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Mostrando postagens de março, 2010

O mistério da Igreja

Padre Elílio de Faria Matos Júnior No mistério da Igreja resplandece sua beleza A Igreja é, antes de tudo, um mistério. Ela está associada de modo íntimo ao mistério de Jesus e, como tal, é parte integrante do plano salvífico de Deus para todos os povos. "Nela se revela o 'mistério' do desígnio eterno de Deus, que é o de dar à humanidade o acesso à salvação em Cristo e fazê-lo Chefe universal da Criação" [1]. Quando afirmamos ser a Igreja um mistério - mysterium -, intencionamos dizer que a Igreja ultrapassa seu aspecto visível e humano. Nela, no seu interior, habita a graça de Deus, que, conforme o desígnio divino, ordena-se à salvação, isto é, à santificação ou divinização dos homens. A Igreja, assim, é uma realidade humano-divina. A Igreja remonta ao próprio Jesus [2] . Jesus é seu divino fundador: esta é uma proposição constantemente afirmada pelo Magistério e confirmada pelo Concílio Vaticano II: "O mistério da santa Igreja manifesta-se na sua fun

A Semana Santa e nós

. Padre Elílio de Faria Matos Júnio r Com o Domingo de Ramos, os católicos iniciam as celebrações da chamada semana santa, cujo destaque recai sobre o tríduo pascal (quinta-feira santa, sexta-feira santa e sábado santo), quando a Igreja celebra a “passagem” - paixão, a morte e a ressurreição- de seu Senhor, Jesus Cristo. Os aleluias festivos da ressurreição são rompidos na noite do Sábado para o grande Domingo da Páscoa. Na verdade, os mistérios celebrados na semana santa dizem respeito a todo homem que vem a este mundo, sem exceção. A fé católica sustenta que a verdade sobre quem somos esclarece-se à luz da vida de Cristo, principalmente à luz de sua paixão morte e ressurreição. As questões fundamentais da existência humana – De onde vim? Para onde vou? Que devo fazer? Qual o sentido da vida? – recebem de Cristo as respostas que todo homem gostaria de ouvir. Fomos feitos por Deus e para Deus, e Jesus é quem nos revela a verdadeira face do Pai, fundamento da nossa existência. Um

Entre a morte e a ressurreição - Parte V (final)

. Padre Elílio de Faria Matos Júnior Parte V (final)  Corporeidade A tese que postula a ressurreição na morte implica, segundo Ratzinger, uma deslocalização do próprio conceito de ressurreição, uma destemporalização da criatura humana e, como conseqüência, uma desmaterialização próxima do gnosticismo [1] . A nova tese parece sucumbir ante o que pretendia negar: o dualismo. Diante, então, da pergunta inevitável – como será a corporeidade da ressurreição? -, Ratzinger diz que o material bíblico não se preocupa em determinar a exata natureza de tal corporeidade, mas assegura que “a idéia de que ao final, seja como for, a totalidade da criação de Deus entra na salvação resulta tão clara que qualquer sistematização reflexiva sobre o material bíblico tem de ter muito em conta essa idéia” [2] . Paulo e João oferecem elementos que, a um só tempo, mantêm-se à distância, quer do fisicismo ou naturalismo presente em muitos judeus da época, quer do espiritualismo gnóstico. Tal meio-termo pod

Ratzinger e Flores d'Arcais

Padre Elílio de Faria Matos Júnior Sobre o livro: RATZINGER, Joseph; D'ARCAIS, Paolo Flores. Deus existe? São Paulo: Planeta, 2009. De um lado, temos Joseph Ratzinger; de outro, Paolo Flores d’Arcais. São duas posições distintas sobre a natureza e o papel do Cristianismo e também sobre a natureza e o papel da razão humana. Os dois até chegam a admitir que possa e mesmo deva existir uma colaboração, no que diz respeito aos valores humanos mais básicos, entre cristão e não-cristão, entre crente e não crente. Admitem, assim, um campo de valores comuns a todos os homens. O simples fato de sermos homens coloca-nos a todos no âmbito comum de uma ampla gama de valores humanos, como a justiça, a honestidade, a solidariedade, a sinceridade, etc. Entretanto, esse acordo entre Ratzinger e Flores d’Arcais, embora importantíssimo para a convivência e a construção de uma sociedade digna do homem, é, a meu ver, em termos teóricos, muito frágil. A fundamentação que Ratzinger dá aos valores

Entre a morte e a ressurreição - Parte IV

Padre Elílio de Faria Matos Júnior Parte IV Alma e imortalidade da alma Do acima exposto, ficou claro que para Ratzinger é despropositado falar em ressurreição no momento da morte, pois que isso implicaria algo impossível: a entrada do homem na eternidade de Deus, em que passado e futuro estão atualmente presentes no único e eterno presente divino. O homem passa, sim, a uma outra dimensão ao deixar o bíos , mas não entra na eternidade. Ratzinger usou a expressão “tempo da memória” para falar dessa realidade nova. Isso, então, quer dizer que o homem está à espera da consumação de todas as coisas em Deus, está à espera da plenitude do Corpo de Cristo. Daí a verdade profunda da insistência das Sagradas Escrituras na ressurreição no “último dia”, no “fim dos tempos”. Ademais, dizer que o homem entra na eternidade por ocasião da morte implicaria uma desvalorização da história que está acontecendo e ainda não terminou. Uma pergunta agora surge: qual o elemento que garante a permanência d