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Encíclica SPE SALVI: um ano depois

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Um ano depois de sua publicação, ocorrida aos 30 de novembro de 2007, cabe-nos perguntar: Quais são os frutos da grande encíclica de Bento XVI, a Spe salvi? Sem dúvida, a encíclica semeou a alegria da existência cristã, confirmando nos corações a esperança que não decepciona, e, nesse sentido, tem produzido muitos frutos, ainda que sem alardes.
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Entretanto, creio que os pastores bem como os teólogos e agentes de pastoral ainda não deram à encíclica o seu devido lugar na Igreja. Isso porque as grandes questões tratadas no texto pontifício não foram suficientemente levadas em consideração na reflexão teológica e na pastoral. Mereceriam maior atenção e destaque. Não podemos esquecer que a Spe salvi é uma pérola teológica e, para além dos legítimos debates e divergências de escolas teológicas, reflete o genuíno pensamento da Igreja, isto é, o pensamento de Cristo.

Eis algumas das grandes questões ou pontos salientes apresentados à reflexão pela encíclica:

a) “A ‘redenção’, a salvação, segundo a fé cristã, não é um simples dato de fato. A redenção é-nos oferecida no sentido de que nos foi dada a esperança, uma esperança fidedigna, graças à qual podemos enfrentar o tempo presente” (n.1). Sim, a salvação não está ainda realizada em sua plenitude. Os “novos céus e nova terra” ainda não existem de fato. No entanto, pela esperança já possuímos, de algum modo, o que está reservado para o futuro. Desse modo, vemos a irrenunciável importância da esperança, virtude teologal, na vida cristã. Sem ela, só veríamos o presente e as possibilidades humanas, que são limitadas e falíveis. Fique-se claro que, sé é coisa do futuro, a salvação entra, de certo modo, no tempo presente em virtude da esperança que nos foi dada e é alimentada em nós pela graça. Os cristãos somos do futuro, mas o futuro é, de algum modo, antecipado pela esperança dada irreversivelmente em Cristo. Assim, o Evangelho, ao nos garantir a esperança, proporciona-nos a coragem para enfrentar o custoso tempo presente e, desse modo, não se refere apenas àquilo que se pode saber, mas é uma comunicação que gera fatos e muda a vida. “Quem tem esperança vive diversamente; foi-lhe dada uma vida nova” (n.2). A afirmação de que pela esperança possuímos no tempo presente algo daquilo que está reservado para o futuro repele dois erros fundamentais: 1) O erro do encarnacionismo, segundo o qual a salvação é coisa deste mundo; essa posição confunde a salvação com o progresso humano ou com o “mundo melhor”, e, assim, desconsidera que o Reino de Deus é transcendente a todas as realidades naturais e humanas. 2) O erro do apocaliptismo, posição que defende da idéia de que a salvação é de tal modo transcendente que nada tem que ver com as coisas deste mundo; está totalmente separada do tempo presente e da história do mundo.

b) “Jesus não era Espártaco, que era um guerreiro em luta por uma libertação política, como Barrabás ou Bar-Kochba. Aquilo que Jesus – ele mesmo morto na cruz – tinha trazido era algo totalmente distinto: o encontro com o Senhor dos senhores, o encontro com o Deus vivo [...]” (n.4). Desde o séc. XVIII, a crítica não tem dado descanso à imagem de Jesus. Afinal, quem foi Jesus? Pergunta, na verdade, importantíssima. Aos olhos de muitos, a imagem tradicional de Jesus, do Jesus Filho de Deus encarnado e Redentor do gênero humano, tal como a fé da Igreja a concebe, já não deveria ser levada em conta. Seria uma invenção da Igreja. No lugar do Cristo segundo a fé da Igreja, colocaram “desde o revolucionário anti-romano, que trabalha pela queda dos poderes constituídos e fracassa, até o manso moralista, que tudo aprova e que assim, de um modo inconcebível, acaba ele mesmo por moralmente se afundar” (RATZINGER, Joseph. Jesus de Nazaré. Editora Planeta, 2007). Não é difícil perceber que as diversas reconstruções da imagem de Jesus são muito mais fotografias de seus autores e de suas ideologias do que um acesso ao real mistério do Filho de Deus. Aliás, pode-se hoje asseverar, resguardada a limitação própria da crítica histórica, que a imagem do Cristo segundo a fé da Igreja é muito mais compatível com as exigências de uma verdadeira crítica do que as pretensas reconstruções que pululam desde, pelo menos, o sec. XVIII. A figura histórica de Jesus de Nazaré não pode ser suficientemente abordada sem levar em conta a sua singularíssima relação com o Pai. Jesus, ensina Bento XVI em conformidade com a Tradição guiada pelo Espírito, é aquele que nos proporciona um encontro autêntico com o Deus vivo, e isso por ser ele mesmo Deus que assume a natureza do homem e porque, como homem, permanece fiel ao Pai até a morte de cruz. Ele é o ponto de encontro entre Divindade e humanidade. É ele, portanto, quem nos traz a grande esperança da realização definitiva do Reino de Deus, cuja potência manifestou-se na sua ressurreição ao terceiro dia. Nada melhor do que professar com a Igreja a reta fé a respeito de Jesus para afastar as ideologias que pretendem manipular sua imagem.

c) “Chegar a conhecer Deus, o verdadeiro Deus: isto significa receber esperança” (n.3). O esteio da esperança, daquela grande esperança que não decepciona, é a fé em Deus, no Deus verdadeiro. O homem não vive sem esperanças, e são muitas as esperanças que nos impulsionam a vida. No entanto, não pode faltar aquela esperança maior, sem a qual nenhuma outra esperança teria sentido, isto é, não pode faltar a esperança de que, no final, nossa existência não termina no vazio, uma vez que, apesar de tudo, a vida do homem está nas mãos de um Deus que é Inteligência e Amor. “Não são os elementos do cosmo, as leis da matéria que, no fim das contas, governam o mundo e o homem, mas é um Deus pessoal que governa as estrelas, ou seja, o universo; as leis da matéria e da evolução não são a última instância, mas razão, vontade, amor: uma Pessoa” (n.5). Só o conhecimento do Deus verdadeiro, proporcionado por Cristo Jesus, pode nos libertar da escravidão da necessidade cega das leis naturais; esse conhecimento nos ensina que, por detrás dessas leis, está o Senhor soberanamente livre, que tudo criou e dispõe para a salvação do homem. Daí que a prioridade de toda ação pastoral deve consistir, menos em elaborar estratégias, projetos e planos, mais em proporcionar ao homem de nosso tempo um encontro autêntico com Jesus Cristo, o revelador, sem o qual andamos “sem esperança e sem Deus no mundo” (Ef 2,12). A Igreja não acontece tanto ali onde se organiza ou se planeja, mas antes onde a aventura da fé, que gera em nós a esperança maior, é vivida em toda sua intensidade.

d) “[...] no fundo, queremos uma só coisa, a ‘vida bem-aventurada’, a vida que é simplesmente vida, pura ‘felicidade’”(n.11). O Papa cita Santo Agostinho, que, em sua carta a Proba, reconhece que a felicidade é a grande meta do homem. Já o grande filósofo grego Aristóteles constatava que a felicidade é o bem para o qual tendemos. O homem deseja ser feliz. Ora, o que o Deus de Jesus Cristo nos promete é exatamente a felicidade completa, a vida verdadeira, que é também chamada de vida eterna. A vida eterna, a respeito da qual pouco podemos dizer, não consiste numa enfadonha e interminável sucessão de dias do calendário – isso não seria desejável. Aproximamo-nos do que é a vida eterna quando, superando a temporalidade que nos limita, abrimo-nos à universalidade da verdade, do bem e do belo. A vida eterna é “algo parecido com o instante repleto de satisfação, em que a totalidade nos abraça e nós abraçamos a totalidade. Seria o instante de mergulhar no amor infinito, no qual o tempo – o antes e o depois – já não existe” (n.12). É vida absorta no oceano infinito do amor e da beleza divina. Nosso modo atual de fazer pastoral peca muito, a meu ver, por não favorecer muitas vezes uma experiência do Deus de Jesus Cristo que suscite em nós uma autêntica “paixão” pela vida eterna, pela vida totalmente mergulhada no mistério divino. A verdadeira esperança cristã é a de possuí-la um dia sem limitações.

e) “Esta vida verdadeira, para a qual sempre tendemos, depende do fato de se estar na união existencial com um ‘povo’ e pode realizar-se para cada pessoa somente no âmbito deste ‘nós’” (n.14). A esperança cristã não é individualista. É uma esperança que diz respeito a cada um de nós em particular, mas nem por isso é individualista. A vida nova, plena de esperança, que é gerada pela fé, recebemo-la da comunidade de fé, do “nós” da Igreja, que perpetua, no tempo e no espaço, a memória atuante de Cristo. Ademais, essa mesma fé impulsiona-nos a realizar o êxodo da prisão do “eu” e a promover a caridade. O amor de Deus leva o homem a abraçar o mundo. “O fato de estarmos em comunhão com Jesus Cristo implica-nos no seu ser ‘para todos’, fazendo disso o nosso modo de ser” (n.28). Assim, a salvação é algo que, atingindo a cada um em particular, derrama-se a partir de cada qual em favor da comunidade e do mundo. Este é verdadeiramente edificado, nas limitações do tempo presente, pelas almas que recebem a vida nova do amor e da esperança, e “nenhuma estruturação positiva do mundo é possível nos lugares onde as almas se brutalizam” (n.15). Bento XVI nos ensina que não basta reformar as estruturas do mundo para melhorá-lo; é preciso, antes, reformar os corações. Para mudar o mundo é preciso mudar o homem, e não se pode mudar o homem a partir de fora. Nesse sentido, Karl Marx merece uma contundente crítica do Papa por seu materialismo: “O seu verdadeiro erro é o materialismo: de fato, o homem não é só o produto de condições econômicas nem se pode curá-lo apenas do exterior criando condições econômicas favoráveis” (n.21). Corações abrasados pela esperança são os que verdadeiramente transfiguram o mundo!

f) “É preciso que, na autocrítica da idade moderna, conflua também uma autocrítica do cristianismo moderno, que deve aprender sempre de novo a compreender-se a si mesmo a partir das próprias raízes” (n.22). A encíclica convida a Modernidade a fazer uma autocrítica. Por Modernidade entende-se a nova mentalidade instaurada na Civilização Ocidental a partir das filosofias da subjetividade e da Revolução Científica e que encontra seu auge no Iluminismo (séc. XVIII) e na Revolução Industrial. A Modernidade consiste, em grandes linhas, no estabelecimento da razão e da liberdade humanas como fonte última de significação e fundamento da civilização. A razão moderna deveria garantir o progresso da civilização rumo ao “ótimo”, a fim de estabelecer, neste mundo, aquilo que outrora era reservado ao transcendente Reino de Deus prometido por Jesus, isto é, o paraíso, o reino da liberdade. Assim, o projeto moderno consiste no fato de a razão humana tomar para si a tarefa titânica de instaurar um paraíso terrestre. O reino da liberdade viria, desse modo, do homem. Com isso, o Reino de Deus é substituído pelo reino do homem. Não que se tenha deixado totalmente de crer no Reino de Deus, mas este, diante das promessas da modernidade, é simplesmente preterido, relegado para o “outro mundo”, e, assim, deixa de iluminar as realidades terrestres. A fé ficou restrita ao âmbito do privado apenas, e o Cristianismo foi perdendo sua incidência na formação e construção da civilização. Não se negam os incontáveis benefícios trazidos pela Modernidade no âmbito da ciência e da técnica. A autocrítica que a Modernidade é convidada a fazer refere-se à promessa feita de progresso e instauração do paraíso terrestre a partir da razão e liberdade humanas postos como fundamento. Ora, o homem permanece sempre homem, esclarece o Papa; isto é, o homem permanece sempre capaz, a um só tempo, do bem e do mal. A ambigüidade está inscrita nas possibilidades humanas. Assim, a razão e a liberdade humanas não podem arvorar-se como fundamento. Seria colocar a ambigüidade como fundamento. Ademais, a razão, para ser ela mesma, não pode fechar-se em si, no círculo de sua finitude. A razão é constitutivamente aberta à Transcendência, e recebe sua orientação das luzes que vêm do Ser e também das forças salvíficas da fé. Razão e fé não estão em relação antitética. A fé cristã preza tanto a razão que a vitória sobre a irracionalidade é também um de seus propósitos. A razão, ao render-se à fé, não perde nada do que lhe é próprio, mas encontra orientação segura para as suas grandes buscas. De igual modo, a liberdade não pode nunca desvincular-se do Bem, que lhe é transcendente. O que o Papa diz com muita lucidez intelectual é que o homem não pode nunca instaurar um paraíso terrestre, como pretendeu a Modernidade. A promessa de um paraíso neste mundo é falsa. A ordenação das coisas e da sociedade, feita uma vez, não basta para garantir o reino da paz e da liberdade perfeitas. Essa ordenação deve ser tarefa jamais concluída, retomada por cada geração, pois o homem permanece sempre homem, permanece sempre entregue à tarefa de empregar bem sua razão e educar adequadamente sua liberdade. “Visto que o homem permanece sempre livre e dado que a sua liberdade é também sempre frágil, não existirá jamais neste mundo o reino do bem definitivamente consolidado. Quem prometesse o mundo melhor que duraria irrevogavelmente para sempre, faria uma promessa falsa; ignora a liberdade humana” (n.24). O Cristianismo deve fazer também uma autocrítica, pois, não raro, certas tendências cristãs modernas, enlevadas pelas promessas da Modernidade, quase que reduziram o transcendente Reino de Deus a um imanente reino do homem, a valores terrestres apenas, a um vago reino de Deus sem Deus, e o Evangelho, para muitos, passou a ser um evangelho do homem e pelo homem. Ora, o homem não pode ser redimido por si mesmo. Não são a razão e liberdade humanas entregues a si mesmas que hão de salvar o mundo. Apesar das grandes contribuições da ciência, não é ela que redime o homem. “O homem é redimido pelo amor. Isto vale já no âmbito deste mundo. Quando alguém experimenta na sua vida um grande amor, conhece um momento de «redenção» que dá um sentido novo à sua vida. Mas, rapidamente se dará conta também de que o amor que lhe foi dado não resolve, por si só, o problema da sua vida. É um amor que permanece frágil. Pode ser destruído pela morte. O ser humano necessita do amor incondicionado. Precisa daquela certeza que o faz exclamar: «Nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor» (Rom 8,38-39). Se existe este amor absoluto com a sua certeza absoluta, então – e somente então – o homem está «redimido», independentemente do que lhe possa acontecer naquela circunstância. É isto o que se entende, quando afirmamos: Jesus Cristo «redimiu-nos». Através d'Ele tornamo-nos seguros de Deus – de um Deus que não constitui uma remota «causa primeira» do mundo, porque o seu Filho unigênito fez-Se homem e d'Ele pode cada um dizer: «Vivo na fé do Filho de Deus, que me amou e Se entregou a Si mesmo por mim» (Gal 2,20)” (n.26). O encontro com o Deus de Jesus Cristo suscita em nós a grande esperança, que, inclusive, desafia o maior inimigo do homem, a morte: “Ó morte, onde está tua vitória?” (1Cor 15,55).

Poderíamos ter apontado outros pontos de reflexão. Não o fizemos, não porque os julgamos de menor importância, mas devido aos limites que quisemos impor a estas linhas. Que a grande esperança que Cristo nos trouxe ao nos trazer o Deus vivo e verdadeiro seja a stella rectrix de nossa caminhada neste mundo rumo ao Céu. Possa a grande encíclica Spe salvi ser lida, relida, meditada e aplicada em nossa vida cristã. Ela ajuda-nos a ver que a vida humana tem um significado transcendente. Nela podemos beber da água pura e cristalina que jorra da vida de Cristo e da sua Igreja!




Padre Elílio de Faria Matos Júnior
Arquidiocese de Juiz de Fora

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