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Mostrando postagens de 2021

Apocalipse e linguagem apocalíptica

A linguagem apocalíptica está na Bíblia, mas não só. Fora da Bíblia, há escritos judaicos tardios (intertestamentários) que a utilizam (como o “Segundo Livro de Enoque) e também textos cristãos apócrifos (como o “Apocalipse de Pedro”). Na Bíblia, temos a linguagem apocalíptica em trechos veterotestamentários do livro Daniel (que confirma uma tendência de substituição do profetismo pelo apocaliptismo já presente em Ezequiel e no 2º e 3º Isaías), em trechos evangélicos (principalmente Mt 24) e no livro do Apocalipse. Essa linguagem surgiu no povo judeu nos últimos tempos anteriores a Cristo. Na época de Jesus havia movimentos apocalípticos e Jesus mesmo terá tido uma veia apocalíptica, embora certos estudiosos digam que não fosse um apocalíptico exaltado.   O característico do gênero apocalíptico é a revelação (a palavra “apocalipse” quer dizer revelação) do segredo divino sobre a história, a conflagração deste mundo e o advento de um novo mundo de justiça instaurado por Deus. As imagens

Ser e ente - uma nota sobre o pensamento de Heidegger

Ser e ente. Heidegger acusa a tradição filosófica ocidental de ter-se esquecido do ser para falar somente do ente. O ente é o que é, o que está aí. Uma pedra, uma árvore, um martelo… Tudo o que pertence ao mundo, tudo o que podemos usar, tudo o que podemos conhecer, tudo o que podemos fabricar… é ente. O ente tem um sentido delineado pela nossa visão, que pode ser utilitária ou teórica. No dia a dia estabelecemos uma relação utilitária com vários entes, como a escova, a porta, a lâmpada… As diversas ciências tratam teoricamente das diversas regiões de ente: a física trata do ente sensível móvel; a química trata do ente sensível cuja composição pode ser analisada e alterada; a matemática trata do ente quantitativo… A técnica manipula os entes, sempre buscando o maior resultado com o menor emprego de meios. A técnica serve aos interesses humanos, mas de tão importante que se tornou, passou a dominar o próprio homem. Vivemos hoje numa civilização que está submetida à técnica.   E a filoso

O Tudo e o nada. A mensagem mística de São João da Cruz

Quando diz que quem quiser possuir Tudo não deve querer possuir nada, o místico São João da Cruz não ensina a anulação do ego, como se isso fosse possível. Antes, ensina que a alma pode superar o ego, vivendo em outro nível de existência — a existência unida ao absoluto de Deus.   O ego não é eliminado, mas a pessoa deixa de identificar-se com o seu reduzido horizonte. Tudo o que o ego pensa, projeta, sente ou deseja no seu horizonte próprio, que é o horizonte espácio-temporal, é finito e caduco. O espaço não pode apresentar-nos um bem infinito nem o tempo um bem eterno. Finitude e caducidade são próprias do horizonte espácio-temporal. Quando o ego se move nesse horizonte sente-se à vontade, mas, ao fim e ao cabo, fica sempre desiludido e cheio de apreensões e tristezas. Ele não pode ter firme em suas mãos os bens que procura, porque são bens fugazes que o tempo destrói, nem encontra bem algum que o satisfaça, porque são bens finitos delimitados pelo espaço.   O ego deve deixar-se supe

Que mediação para o discurso teológico?

A teologia cristã, que encontrou sua expressão cientificamente elaborada no século XIII, construiu-se com o aparato conceitual da filosofia grega. Mas, se isso foi possível, foi porque a filosofia grega tinha já um caráter teológico.   O neoplatonismo, herdeiro das grandes ideias de Platão, concebe o todo do ser como um movimento necessário que descende do Princípio e a ele retorna. Se o Princípio é divino, divino também é o mundo, que Platão chamava de “Deus visível”, já que espelha o reflexo do Princípio.   O aristotelismo concebe o mundo como um conjunto harmonioso de substâncias movidas pela atração da Substância mais nobre e divina — o Primeiro Motor Imóvel. Não se concebe o cosmo sem referência última a esse divino Motor que sustenta os ciclos eternos das revoluções celestes e da geração e corrupção do mundo sublunar.   O estoicismo, embora não admitisse um Princípio transcendente ao próprio cosmo, no entanto reconhecia que este é regido por um Lógos — não pelo acaso — ou por uma

Grandes teses da filosofia tomista

Santo Tomás, doutor angélico. Sua inteligência, de tão penetrante, é comparável à dos anjos - O ato precede a potência em sentido absoluto.    - O que não for ato puro, será ato mesclado com potência.   - O ser “ut actus” é a perfeição das perfeições. Está para a essência como o ato para a potência.   - No ser finito, em que há ato mesclado com potência, essência e ato de ser se distinguem realmente, não porque sejam coisas separáveis, mas porque são princípios metafísicos irredutíveis entre si.   - Lá onde o ato for puro, a essência será o seu próprio ato de ser.   - A inteligência precede, em sentido absoluto, a vontade.   - Há na alma humana uma atividade (intelecto agente) que fornece os primeiros princípios, inderrogáveis, da ordem intelectual e moral (o princípio de não-contradição, de identidade… o princípio moral segundo o qual o bem deve ser feito e o mal, evitado). Elílio Júnior

O espírito e o ser

O espírito finito só pode ser entendido propriamente por referência analógica ao Espírito infinito. O Espírito infinito é o Ser perfeitíssimo em que há perfeita e real identidade entre o pensar e o ser em sua perfeição infinita. Essa ideia do Espírito infinito pode ser pensada, mas pode ser também demostrada. Que haja um Espírito infinito é demonstrado de diversas formas, entre as quais, pela necessidade de haver o Ato puro. Pelas exigências originárias, lógicas e ontológicas, do pensamento, o Ato deve preceder a potência, e o Ato puro deve preceder qualquer forma de ato mesclado com a potência. Existe, pois, o Espírito em que pensar e ser são um em atualidade pura e infinita.   Já no espírito finito não há identidade perfeita e real entre o pensar e o ser na sua perfeição infinita. O espírito finito no homem não possui realmente o ser em toda a sua riqueza. No entanto, há no seu ádito um tipo de presença do ser em sua universalidade transcendental . Se não fosse assim, o espírito