Pular para o conteúdo principal

Quem é Jesus?

.
Padre Elílio de Faria Matos Júnior
.
“Jesus não era Espártaco, que era um guerreiro em luta por uma libertação política, como Barrabás ou Bar-Kochba. Aquilo que Jesus – ele mesmo morto na cruz – tinha trazido era algo totalmente distinto: o encontro com o Senhor dos senhores, o encontro com o Deus vivo [...]” (Bento XVI, Encíclica Spe Salvi, n.4).

Desde o século XVIII, a crítica não tem dado descanso à imagem de Jesus. Afinal, quem foi Jesus? Pergunta, na verdade, importantíssima. Aos olhos de muitos, a imagem tradicional de Jesus, do Jesus Filho de Deus encarnado e Redentor do gênero humano, tal como a fé da Igreja a concebe, já não deveria ser levada em conta. Seria uma invenção da Igreja.

No lugar do Cristo segundo a fé da Igreja, colocaram “desde o revolucionário anti-romano, que trabalha pela queda dos poderes constituídos e fracassa, até o manso moralista, que tudo aprova e que assim, de um modo inconcebível, acaba ele mesmo por moralmente se afundar” (RATZINGER, Joseph. Jesus de Nazaré. Editora Planeta, 2007). Não é difícil perceber que as diversas reconstruções da imagem de Jesus são muito mais fotografias de seus autores e de suas ideologias do que um acesso ao real mistério do Filho de Deus. Aliás, pode-se hoje asseverar que a imagem do Cristo segundo a fé da Igreja é muito mais compatível com as exigências de uma verdadeira crítica do que as pretensas reconstruções que pululam desde, pelo menos, o século XVIII.

A figura histórica de Jesus de Nazaré não pode ser suficientemente abordada sem levar em conta a sua singularíssima relação com o Pai. Sem a pronfunda religiosidade que lhe era característica, não se pode entender Jesus de Nazaré. Esse é o primeiro fato histórico que uma crítica sadia deve reconhecer. O acréscimo da fé não é gratuito, mas está em conformidade com o que a crítica histórica pode colher de Jesus, ultrapassando-a. Pela fé, vemos em Jesus o Filho de Deus feito homem. A ressurreição, que é um fato  constatável pelos seus efeitos, é o grande sinal da divindade do filho de Maria.

Jesus, ensina Bento XVI em conformidade com a Tradição da Igreja guiada pelo Espírito, é aquele que nos proporciona um encontro autêntico com o Deus vivo, e isso por ser ele mesmo Deus que assume a natureza do homem e permanece fiel ao Pai até a morte de cruz. Ele é o ponto de encontro entre Divindade e humanidade. É ele, portanto, quem nos traz a grande esperança da realização definitiva do Reino de Deus, cuja potência manifestou-se na sua ressurreição ao terceiro dia.

Nem revolucionário político ou social, nem moralista iluminado. Jesus é quem nos traz Deus. Nele, Deus se apresentou com o rosto humano para que o homem atinja um rosto divino. Nada melhor do que professar com a Igreja a reta fé a respeito de Jesus, o Cristo de Deus, para afastar as ideologias que pretendem manipular sua imagem.

Comentários

  1. legal. deu uma nova configurada no blog. ficou mais "clean". Gostei do novo layout

    ResponderExcluir
  2. Prezado Fabiano,
    Muito obrigado. Continuemos firmes na luta!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Maria: tipo da Igreja, modelo na ordem da fé e da caridade e nossa mãe

Resumo do texto “Maria, tipo da Igreja, modelo na ordem da fé e da caridade e nossa mãe” – Pe. Elílio de Faria Matos Júnior ⸻ 1. Introdução O artigo propõe refletir sobre o mistério de Maria à luz do capítulo VIII da Lumen Gentium , mostrando-a como tipo (figura, exemplar) da Igreja, fundamentada em sua fé e caridade como resposta à graça divina. Nessa condição, Maria é colaboradora singular da salvação e mãe dos discípulos de Cristo e da humanidade. ⸻ 2. Maria, figura da Igreja No Concílio Vaticano II, havia duas tendências:  • Cristotípica: via Maria como figura de Cristo, acima da Igreja.  • Eclesiotípica: via Maria como figura da própria Igreja. Por pequena maioria, o Concílio optou por tratar Maria dentro da constituição sobre a Igreja, mostrando que ela deve ser compreendida a partir da comunidade dos redimidos. Assim, Maria pertence à Igreja como seu membro mais eminente, e não se coloca fora ou acima dela. Antes do Concílio, a mariologia frequentemente fazia paralelos ...

Considerações em torno da Declaração "Fiducia supplicans"

Papa Francisco e o Cardeal Víctor Manuel Fernández, Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé Este texto não visa a entrar em polêmicas, mas é uma reflexão sobre as razões de diferentes perspectivas a respeito da Declaração Fiducia supplicans (FS), do Dicastério para a Doutrina da Fé, que, publicada aos 18 de dezembro de 2023, permite uma benção espontânea a casais em situações irregulares diante do ordenamento doutrinal e canônico da Igreja, inclusive a casais homossexuais. O teor do documento indica uma possibilidade, sem codificar.  Trata-se de uma benção espontânea,  isto é, sem caráter litúrgico ou ritual oficial, evitando-se qualquer semelhança com uma benção ou celebração de casamento e qualquer perigo de escândalo para os fiéis.  Alguns católicos se manifestaram contrários à disposição do documento. A razão principal seria a de que a Igreja não poderia abençoar uniões irregulares, pois estas configuram um pecado objetivo na medida em que contrariam o plano div...

A autoridade papal fica de pé

O episódio ocorrido na noite de Natal deste ano na Basílica de São Pedro em Roma é, de certa forma, um símbolo dos tempos atuais. O Papa, Vigário de Nosso Senhor Jesus Cristo na Terra, cai. A mitra, símbolo de sua autoridade, rola no chão. A férula, que representa a sua missão de pastor universal, é derrubada pelo homem moderno, desorientado, confuso e como que fora-de-si. Louca ou não, a jovem de 25 anos que provocou o incidente bem representa o mundo de hoje, que joga por terra a autoridade e as palavras do Romano Pontífice, que, na expressão da grande Santa Catarina de Siena, é «o doce Cristo na Terra». A jovem é louca? Não sei. Mas sei que o é, e muito, o mundo que rejeita Deus e o seu Cristo para abraçar o vazio e caminhar nas trevas. Bento XVI se ergue rápido e continua seu caminho. Celebra a Santa Missa, que é o que há de mais sublime sobre a face da Terra, rende o verdadeiro culto a Deus e conserva-se em seu lugar, como pastor colocado à frente do rebanho pelo Pastor Eterno, ...