quem expressamos nosso reconhecimento pela fé que demonstrava e pela obra social que desenvolvia.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Ponderações sobre o modo de dar ou receber a sagrada comunhão eucarística

Ao receber na mão o Corpo de Cristo, deve-se estender a palma da mão, e não pegar o sagrado Corpo com a ponta dos dedos.  1) Há quem acuse de arqueologismo litúrgico a atual praxe eclesial de dar ou receber a comunhão eucarística na mão. Ora, deve-se observar o seguinte: cada época tem suas circunstâncias e sensibilidades. Nos primeiros séculos, a praxe geral era distribuir a Eucaristia na mão. Temos testemunhos, nesse sentido, de Tertuliano, do Papa Cornélio, de S. Cipriano, de S. Cirilo de Jerusalém, de Teodoro de Mopsuéstia, de S. Agostinho, de S. Cesário de Arles (este falava de um véu branco que se devia estender sobre a palma da mão para receber o Corpo de Cristo). A praxe de dar a comunhão na boca passou a vigorar bem mais tarde. Do  concílio de Ruão (França, 878), temos a norma: “A nenhum homem leigo e a nenhuma mulher o sacerdote dará a Eucaristia nas mãos; entregá-la-á sempre na boca” ( cân . 2).  Certamente uma tendência de restringir a comunhão na mão começa já em tempos pa

Considerações em torno da Declaração "Fiducia supplicans"

Papa Francisco e o Cardeal Víctor Manuel Fernández, Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé Este texto não visa a entrar em polêmicas, mas é uma reflexão sobre as razões de diferentes perspectivas a respeito da Declaração Fiducia supplicans (FS), do Dicastério para a Doutrina da Fé, que, publicada aos 18 de dezembro de 2023, permite uma benção espontânea a casais em situações irregulares diante do ordenamento doutrinal e canônico da Igreja, inclusive a casais homossexuais. O teor do documento indica uma possibilidade, sem codificar.  Trata-se de uma benção espontânea,  isto é, sem caráter litúrgico ou ritual oficial, evitando-se qualquer semelhança com uma benção ou celebração de casamento e qualquer perigo de escândalo para os fiéis.  Alguns católicos se manifestaram contrários à disposição do documento. A razão principal seria a de que a Igreja não poderia abençoar uniões irregulares, pois estas configuram um pecado objetivo na medida em que contrariam o plano divino para a sex

Absoluto real versus pseudo-absolutos

. Padre Elílio de Faria Matos Júnior  "Como pensar o homem pós-metafísico em face da exigência racional do pensamento do Absoluto? A primeira e mais radical resposta a essa questão decisiva, sempre retomada e reinventada nas vicissitudes da modernidade, consiste em considerá-la sem sentido e em exorcisar o espectro do Absoluto de todos os horizontes da cultura. Mas essa solução exige um alto preço filosófico, pois a razão, cuja ordenação constitutiva ao Absoluto se manifesta já na primeira e inevitável afirmação do ser , se não se lança na busca do Absoluto real ou se se vê tolhida no seu exercício metafísico, passa a engendrar necessariamente essa procissão de pseudo-absolutos que povoam o horizonte do homem moderno" (LIMA VAZ, Henrique C. de. Escritos de filosofia III. Filosofia e cultura. São Paulo: Loyola, 1997). Padre Vaz, acertadamente, exprime a insustentabilidade do projeto moderno, na medida em que a modernidade quer livrar-se do Absoluto real, fazendo refluir