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Mostrando postagens de 2013

O ato do conhecimento

Padre Elílio de Faria Matos Júnior O ato do conhecimento consiste, segundo Santo Tomás, em que o cognoscente receba  em si  o conhecido . Mas tal recepção não pode consistir, evidentemente, em receber o ser mesmo do objeto conhecido, uma vez que o objeto conhecido deve permanecer na sua alteridade, no seu ser outro , e não pode ser simplesmente "assimilado" pelo sujeito cognoscente ou transformado nele. Assim, o que o sujeito recebe do objeto é a sua forma imaterial , que é o meio pelo qual ( id quo ) o objeto se dá a conhecer ao sujeito. Conhecer, pois, não significa assimilar, transformar ou dobrar o ser do objeto ao sujeito do conhecimento. Ao contrário, é um ato de sumo respeito, em que o objeto permanece no seu ser ser outro, embora seja recebido imaterialmente pelo sujeito. Sem a relação de alteridade não há conhecimento real. Se o objeto não permanecesse em sua transcendência ontológica em relação ao sujeito, não haveria senão uma criação do sujeito, não o c

A liturgia no pensamento de Bento XVI (Parte II)

Giles D. Dimock (Tradução: Pe. Elílio Júnior) O Missal de Paulo VI A reação de Ratzinger à introdução do Missal de Paulo VI foi, de certa maneira, negativa, mas não totalmente. A proibição do Missal de Pio V o entristeceu (na realidade, este Missal era apenas uma restauração do Missal do Rito Romano usado desde os tempos de São Gregório Magno). Ratzinger considerou tal evento como um ponto fraco na prática, e aqui já vemos uma antecipação do Motu Proprio que publicaria como Papa. Sustentava que muito de quanto devia ser preservado tivesse sido cancelado e que muitos tesouros tivessem desaparecido na nova liturgia criada por uma comissão, e frequentemente celebrada de modo descuidado e privo de qualidades artísticas. Por isso, quem critica a atual liturgia como banal em uma comunidade autocelebrativa não necessariamente é integralista. A crítica ratzingeriana diz respeito ao fato de que «a liturgia não é celebrada de modo que faça resplandecer o dado do grande mistério de

A liturgia no pensamento de Bento XVI (Parte I)

Giles D. Dimock (Tradução: Pe. Elílio Júnior) Bento XVI é apaixonado pela liturgia e a compreende  como aquela dimensão em que o nosso ser é assimilado ao Mistério divino da salvação; ele patrocinou tal visão durante o seu pontificado com escritos, com a pregação e com o seu magistério. A sua espiritualidade parece não só ter uma marca agostiniana, mas mostra também uma influência do originário movimento litúrgico alemão, favorecido em grande parte pelos beneditinos, em relação aos quais ele sempre teve uma especial veneração. Neste artigo, examinaremos o seu desenvolvimento litúrgico desde a sua juventude na Alemanha até o que ele realizou na cátedra de Pedro, pelo que somos todos agradecidos. A juventude O pensamento litúrgico de Bento XVI pode ser encontrado em grande parte na sua autobiografia «La mia vita», que lhe descreve a vida até a sua chegada em Roma. Ratzinger foi ainda mais introduzido aos santos mistérios quando os seus pais lhe deram de presente um missa

A verdade existe?

Padre Elílio de Faria Matos Júnior A inteligência humana está de tal modo orientada para a verdade que basta a mínima vontade de negá-la para que o homem se coloque diante de uma contradição que só pode ser superada admitindo-se a existência da verdade. Com efeito, quem nega que a verdade exista, pretende que a sua negação seja verdadeira , o que o coloca em uma contradição performativa, isto é, o que se diz é contraditado pelo ato de dizer. O conteúdo que se pretende expressar («não existe verdade») se coloca em contradição com o ato que o expressa, pois que tal ato pretende que o referido conteúdo seja verdadeiro.   Tal contradição não se reduz simplesmente a uma mera formalidade que nada acrescentaria à seriedade do pensamento. Para muitos, essa contradição pertenceria somente ao campo da lógica pura e quase nada diria a uma opção filosófica ou a uma visão de mundo. Deveria mesmo ser deixada de lado, pois, afinal, o establishment filosófico atual, seja ele h

O cristianismo e as religiões

Padre Elílio de Faria Matos Júnior A relação do cristianismo com as outras religiões é um tema a ser aprofundado hoje em dia, já que, dada a facilidade de comunicação e o encontro facilitado das diversas culturas, o pluralismo religioso torna-se, para o teólogo, um "fato teológico" a ser interpretado com base nos princípios arquitetônicos da Revelação em Cristo. Não se pode ignorar simplesmente que a maioria da humanidade não é cristã. Duas coisas devem ser evitadas, creio. Primeiro, o relativismo fácil , segundo o qual todas as religiões gozariam, em linha de princípio, de igual validade. No fundo, seriam todas modos diversos de falar do inefável (Deus). Tal postura admite como pressuposto que Deus é tão misterioso e afastado da linguagem humana que dele os homens podem falar somente por metáforas. Cada religião traduziria uma "figura" de Deus, e todas, em linha de princípio, teriam o mesmo valor. Outro pressuposto dessa postura, decorrente do primeiro, é

Extra Ecclesia nulla salus?

Padre Elílio de Faria Matos Júnior É possível que alguém se salve fora da Igreja católica? Sim, é possível que alguém se salve fora das estruturas visíveis da Igreja católica. Pio XII o ensinava ao condenar, em seu tempo, o exclusivismo eclesiológico que julgava não haver tal possibilidade. Deus quer a salvação de todas as pessoas e dispõe de meios só dele conhecidos para chegar ao coração de cada um. Ademais, a prece universal da Igreja pede ao Senhor a salvação de todos os povos. Mas então tanto faz pertencer ou não à Igreja católica?  Não. A Igreja, através dos Santos Padres, dos Concílios, dos Papas e dos grandes teólogos, sempre ensinou que devemos procurar a verdade religiosa, e, uma vez conhecida, abraçá-la de coração. Tal verdade foi confiada à Igreja católica, para que a conservasse e difundisse. Assim, não é indiferente pertencer ou deixar de pertencer à Igreja católica. Se existe uma verdade religiosa, eu não posso pensar e agir como se ela não existisse. O Concí

Carta Encíclica "Lumen fidei"

A Encíclica Lumen fidei , do Santo Padre Francisco, tem como um de seus principais objetivos mostrar que a fé é luz , cujos raios, ao atingir até mesmo as zonas obscuras da dor e da morte, são capazes de iluminar a existência humana de maneira nova e radical. Ter fé é participar do modo de ver de Jesus de Nazaré, ele que nos apresentou uma visão singular do mistério de Deus e do homem em relação com Deus. A encíclica, assim, ressalta a profunda ligação entre fé e verdade . Luz e verdade são correlativas, já que a luz - que permite ver - desvela a verdade diante dos nossos olhos. Se a fé é luz, ela desvela-nos a verdade. O Papa nos convida a deixarmo-nos tomar pela "verdade grande" trazida pela luz da fé, e isso num tempo em que o homem é tentado a não crer mais na verdade ou a crer apenas nas "verdades pequenas" da tecnologia.

Livro de Jó

Padre Elílio de Faria Matos Júnior Você sabe por que foi escrito o livro de Jó? Trata-se de um livro escrito entre o século V e III a.C., e tinha por principal objetivo questionar a teologia da sua época, segundo a qual o sofrimento é consequência direta do pecado pessoal de quem sofre. Em geral pensava-se que a fidelidade a Deus era recompensada nesta vida com bens materiais e familiares, com a boa saúde e a vida longa, e, ao contrário, a infidelidade, punida com o insucesso e as diversas desgraças da vida presente. Não se tinha ainda a fé na vida para além da morte. O livro apresenta Jó, um homem verdadeiramente fiel a Deus, indicado até mesmo como modelo para os anjos, que, no entanto, de repente e misteriosamente, é duramente provado pela perda de seus bens, de seus filhos, de sua saúde e de sua dignidade. Como entender uma coisa dessas? O livro relaciona o sofrimento do justo Jó a um mistério sobrenatural, a Satanás - este ainda não é o Satanás do inferno como o conhecemos

Papa Francisco

Pe. Elílio de Faria Matos Júnior O Papa Francisco já impressionou positivamente o mundo, e isso desde sua primeira aparição ao público como Bispo de Roma e Sumo Pontífice da Igreja Católica na sacada da Basílica de São Pedro no dia 13 de março, quando foi eleito pelos senhores cardeais. O que mais chamou a atenção foram sua simplicidade e humildade. Dirigiu-se ao povo com palavras simples, soube fazer uma brincadeira (“os cardeais me foram buscar no ‘fim do mundo’”), convidou o povo a rezar pelo Papa Emérito Bento XVI e para si mesmo. Concedida a primeira bênção, o povo se sentia acolhido por um doce pai. Percebi, na Praça de São Pedro, que houve um grande clima de simpatia. Francisco é um papa pioneiro em muitos sentidos. É o primeiro latino-americano e de todas as Américas. Creio que isso será decisivo no modo como vai conduzir seu ministério. A experiência da nossa América Latina, onde se concentram mais de 40% da população católica do mundo, certamente portará novos are

Relato do nosso encontro de padres com o Papa Bento XVI (14/02/2013) - Parte VII

Padre Elílio de Faria Matos Júnior O Papa nos falou ainda da Constituição Dei Verbum sobre a Palavra de Deus. Discutia-se na aula conciliar se a Sagrada Escritura pudesse conter todos os mistérios da fé necessários para a salvação. Trata-se da questão da “suficiência da Escritura”. O importante, recordou-nos Bento XVI, é que o Papa Paulo VI mandou compor 14 fórmulas para que os Padres escolhessem uma, em que se dizia que a Igreja não tira somente da Escritura a certeza do conjunto de sua fé. Assim foi feito, e a constituição, estabelecendo um liame estreitíssimo entre Escritura e Tradição, ensina que uma não pode ser considerada sem a outra nem paralelamente à outra. A Escritura, como livro reconhecido pela Igreja e livro para a Igreja, deve ser lida no seio da Tradição, que a berçou e que a acompanha. A Tradição, por sua vez, tem como regra fundamental do seu desenvolvimento a Escritura. Desse modo, a fé da Igreja não se reduz simplesmente a um livro ou a letras mortas de u

Relato do nosso encontro de padres com o Papa Bento XVI (14/02/2013) - Parte VI

Padre Elílio de Faria Matos Júnior O primeiro documento aprovado pelos Padres conciliares, recordou-nos Bento XVI, foi a constituição sobre a liturgia, a Sacrosanctum Concilium . Aos que dizem que o concílio não falou de Deus, Bento XVI mostrou que a liturgia é a grande obra de Deus e, portanto, tendo começado pela liturgia, o Vaticano II começava sob o primado de Deus, segundo a Regra de São Bento: “Nihil operi Dei praeponatur” . O Papa disse-nos que a liturgia, entendida como fonte de espiritualidade, estava um pouco distante da vida dos fiéis em geral. Os estudos histórico-teológicos, de recente, haviam mostrado as riquezas da liturgia, e havia, por assim dizer, um grande desejo, por parte de muitos, de que essas riquezas fossem comunicadas ao povo. Os missais que traziam para os fiéis uma tradução em língua vernácula dos textos latinos não eram suficientes para introduzir uma maior participação no ato litúrgico, que não podia reduzir-se à forma em que, muitas vezes, apenas o acó

Relato do nosso encontro de padres com o Papa Bento XVI (14/02/2013) - Parte V

Padre Elílio de Faria Matos Júnior Bento XVI falou das suas impressões pessoais acerca do evento conciliar, ele que o viveu em primeira pessoa, e deu indicações precisas sobre o seu significado. É impressionante como o Papa seja tão lúcido e penetrante na análise. Sem olhar em sequer um esquema, falou por mais de 40 minutos ininterruptos sobre o Vaticano II, citando datas, acontecimentos, teses, teólogos... Ele disse que a rejeição inicial dos esquemas (textos) que deviam ser aprovados e que tinham sido preparados pela Cúria Romana não foi um ato revolucionário. Aconteceu que alguns Padres simplesmente não queriam ser passivos, aprovando textos já prontos, mas tinham a percepção de que eram responsáveis pelo concílio. Sentiam-se na obrigação de ser sujeito do evento conciliar. Foi assim que se estabeleceu a “aliança renana”, se assim se pode dizer, uma confluência de Padres, cujos países eram banhados pelo Reno, e que fizeram com que o concílio fosse uma obra verdadeira dos Padres

Relato do nosso encontro de padres com o Papa Bento XVI (14/02/2013) - Parte IV

Padre Elílio de Faria Matos Júnior Finda a calorosa acolhida com uma saudação do Cardeal Vigário Agostino Vallini e com o canto “Tu es Petrus”, o Papa ancião pôs-se a falar. Em primeiro lugar, agradeceu a todos os sacerdotes pela oração em seu favor. Ele nos confessou, repetindo o que dissera Quarta-feira de Cinzas, que sentiu quase fisicamente a força das preces de todos. Disse ainda que ficaremos unidos, ele a nós e nós a ele, pela força da oração, ainda que, para o mundo, ele permaneça oculto. Bento XVI confessou também não haver preparado um grande e elaborado discurso para a ocasião, por causa da idade. Ele disse que teria lugar, em vez, uma “piccola chiaccherata”, isto é, uma conversa amigável sobre o Concilio Vaticano II e sobre como ele o viu. Sabe-se que Joseph Ratzinger participou da grande assembleia de Padres na qualidade de perito quando era ainda um muito jovem teólogo. Tinha apenas 35 anos de idade. A conversa sobre o concílio veio a propósito, uma vez que celebram

Relato do nosso encontro de padres com o Papa Bento XVI (14/02/2013) - Parte III

Padre Elílio de Faria Matos Júnior Depois de termos assistido ao vídeo da fala do Papa aos seminaristas, aproximava-se o esperado momento em que o Bento XVI chegaria ao grande salão. Enquanto não chegava, ensaiamos o “Tu es Petrus” para cantá-lo em sua presença. De repente, a grande tela que estava diante de nós sacerdotes e diáconos começou a mostrar o Papa ao vivo que caminhava, nos bastidores, rumo à “Aula Paolo VI”, onde nos encontrávamos. Estava acompanhado de seu secretário particular, o Mons. Gerog Gänswein, e usava uma bengala. Foi, passo a passo, aproximando-se da porta de entrada do palco do salão. De repente, ei-lo! Com seu jeito tímido que sempre o caracterizou, acenava para nós enquanto os aplausos prorromperam-se numa efusiva manifestação de carinho e não se interromperam sequer por um instante num prazo de dez minutos ou mais. Não queríamos para de aplaudir o Vigário de Cristo na terra! O homem que, por amor à Igreja e por desapego ao poder, retirar-se-ia para um

Relato do nosso encontro de padres com o Papa Bento XVI (14/02/2013) - Parte II

Padre Elílio de Faria Matos Júnior Depois de termos rezado junto do túmulo de São Pedro, seguimos para a “Aula Paolo VI”, onde o Papa, de costume, realiza suas catequeses de quarta-feira. Eu consegui ficar relativamente próximo do lugar onde Bento XVI deveria parar para falar ao clero. Estávamos todos na Aula às 10h45m e o Papa só devia chegar às 11h30m. Foi, então, que o Cardeal Vigário anunciou que, enquanto não desse a hora, assistiríamos ao vídeo da visita que Bento XVI fizera recentemente ao Seminário Romano, quando os seminaristas tiveram a oportunidade de ouvi-lo. Aos seminaristas o Papa falou coisas belíssimas. Cheguei a emocionar-me fortemente algumas vezes. Entre outras coisas, disse que devemos sentir a grande alegria de sermos católicos. Deus pensou em nós e nos quis católicos. Quis, em muitos casos, que nascêssemos em uma família católica, onde se respira o ar da fé. Assim, tivemos o dom de conhecer o rosto humano de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, que não é um entr

Relato do nosso encontro de padres com o Papa Bento XVI (14/02/2013) - Parte I

Padre Elílio de Faria Matos Júnior Às 9 horas da manhã, já estava eu na Praça São Pedro, aguardando o encontro do Papa Bento XVI com o clero de Roma. Embora eu seja do clero de Juiz de Fora, atualmente tenho a função de colaborador paroquial na Parrochia Gesù Bambino a Sacco Pastore, em Roma, e, portanto, estava me sentindo membro do clero romano (rsrsrs)! Ainda mais que o pároco me havia concedido o seu bilhete amarelo (exclusivo dos párocos) para que eu ficasse mais próximo de Sua Santidade. Pelas 10 horas, o Cardeal Vigário, Agostino Vallini, chegou ao Obelisco Vaticano, onde mais de 500 padres estavam reunidos, e começamos uma breve peregrinação rumo ao túmulo de São Pedro. Enquanto caminhávamos, cantávamos a Ladainha de Todos os Santos. Atravessamos a praça e entramos pela nave central da Basílica Vaticana. Chegados ao túmulo do Pescador, rezamos em uníssono pelas necessidades da Igreja e entoamos o “Tu es Petrus”, e me veio à mente o mistério dos planos de Deus, que, conf

Cardeal Newman: sem autoridade não há revelação

Newman foi um homem apaixonado pela verdade religiosa Padre Elílio de Faria Matos Júnior John Henry Newman, feito Cardeal por Leão XIII, tinha uma visão dinâmica da Tradição da Igreja, que é muito justa. Antes de ser recebido na Igreja católica, ele, estudando os Santos Padres, procurava ver no princípio de São Vicente de Lerins o critério objetivo para discernir a fé legada pelos apóstolos. Esse princípio diz assim: a reta fé da Igreja é aquela que é professada por toda parte, sempre e por todos ( quod ubique ,  quod   semper et quod ab omnibus ). Aos poucos, porém, Newman se deu conta de que esse princípio por si só não bastaria, pois seus estudos patrísticos lhe mostravam a complexidade das disputas teológicas dos primeiros séculos, e foi então que se deu conta de que deve existir na verdadeira Igreja de Jesus uma autoridade viva (que é serviço), assistida pelo Espírito, para discernir e propor, em meio às disputas, o vínculo da reta fé. Assim, Newman chegou à Igreja cató

Agressividade de alguns evangélicos contra a S. Igreja

Padre Elílio de Faria Matos Júnior Sabemos que o Concílio Vaticano II nos pede um espírito ecumênico e o cultivo de boas relações com os cristãos separados de Roma, a fim de que a atuação da graça possa encontrar em nossas boas disposições o terreno em que trabalhar para a união efetiva de todos aqueles que creem no Senhor Jesus como Deus e homem e Salvador do gênero humano, ele que nos revelou o rosto de Deus e o dinamismo que caracteriza a essência divina, o circuito de amor entre o Pai e o Filho, cuja expressão é o Espírito Santo. Santo Agostinho falava do Amante, do Amado e do Amor. O ecumenismo é de todo justificado, desde que não caia num falso irenismo. Devemos procurar corrigir muitos preconceitos e fazer um esforço para entender as razões da outra parte, sem que isso implique renunciar ao que deve ser mantido como fundamental. No plano das ações concretas, o ecumenismo encontra uma via bem mais larga e promissora, se bem que não possa faltar o diálogo em nível doutrina

É rico o Vaticano?

Padre Elílio de Faria Matos Júnior Certa vez, um amigo me perguntou o que se deveria responder àqueles que censuram a S. Igreja de ser muito rica, de modo especial o Vaticano. Eis um esboço de resposta: O Vaticano não é rico. Frequentemente as contas fecham no vermelho. O dinheiro que chega ao Papa é, em grande parte, proveniente de doações. Outra coisa são as obras de arte que estão em posse da Igreja no Vaticano, como os edifícios/arquitetura, estátuas, pinturas.... Essas tem um valor inestimável. Nem se pode calcular. Tais obras foram se acumulando ao longo da história da Igreja e hoje o Papa não pode se desfazer delas, nem seria desejável. Trata-se de bens culturais, que foram até proclamados "Patrimônio Comum da Humanidade". A arte que vemos nas posses da Igreja pelo mundo inteiro é um modo que o espírito e a religiosidade de nossos antepassados encontraram de louvar a Deus. Hoje se louva o dinheiro e o consumo desenfreado. Quais são hoje os mais belos pré

Homenagem a Santo Tomás

Santo Tomás de Aquino! Como esquecer esse santo e sábio italiano? Desde minha adolescência, quando tive meus primeiros contatos com sua obra, não pude deixar de admirá-lo. Cresceu entre nós uma verdadeira simpatia, um sentimento de conaturalidade. Lia seus escritos sobre as relações entre fé e razão e não podia não ficar estupefato. Sim, a estupefação é o motor da pesquisa e do estudo. Suas palavras, de algum modo, diziam claramente o que para mim era uma certeza, mas ainda envolta nas nuvens de uma intuição vivida, à procura de inteligência e clareza. Homenagem a Santo Tomás no seu dia - 28 d janeiro!

Fé e razão andam juntas

Quando o então Cardeal Ratzinger teve um colóquio acadêmico com o filósofo J. Habermas em 2004, ele sustentou que o conúbio entre fé e razão é sempre necessário. O Cristianismo se entende como uma religião que fez opção pela razão, e isso desde as suas origens. A razão é importante para impedir que a fé avance pelas vias do fundamentalismo e do exclusivismo, como se não houvesse nada de positivo fora de seu âmbito de irradiação. A fé, por sua vez, é importante para não deixar a razão se instrumentalizar por interesses ideológicos ou pessoais, proporcionando-lhe o direcionamento do olhar para o Bem infinito. Um exemplo de uma razão desviada é aquele vivido no século XX, com as duas Grandes Guerras. É também aquele do "capitalismo selvagem" e dos totalitarismos. Adorno e Horkheimer bem viram que o progresso alcançado pela razão foi também um progresso para o pior, da funda à bomba atômica. Fé e razão, mantendo-se na distinção, devem abrir-se uma à outra para que cada qual sej

São Roque (resumo da vida)

São Roque viveu no século XIV. Aos 20 anos, órfão de pai e mãe, os quais lhe haviam deixado uma grande fortuna em herança, decide doar seus bens e fazer-se peregrino rumo a Roma. No caminho, encontra inúmeros contagiados pela Peste Negra, aos quais presta assistência. Em Roma, reza todos os dias sobre o túmulo de São Pedro. De volta à cidade natal, Montpellier, depois de ter curado milagrosamente várias pessoas infectadas, acaba contraindo a doença e retira-se em uma floresta, aonde um cão lhe levava alimento. Curado, chega a Montpellier, mas, não reconhecido, é detido e preso, suspeito de espionagem. Sua família fora governante da cidade. Morre no cárcere, resignado e entregue totalmente a Deus. Sua festa é celebrada no dia 16 de agosto.