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Mostrando postagens de 2014

O que é o Catolicismo? - What is the Catholicism thing?

Robert Barron "O que é o Catolicismo? O que distingue o Catolicismo entre todas as filosofias, ideologias e religiões do mundo? Eu estou de acordo com o Bem-aventurado John Henry Newman, que disse que o 'grande' princípio do Catolicismo é a encarnação de Deus. O que isso significa? Significa que a 'Palavra de Deus' - a mente pela qual todo o universo foi criado - não permaneceu fechada do céu, mas, antes, entrou neste mundo ordinário de corpos, neste palco sujo da história, nesta nossa comprometida e lacrimosa condição: 'A Palavra se fez carne e armou a sua morada entre nós' (Jo 1,14): isso é o Catolicismo". A encarnação envolve verdades centrais concernentes a Deus e a nós. Se Deus se tornou humano sem deixar de ser Deus e sem comprometer a integridade da criatura, Deus não deve ser visto como um competidor do homem. Em muitos antigos mitos e lendas, figuras divinas como Zeus ou Dionísio entram nos negócios humanos precisamente por meio da ag

Contradição no sistema kantiano

Pe. Elílio de Faria Matos Júnior Como se sabe, o filósofo Immanuel Kant (séc. XVIII) empreendeu um enorme obra de crítica do conhecimento consignada na sua famosa Crítica da Razão Pura . Ele aí defendeu que somos aptos para conhecer cientificamente somente o que cai sob os nossos sentidos, ao qual de imediato a estrutura do eu penso aplica as suas formas a priori : espaço, tempo e categorias do entendimento, entre as quais a categoria de causalidade . Isso quer dizer que, para Kant, a causalidade (juntamente com as outras formas a priori ) não existe fora da mente ou nas coisas, mas é somente uma forma da mente, que aplico ao que me vem pelos sentidos. Assim, o que conhecemos não é simplesmente o que estava lá fora como já dado, já pronto. O dado puro não existe pra Kant. Nossa estrutura de conhecimento sempre filtra o que cai sob os sentidos através de suas formas a priori . O conhecimento, assim, para Kant, é fruto da nossa ação, isto é, da ação espontânea do nosso aparato cog

Rezar é preciso

Pe. Elílio de Faria Matos Júnior O tema da oração é de inegável importância para a vida humana. Os animais irracionais não rezam, mas o ser humano sim. Isso porque o homem é fundamentalmente aberto à Transcendência. Não se contenta com nada que é finito. E a oração é a elevação da alma, é o suspiro pelo Eterno, é o encontro com Deus. Uma das características das sociedades modernas é a secularização, que outra coisa não é senão um movimento de volta para o mundo. Voltar para o mundo, reconhecer-lhe a realidade e a beleza e valorizá-lo como convém não são em si mesmas atitudes más. O perigo está em se tornar prisioneiro do mundo, em agarrar-se em suas malhas finitas e perder a capacidade da ultrapassagem, da elevação, do olhar superior. Não devemos nunca esquecer o que disse São João da Cruz, grande místico e doutor da Igreja: “Um só pensamento do homem vale mais que todo o mundo; portanto, só Deus é digno dele”. A vida moderna, com todo o desenvolvimento científico-técnico de que ho

Fé e evolução

Pe. Elílio de Faria Matos Júnior A fé cristã é compatível com a compreensão do mundo em evolução? Sim, eu diria. A fé substancialmente não diz 'como' o mundo foi criado, mas que foi (é) criado. A evolução pode muito bem ser o modo pelo qual Deus cria o mundo. O que é incompatível com a fé é a afirmação de que o espírito seria um mero produto casual da matéria ou um "bolor casual na superfície da matéria", como diria Ratzinger. A evolução não exige que se afirme isso. Num quadro de compreensão evolutivo, a fé nos mandaria crer que, longe de ser um produto casual da matéria, o espírito, que se verifica no homem, é a meta da evolução e a matéria, a sua pré-história. Nesse sentido, o espírito é a grande obra criada por Deus, não algo simplesmente derivado da matéria.

Santo Agostinho

Pe. Elílio de Faria Matos Júnior Santo Agostinho viveu na tarda Antiguidade (séculos IV e V) e foi o primeiro grande pensador cristão. Conseguiu uma invejável síntese entre a fé da Igreja, transmitida pelos apóstolos, e as ideias fundamentais do platonismo ou neoplatonismo. Agostinho foi também o primeiro a pensar em primeira pessoa, isto é, soube envolver o seu «eu» concreto e suas inquietações na busca da verdade. Sua grande lição permanece válida: o mergulho na interioridade não é subjetivismo, mas comporta uma elevação à Transcendência – inferior infimo meo superior summo meo . No mais profundo da razão criada deixa seus sinais a Razão incriada, Fogo sempre vivo em que se acende constantemente o pensamento humano. Na atualidade, um grande estudioso e admirador de Agostinho é o papa emérito Bento XVI.

A confiança originária

Pe. Elílio de Faria Matos Júnior A confiança é originária. É uma posição originária em virtude da qual a minha visão de mundo apresenta uma direção fundamental. Escutar o apelo originário que me chama à confiança é escolher acreditar que não existo por acaso e que há um lugar reservado para mim; é escolher acreditar que o meu estar no mundo é mais do que o simples estar. Tal atitude pode ser o primeiro grande passo rumo à maturação daquela fé em um Deus pessoal, que cria o mundo, intervém na história e faz promessas de futuro que ultrapassam toda imaginação e todo desejo. De outro ponto de vista, todo aquele que crê no Deus pessoal anunciado pelo cristianismo cultiva a confiança originária que o faz ver que o universo não é uma mera extensão infinita e silenciosa, indiferente às vicissitudes humanas, mas uma casa ou um lar que nos abriga, ainda que numa perspectiva provisória em relação à nossa atual condição.

Liberdade vazia?

Pe. Elílio de Faria Matos Júnior A liberdade humana não é uma liberdade vazia nem deve ser entendida como tal. Ela se realiza no horizonte de sentido dado pela Razão criadora. Assim, o homem não é pura liberdade, não é liberdade indeterminada, mas é liberdade dotada de uma consistência ontológica, isto é, antes da liberdade ou concomitantemente a ela, existe um sentido ou uma orientação fundamental doado pelo Lógos divino. O horizonte de sentido não exclui a liberdade, mas a chama a realizar-se em conformidade com o que lhe é anterior e ganha expressão na natureza humana.

Páginas difíceis da Bíblia (15 junho 2014): Igreja e mundo

Sobre a metafísica

Padre Elílio de Faria Matos Júnior A metafísica tem como subjectum ou tema de estudo o ser enquanto ser. Mas o que significa a expressão ser enquanto ser ? Ser significa aquilo que é . Ser enquanto ser significa exatamente aquilo que é, numa perspectiva de totalidade . Só a metafísica estuda o ser em perspectiva de totalidade, isto é, o ser sem restrição alguma. Senão vejamos: todas as ciências, afora a metafísica, sempre estudam o ser segundo alguma restrição, nunca o ser sem restrição alguma. Um grande exemplo que se pode tomar é a física moderna: ela estuda o ser, mas se restringe ao aspecto móvel, experimentável e mensurável do ser, isto é, o ser natural. E se existir um âmbito do ser que não pertença àquilo que é móvel, experimentável e mensurável? Um âmbito do ser que não entre na categoria de ser natural? A física como tal jamais poderá responder se existe este âmbito de ser ou se tudo o que existe se restringe ao natural, que é móvel, experimentável e mensurável. O p

Páginas difíceis da Bíblia

Que é metafísica? Uma introdução

A questão sobre o Jesus histórico II

Padre Elílio de Faria Matos Júnior 2) Período pós-bultmanniano. A primeira fase da pesquisa sobre o Jesus histórico havia terminado com o reconhecimento da impossibilidade de se ter um acesso fidedigno à verdadeira fisionomia história de Jesus. Por isso, o teólogo protestante Rodolf Bultmann (1884-1976) ensinava que a história, na verdade, não tinha importância para a vida de fé (o que se conhece com o termo "fuga da história"). Bastava crer em Cristo tal como era anunciado no querigma e deixar-se transformar existencialmente por esse anúncio. Nesse sentido Bultmann se mostrava fiel ao fundador do protestantismo, Martinho Lutero, para o qual a fé era a única via de acesso ao conhecimento e à salvação ( sola fides ), e também deixava ver a sua opção pelo existencialismo, que, acima da verdade enquanto tal, coloca a decisão do sujeito, que no caso se traduzia assim: crê, muda de vida! Os discípulos de Bultmann, porém, não se acontentaram com a impostação do mestre, pois

A questão sobre o Jesus histórico

Padre Elílio de Faria Matos Júnior As pesquisas sobre o Jesus histórico conta com três períodos: 1) Período racionalista: surge no séc. XVIII e procura tirar a veste dogmática com a qual a Igreja haveria revestido Jesus. O Jesus verdadeiro seria um revolucionário (Reimarus) ou um moralista de corte iluminista (Renan), mas não o Messias ou o Filho de Deus (Wrede). O Cristo da fé seria apenas uma invenção da Igreja e era hora de combater o mito para fazer transparecer a realidade. Todavia, Albert Schweitzer (1875-1965) mostrou em um minucioso estudo que a pretensão de reconstruir o Jesus histórico não era legítima, pois o que resultava era uma criação artificial conforme a ideia preconcebida dos diversos autores. Em síntese, o dito "Jesus histórico" outra coisa não era senão uma figura criada à imagem e semelhança das ideias iluministas. A crítica de Schweitzer levou Rudolf Bultmann (1884-1976) a reconhecer que era impossível o acesso à história real do homem Jesus de